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sábado, 9 de abril de 2011

Rio (2011)

O trio Rafael, Blu e Jade são a fonte de graça do filme. Depois disso, poucos se salvam da monotonia...


Carlos Saldanha é um dos maiores nomes da animação nos EUA. Em um ramo que é praticamente monopolizado pela “Pixar”, cuja única concorrência de peso se encontra na “DreamWorks”, sucessos de bilheteria de outras empresas são uma raridade. Com a sua ainda tímida “Blue Sky”, o brasileiro conseguiu se firmar em um território altamente competitivo graças a uma turma que todos devem conhecer bem: Sid, Manny, Diego, Scratch e todos os hilários personagens de “A Era do Gelo”. Entretanto, após uma incursão não muito bem sucedida com “Robôs”, o brasileiro parece enfrentar problemas em se desapegar da trilogia que o consagrou e criar algo realmente novo. E, numa sociedade tão meritocrática como os EUA, depender apenas de uma criação não é tido como algo muito honroso.

Foi então que o diretor embarcou no seu projeto dos sonhos, um filme que se passasse inteiramente no Rio de Janeiro! Natural para um brasileiro e inovador para a indústria hollywoodiana, que tem no Rio apenas cenas rápidas e caricaturescas. Assim surgiu “Rio”, um filme que retrata as aventuras da nerdíssima Blu, uma arara azul ameaçada de extinção que, após ser criada e mimada nos EUA, tem que retornar ao Brasil para poder procriar com a última arara fêmea de sua espécie e, dessa forma, salvá-la da extinção.

Desde a sua concepção, “Rio” era um projeto muito aguardado tanto nos EUA quanto no Brasil: no primeiro, por causa da história inteiramente transcorrida no Rio e, no segundo, graças a curiosidade de ver como um filme hollywoodiano iria abordar a cidade-maravilhosa. Houve o medo de que as caricaturas e os clichês sobre o Brasil prevalecessem na obra. Felizmente, não aconteceu isso. Infelizmente, “Rio” está longe de ser uma grande animação: permeado de personagens sem carisma algum, passagens sem sentido e inúmeros furos de roteiro, além de muitas e muitas piadas sem graça, “Rio” acaba como mais um filme infantilóide ligeiramente satisfatório. Para se ter uma idéia, o rival “Rango”, lançado algumas semanas antes, tem muito mais personalidade e graça.

A animação e a fotografia são primorosas.

É chato começar com os problemas em uma crítica, mas eles são em tão grande quantidade em “Rio” que os deixar para o final faria pouco senso. O filme se inicia de forma muito agradável, sem dúvida, com uma bela coreografia de samba e uma música-canção contagiante. São mostrados alguns momentos da vida de Blu nos EUA e então começa o filme propriamente dito. E aí a coisa desanda: o primeiro defeito que fica de cara são os furos de roteiro. Um dos primeiros: como é que Túlio conseguiu encontrar Blu? Não é fornecida uma única linha de explicação. Mas isso é o de menos: no filme, um geradorzinho elétrico na favela explode e deixa todo o Rio às escuras (!); graças ao carnaval, todas (eu digo “todas” mesmo!) as ruas ficam interditadas e qualquer tipo de tráfego é impossível (!!); traficantes conseguem entrar e sair do sambódromo sem qualquer dificuldade (!!!) e, para coroar, dois personagens conseguem roubar um carro alegórico sem que ninguém o impeça (!!!!). Esses erros de lógica são tão absurdos que são impossíveis de ignorar.

À exceção de Blu, sua parceira Jade, sua dona Linda e o tucano Rafael, todos os demais personagens são desprovidos de qualquer carisma, chegando a ser incômodos. Desde os pássaros-sambistas (não tão enjoados) até os traficantes de aves (ridículos), “Rio” é recordista em apresentar tantos personagens sem função. Coadjuvantes como os micos são engraçadinhos, mas, ao final de sua participação, nos perguntamos qual foi a sua finalidade para a história senão a de gerar piadinhas desconexas. Imperdoável é o vilão do filme, uma cracatua excessivamente irritante e clichê. Contrastando com a riqueza e a graça dos personagens de “A Era do Gelo”, “Rio” se torna um carnaval de protagonistas inúteis.

Poucas são as boas piadas do filme.

O filme consegue tratar o Rio de Janeiro sem a mesma clicherização imbecilizante da maioria dos filmes de Hollywood. Infelizmente, se não retratou mal o Rio, também não o retratou bem. No fim da película, fica-se com a sensação de que a locação na Cidade do Samba não passou de uma desculpa para atrair público. Apesar da animação retratar muito bem as paisagens da cidade, quase nada se conhece de seu povo. O Rio de Janeiro chega a parecer uma cidade vazia e sem alma, já que nada se explora de sua cultura e de sua população. A cena no sambódromo é frustrante: apesar da multidão e da festa, tudo parece vazio e sem sabor. Pior é o fato de que qualquer um entra e sai à vontade do lugar, um fato em nada lembrando a pesada segurança que ele tem nos dia de Carnaval. Todo o resto do filme, aliás, não convence e não cativa: a cena final, tida como o “clímax emocional” do filme, é repetitiva e previsível. O filme também desperdiça inúmeras ótimas idéias, frustrando cada vez mais o espectador com soluções estapafúrdias de roteiro e um desenrolar cansativo da história. “Rio” pode ser resumido em uma palavra: clichê.

É uma pena, então, que os maiores trunfos do filme fiquem reservado à parte técnica. É claro que, com um orçamento superior a cem milhões de dólares, seria quase impossível se sair mal nesse quesito: visualmente, “Rio” é esplendoroso. A cidade-maravilhosa brilha na animação de última geração da “Blue Sky”; alguns cenários parecem ter sido filmados! A perfeição das cenas é tanta que fica difícil acreditar que tudo foi gerado por computador. O comportamento dos animais no filme também é muito bem feito, principalmente o das aves: é incrível a realidade dos movimentos das araras Blue e Jade. Em 3D, o filme deve ser um espetáculo ainda maior. A trilha sonora é bonita, mas exatamente o que todos imaginavam: músicas americanas mescladas com samba e alguns temas da MPB.

Carlos Saldanha ainda não conseguiu se dissociar de sua famigerada trilogia. “Rio” tem tudo, de fato, para se tornar um imenso sucesso de bilheteria, só que mais pela originalidade de sua locação do que pela qualidade da história. Poucas vezes presenciei uma animação de alto calibre ser tão vazia, tão desprovida de personalidade e tão monótona. Considerando, além do mais, que o filme se passa na capital mundial da alegria e da festa, isso é quase imperdoável. “Rio” não é uma experiência inteiramente desagradável; entretanto, ao sair da sessão, muitos sentirão que jogaram dinheiro no lixo com o ingresso.

As tomadas aéreas também são outro ponto forte do filme.

NOTA: 6,5



4 comentários:

  1. Obrigado pela visita no meu blog.
    Respeito a sua opinião, mas discordo. Já leu minha crítica. Mas isso que é bom, pontos de vista e gostos diferentes.
    Abraço.

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  2. Parece ser um bom filme! Espero ver o quanto antes!

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  3. Realmente uma animação fraquíssima, só que a acho bem pior que você, as cenas aéres que você elogia por exemplo são usurpadas de Como Treinar o Seu Dragão. Fui embora irritado do cinema e com a sensação de dinheiro mal gasto.

    http://icenema12.blogspot.com

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