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domingo, 27 de março de 2011

Um Lugar Qualquer (2010)



Em um dos momentos mais belos do longa Um Lugar Qualquer (Somewhere, 2010), o famoso astro de cinema Johnny Marco e sua filha Cleo brincam em uma piscina de hotel, simulando um café da manhã dentro da água, tomando chá e comendo biscoitos, embalados por uma singela canção e curtindo um instante que parece ser somente deles, aproveitando o tempo que lhes resta antes que ele precise ir par outro dia de filmagem e ela ir para o acampamento de verão.
 
Guardando semelhanças com seu longa mais famoso – Encontros e Desencontros (Lost In Translation, 2004) -, Sofia Copolla compõe um longa que trata de uma família que se acostumou a estar espalhada por vários lugares, sem permanecer em um lugar onde o sentimento de afeição pudesse ser simplesmente vivenciado, sem palavras ou ações, mas pela presença do outro ao seu lado. Johnny Marco torna-se o novo Bob Harris de Sofia ao se arrastar por uma vida vazia de astro de cinema e encontrar um lampejo de alegria na figura de sua filha Cleo, que mora com sua ex-esposa, e a visita com certa regularidade, sempre sendo coadjuvante dentro do seu mundo permeado por paparazzi, dançarinas de pole dance e atrizes lindas e fúteis.
Com bastante sutileza, a câmera de Sofia caminha e observa lentamente tudo o que seus personagens demonstram e escondem, belos em sua imperfeição e na sua escravidão diante de uma situação que parece ter se tornado mais forte do que sua própria vontade. Marco caminha na letargia de um mundo que deixou de ser agradável para ele, enquanto Cleo anseia encontrar no pai não um homem “ideal”, mas simplesmente a sua presença ao seu lado. Em certo momento, a menina chora por não acreditar que sua vida possa ter algo de permanente, de perene: nem sua mãe nem seu pai permanecem ao seu lado em momentos tão seminais da sua juventude. E, sentido, pouco antes de entrar no helicóptero que lhe conduziria para outro lugar de trabalho, Marco grita algo significativo para a filha que olha para como se esperasse o momento em que voltaria ao táxi. Ao contrário da frase que Bob sussurra para Charlotte no final de Lost In Translation, desta vez o público ouve o que Marco grita, mas não temos certeza se Cleo conseguiu ouvir a confissão de seu pai.

Ao final, Marco oferece o devido valor para a experiência de se sentir vivo de novo e corre atrás de seu novo destino, abandonando a vida que parecia sempre lhe puxar para dentro do vácuo do si mesmo.

Nota: 8,0


2 comentários:

  1. Parece ser um grande filme. Pena q ainda n assistí, mas breve verei.

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  2. Sou apaixonado pela delicadeza sem limites do cinema da Sofia Coppola. ENCONTROS E DESENCONTROS e MARIA ANTONIETA são obras-primas, e agora SOMEWHERE chega muito perto do alto nível destas obras. Filme que exala delicadeza a cada plano.

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