O primeiro e até então único prêmio Nobel de Literatura concedido a um português não poderia ter sido para melhor obra. "Ensaio Sobre a Cegueira" é o livro homônimo que deu origem ao filme lançado em 2008. Um rico estudo sobre a personalidade humana e um mergulho filosófico e sociológico que analisa um grupo vivendo em quarentena enclausurados num hospital numa situação inusitada e bizarra: uma cegueira branca os acometeu e os impede de enxegar.
Fernando Meirelles foi a escolha mais acertada possivel para filmar tão desafiante painel de decadência humana. Meirelles é, sem dúvidas, o maior cineasta brasileiro da atualidade, ou ao menos, o mais bem quisto no cenário internacional. Responsável por obras extreamente ecléticas em temáticas e abordagens, a versatilidade de Meirelles pode ser conferida no jovem clássico "Cidade de Deus" e em "O Jardineiro Fiel" sendo este último o drama que deu o Oscar de atriz coadjuvante para Rachel Weisz (O Júri, 2003). Percebe-se que a linguagem dos filmes de Meirelles foge da direção do que é esquemático, trabalhando desde a complexa montagem de "Cidade de Deus", quanto o humor involuntário do documentário "Domésticas - O Filme", passando pela introspeção e pelo drama retratado em "O Jardineiro Fiel "e pelo adorável "Menino Maluquinho 2", também comandado por ele. No decorrer de "Blindness" pode-se observar mais uma outra faceta estilistica do diretor. Convém ressaltar, porém, que a direção de Meirelles é sóbria e sem grandes invencionismos, o que em certos momentos frusta o espectador que admira o surrealismo de diretores como David Linch, por exemplo.
Fernando Meirelles foi a escolha mais acertada possivel para filmar tão desafiante painel de decadência humana. Meirelles é, sem dúvidas, o maior cineasta brasileiro da atualidade, ou ao menos, o mais bem quisto no cenário internacional. Responsável por obras extreamente ecléticas em temáticas e abordagens, a versatilidade de Meirelles pode ser conferida no jovem clássico "Cidade de Deus" e em "O Jardineiro Fiel" sendo este último o drama que deu o Oscar de atriz coadjuvante para Rachel Weisz (O Júri, 2003). Percebe-se que a linguagem dos filmes de Meirelles foge da direção do que é esquemático, trabalhando desde a complexa montagem de "Cidade de Deus", quanto o humor involuntário do documentário "Domésticas - O Filme", passando pela introspeção e pelo drama retratado em "O Jardineiro Fiel "e pelo adorável "Menino Maluquinho 2", também comandado por ele. No decorrer de "Blindness" pode-se observar mais uma outra faceta estilistica do diretor. Convém ressaltar, porém, que a direção de Meirelles é sóbria e sem grandes invencionismos, o que em certos momentos frusta o espectador que admira o surrealismo de diretores como David Linch, por exemplo.
A primeira escolha que salta os olhos é a opção pelos tons claros na fotografia, perceptiveis desde a abertura do filme, onde o primeiro ser humano é surpreendido em pleno trânsito caótico de uma grande cidade com o fato de não conseguir enxergar mais nada. Para representar a metafórica cegueira branca que acomete a população, Meireles utiliza tons esbranquiçados e acinzentados em quase toda a projeção.
A narrativa rica e bastante complexa explicita o caratér poético e o famigerado estilo de escrita de Saramago, evitando sempre as amordaças das regras de pontuação e tratando de temas muito íntimos a natureza do animal-homem. A mensagem transmitida após o subir dos créditos é clara, porém, não obvia, exigindo do roteirista ainda desconhecido Don mcKllar um trabalho arriscado para escapar do didatismo, mas também do distanciamento. Exige-se também de Meirelles escolhas funcionais a serem observadas no curso da trama, como os enquadramentos nos rostos dos personagens, na tentativa de explicitar um drama coletivo pelo choque da imagem, uma vez que a gama de conflitos vividos é quase inimaginável diante das condições sub-humanas nas quais vivem os personagens do filme. Essa escolha remonta a "estética da fome" abordada em "Cidade de Deus", que choca pela força da imagem e da violência imposta nos diálogos. Em outros momentos de "Ensaio Sobre a Cegueira", também de forma inteligente, a câmera permanece estática, apenas documentando todo o horror da situação vivida entre os ortadores da cegueira branca.
A narrativa rica e bastante complexa explicita o caratér poético e o famigerado estilo de escrita de Saramago, evitando sempre as amordaças das regras de pontuação e tratando de temas muito íntimos a natureza do animal-homem. A mensagem transmitida após o subir dos créditos é clara, porém, não obvia, exigindo do roteirista ainda desconhecido Don mcKllar um trabalho arriscado para escapar do didatismo, mas também do distanciamento. Exige-se também de Meirelles escolhas funcionais a serem observadas no curso da trama, como os enquadramentos nos rostos dos personagens, na tentativa de explicitar um drama coletivo pelo choque da imagem, uma vez que a gama de conflitos vividos é quase inimaginável diante das condições sub-humanas nas quais vivem os personagens do filme. Essa escolha remonta a "estética da fome" abordada em "Cidade de Deus", que choca pela força da imagem e da violência imposta nos diálogos. Em outros momentos de "Ensaio Sobre a Cegueira", também de forma inteligente, a câmera permanece estática, apenas documentando todo o horror da situação vivida entre os ortadores da cegueira branca.
