Baz Luhrmann é um verdadeiro amante de espetáculos, vide sua obra prima Moulin Rouge, em que ele incrementa detalhes mágicos a cenografia, transferindo a experiência visual em acompanhar uma obra sua num patamar esplêndido que enriquece os olhos e presenteia o público a uma realidade mais vibrante e colorida. O amor... Este sempre foi o precursor das obras de Luhrmann, a encaminhá-las ao espetáculo visual e guiar seus roteiros (na maioria, limitados) a ilustração que preenche cada trabalho seu. Em aspectos visuais, Austrália não é diferente dos “Luhrmanns” de outrora, entretanto na mesma medida que seu visual sobressai-se, sua trama é vazia e desprovida de maiores virtudes que justifiquem sua realização.
Para mim, como ávido admirador de Moulin Rouge - Amor em Vermelho foi decepcionante ver que a obra seguinte do diretor foi um romance piegas, sem alma e totalmente isento do brilhantismo de Christian e Satine. Sei que não é agradável fazer comparações entre obras de um mesmo cineasta, mas no caso de Austrália elas são necessárias, pois é inegável que Luhrmann deu uma pirueta para trás entre a qualidade obtida em 2001 com este filme. A intenção aqui foi a de construir algo épico, que remetesse o espectador há décadas atrás, quando o cinema era preenchido por sua estrutura antiga que encantava o público com seus romances melosos e seus dramas molhados. Austrália deveria servir como uma passagem para o espectador adentrar num período disperso no tempo, mas por suas inúmeras falhas e seu pretensiosismo nítido, o filme se perde em meio a sua cenografia exagerada e sua visível falta de objetividade.
A estória desta produção consiste em narrar à vinda de uma aristocrata inglesa (Nicole Kidman) para a Austrália, logo após o falecimento de seu marido, ela herda do mesmo uma propriedade e lá, com ajuda de um rude capataz (Hugh Jackman), tenta salvar o patrimônio deixado para ela - e, eventualmente os residentes daquele local -. Então eles enfrentam uma longa aventura, onde serão submetidos aos mais terríveis desafios, bem como a crescente paixão dos dois, durante este percurso. No decorrer da trama ficam visíveis inúmeros buracos em seu desenvolvimento, em especial, sua não capacidade de resistir a quase três horas de projeção; os autos e baixos aqui são visíveis, em especial quando o filme atinge alguns bons momentos, mostrando cenas inspiras, entretanto na mesma rapidez que elas chegam, elas se evaporam, e o filme decai bruscamente (mais uma vez) ao vazio e a falta de foco.
O maior pecado é sua ausência de maior conteúdo, isso porque, Austrália poderia muito bem ser compactado em metade do que sua duração chegou, talvez desta maneira - desta única maneira - suas qualidades ficassem em maior evidência. Luhrmann exagerou em tudo. Em tudo mesmo. O romance é deveras meloso, a estória extensa demais não suporta toda sua duração (vindo a mudar seu percurso nos atos finais), e a estética vibrante aqui (diferente de Moulin Rouge) serve mais como um “tapa buracos” da trama em si, numa tentativa de compensar seus defeitos internos com sua capa chamativa.
Porém, Austrália tem seus predicados, a experiência visual é (como o esperado de Luhrmann) arrebatadora, bem como alguns (poucos) momentos em que a trama atinge uma consistência agradável de presenciar. O pior de tudo seja que o cineasta exigiu demais de seu próprio roteiro e produção, querendo transformar o que poderia ser uma sessão de entretenimento simples, em algo muito, muito maior do que suas proporções poderiam agüentar. Talvez, Austrália foi ainda menos, pois esperávamos algo grandioso como o diretor proporcionou em seu musical de 2001; seja como for a sensação de decepção é clara, pois as expectativas não foram saciadas, e muito menos a vontade de Luhrmann, que tentou transformar seu filme em um estupendo épico moderno, que no fim, tornou-se apenas um espetáculo vazio, de muitas cores, mas nenhum resquício de alma.
Nota: 5.0
Eu gostei. O andamento da narrativa é meio incoerente, mas o visual me encantou imensamente.
ResponderExcluirApesar das falas apontadas, achei um grande filme. É dos que eu classifico para assistir 2 ou mais vezes. Talvez seja preciso olhar com olhos diferentes para Austrália.
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