Baseado no livro “Beatrix Potter: A Life in Nature", de Linda Lear, Miss Potter estreou nos cinemas de forma timida, chamando pouca atenção, e o resultado foi um retumbante fracasso de bilheteria. O que é uma pena, já que, além da figura extremamente interessante de Beatrix Potter, o filme de Chris Noonan (Babe – O Porquinho Atrapalhado) é de uma graciosidade e leveza admirável, e que mesmo com seus empecilhos, se mostra um pequeno programa bastante agradável.
A trama mostra a ascensão da escritora no mundo da literatura infantial, abordando a criação e publicação de seu primeiro livro, que com a ajuda de seu editor, Norman Warne (Ewan McGregor), logo se torna um grande sucesso de vendas. Evidentemente, a proximidade entre eles logo se torna uma atração maior, o que fará com que Beatrix passe por cima de sua familia e das regras da sociedade para viver sua própria vida.
Miss Potter não é uma produção que oferece algo de ousado ao espectador, e nem sequer propõe isso. A narrativa é leve, simples, cujo objetivo é simplesmente contar a história da escritora, nada mais. Neste passo, ajuda muito a trilha sonora, simplista, mas extremamente coerente com o que o filme apresenta. Da mesma forma, os luxuosos figurinos desenhados por Anthony Powell e a ensolarada fotografia de Andrew Dunn, que dão ao filme um tom alegre e otimista, por vezes infantil, mas que entra em perfeita coesão com a personalidade da escritora.
O roteiro do estreante Richard Maltby Jr. é bastante correto, quadradinho, que enxuga bem os fatos da vida de Beatrix, mas falha ao utilizar algumas fórmulas já desgastadas do gênero, o que torna a produção desinteressante e arrastada em certos momentos. Felizmente, não chega a ser um defeito realmente grave, já que além de uma história deliciosa e cheia de imaginação, as figuras na tela esbanjam simpatia e carisma, além do tom inocente feito na medida certa.
Ausente das telas desde 1995, o diretor Chris Noonan mostra que ainda está em ótima forma. Sua direção enxuta e sem rodeios se torna essencial para o andamento do longa e da criação da atmosfera do mesmo. Sua câmera sempre surge muito bem posicionada, aproveitando cada detalhe técnico, fazendo do filme um espetáculo visual. Mas seu talento pode ser visto, principalmente, nas cenas em que os desenhos de Beatrix ganham vida. São momentos repletos de brilho, magia, ricos em sensibilidade e ingenuidade. E um dos principais riscos que o diretor corria era de que sua visão acabasse se tornando feminista demais, já que a protagonista pe mulher. Mas Noonan escapa desta armadilha, ao retratar, com fidelidade, os costumes da sociedade do século XX.
O que realmente fez falta para Miss Potter foi a escalação de uma atriz mais competente para encarnar a escritora. Renée Zellweger, vencedora do Oscar de atriz coadjuvante por Cold Mountain, aqui apenas repete as mesmas expressões que fez em O Diário de Bridget Jones, por exemplo, o que poderia ter destruido o filme, caso não fosse todo o interesse e carisma gerado pela personagem. Em contraponto, Ewan McGrefor (sempre interessante em cena), traz harmonia ao seu personagem, que apesar da participação curta, é de importância crucial para a trama. Entretanto, são Emily Watson e Barbara Flynn que roubam o longa. A primeira interpreta a irmã de Norman Warne, e é sempre possivel ver, por meio das expressões de Watson, a preocupação e apreço que ela possui pelos dois. A segunda interpreta a mãe de Beatrix, e chama a atenção por traduzir muito bem todo o preconceito e incredulidade que sentian em relação à carreira da filha.
Longe de ser um grande filme, Miss Potter é um programa descontraido, carismático, e que mostra um vigor raro de se ver em cinebiografias. Não é marcante, e nem deseja ser, é apenas um conto bem desenvolvido, tratado com carinho e magia por parte dos realizadores. Mágico, cativante e delicioso, um programa recomendável.
Nota: 7.0
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