Para interpretar a única pessoa que não foi atingida pela cegueira e que numa demonstração de amor imensa se junta a seu marido oftalmologista acometido pela cegueira, temos a talentosissima atriz Julianne Moore (Pecados Inocentes, 2007), que se entrega a uma vida caótica dentro de um hospital onde os diagnosticados cegos foram colocados em quarentena numa curiosa rotina, sob regras de convivência de caratér escuso e mantendo em segredo a sua ainda existente capacidade de ver. A atriz está literalmente de cara limpa em todo o filme, deixando-se filmar ao mais natural e desnuda de pudores possivel.
No segundo terço da trama, assistimos a retratação do Estado Natural e a uma simulação da quebra do contrato social, preconizado por Locke, Rousseau e Robbes. O ser humano está posto em seu estado de natureza, remontando as várias tentativas de adaptação social e fracassando na maioria delas, tal qual como ocorreu nos primórdios da existência do ser humano diante da necessária vivência em sociedade. É neste momento do longa que os coadjuvantes, afinadissimos com a proposta do roteiro, se destacam, revelando toda a degradação humana vivida por pessoas que precisam se adaptar a uma situação-limite como é a cegueira coletiva.
Os sentidos tornam-se os signos mais bem explorados na trama, que revela toda a complexidade da estória, intercalando agradáveis e ternos momentos, como aquele em que, reunidos, todos os habitantes do hospital ouvem uma música em silêncio, com outros em que a tirania e a crueldade motivadas pelo Rei da Camarata 3 chega ao cúmulo da arrogância ao apontar uma arma carregada contra todo o grupo de cegos. Mais uma interpretação excelente de Gael Garcia Bernal, diga-se. Outros momentos-chaves são a traição do Doutor (sim, propositalmente, os personagens não têm seus nomes revelados) com a personagem de Alice Braga (que está apenas bem em cena, ainda que tenha se saído melhor no longa de temática semelhante "Eu Sou a Lenda", ao lado de Will Smith). O último momento de destaque dentro de toda a projeção é a filmagem do ainel caótico das ruas arrasadas pela crise e pela miséria geradas pela cegueira branca, lindamente filmado.
Retratar um grupo de pessoas que se debate em os seus próprios escrementos (morais e orgânicos) e que retornam ao marco zero, sendo forçados a uma intensa e inédita forma de convivência, enquanto são levados a uma metafórica procura por voltar a ver ou, por que não dizer, enxergar a natureza humana pela primeira vez, é admirável, merecendo mais do que a nossa atenção, mais do que o nosso aplauso, merecendo uma irrestrita visibilidade.
Nota 8.0
No segundo terço da trama, assistimos a retratação do Estado Natural e a uma simulação da quebra do contrato social, preconizado por Locke, Rousseau e Robbes. O ser humano está posto em seu estado de natureza, remontando as várias tentativas de adaptação social e fracassando na maioria delas, tal qual como ocorreu nos primórdios da existência do ser humano diante da necessária vivência em sociedade. É neste momento do longa que os coadjuvantes, afinadissimos com a proposta do roteiro, se destacam, revelando toda a degradação humana vivida por pessoas que precisam se adaptar a uma situação-limite como é a cegueira coletiva.
Os sentidos tornam-se os signos mais bem explorados na trama, que revela toda a complexidade da estória, intercalando agradáveis e ternos momentos, como aquele em que, reunidos, todos os habitantes do hospital ouvem uma música em silêncio, com outros em que a tirania e a crueldade motivadas pelo Rei da Camarata 3 chega ao cúmulo da arrogância ao apontar uma arma carregada contra todo o grupo de cegos. Mais uma interpretação excelente de Gael Garcia Bernal, diga-se. Outros momentos-chaves são a traição do Doutor (sim, propositalmente, os personagens não têm seus nomes revelados) com a personagem de Alice Braga (que está apenas bem em cena, ainda que tenha se saído melhor no longa de temática semelhante "Eu Sou a Lenda", ao lado de Will Smith). O último momento de destaque dentro de toda a projeção é a filmagem do ainel caótico das ruas arrasadas pela crise e pela miséria geradas pela cegueira branca, lindamente filmado.
Retratar um grupo de pessoas que se debate em os seus próprios escrementos (morais e orgânicos) e que retornam ao marco zero, sendo forçados a uma intensa e inédita forma de convivência, enquanto são levados a uma metafórica procura por voltar a ver ou, por que não dizer, enxergar a natureza humana pela primeira vez, é admirável, merecendo mais do que a nossa atenção, mais do que o nosso aplauso, merecendo uma irrestrita visibilidade.
Nota 8.0
Quero muito ver esse filme, parece ser bem interessante e a sua critica fez com que a minha vontade aumentasse hehehe.
ResponderExcluirBelo filme de Meirelles, me fez chorar.
ResponderExcluirMas em relação ao Meirelles, eu fico com Cidade de Deus *___*
ResponderExcluirEu como um grande fã do genero "DRAMA", colo esse filme na minha lista dos 5 melhores do gênero.
ResponderExcluirUm ótimo filme.. emocionante, impactante, forte (até por de mais), angustiante...
Mas não deixa de ser um ótimo filme....