Quando aprendemos a andar nosso senso de orientação aponta para frente, dessa forma, procuramos sempre nosso norte, o ponto fixo que nos auxiliará para que não percamos nossa própria direção. Para mantermos uma sincronia firme, traçamos nossos caminhos de acordo com uma lógica de direção que permite o norte, sul, leste ou oeste. É também por nossa própria ótica sempre apontar rumo à frente, que mantemos esta sincronia, sendo assim, não andamos para trás. Mas, e quando nossa noção é alterada, e tudo passa a ser invertido? E quando os fatos parecem caminhar em regressão?
O parágrafo acima se atribui aos eventos propostos por Amnésia, um dos trabalhos mais admiráveis e complexos de Christopher Nolan (O Grande Truque; Insônia); um exercício narrativo maduro e uma experiência magnética para qualquer espectador que requisite uma boa sessão de cinema cabeça. Nolan é famoso por aderir complexidade a seus projetos, isso vem de inspirações e mais inspirações que o cineasta tomou para sua carreira (tendo em vista que seu filme preferido é 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, tido como uma das obras mais complexas já criadas), sendo assim, para assimilar os fatos e estabelecer uma compreensão exata sobre tudo aquilo, Nolan pede do espectador apenas a participação mental, para que aquela trama não soe como gratuita ou até mesmo ilógica durante seu desfecho.
A narrativa de Amnésia abrange a jornada de Leonard (Guy Pearce), um homem perturbado com um trauma que sofreu, em decorrência disso, ele passa a ser incapaz de se recordar de situações que acabou de presenciar, ou algo que acabou de ouvir. Então, ele busca vingança pelo brutal assassinato de sua esposa, e para descobrir quem fora o criminoso, ele precisa anotar, fotografar e/ou tatuar informações que levem-no até o sujeito. E, por decorrência de seu problema, Leonard fica dependente de seus registros e da confiança que deposita nas pessoas que aparecem em seu caminho.
Se esta trama tomasse a cronologia padrão - começo, meio e fim – provavelmente o que teríamos era um suspense policial corriqueiro, com os atrativos mais comuns neste gênero, entretanto, Nolan e seu irmão, responsável pelo conto original que o roteiro adapta, foram felizes em colocar a ótica do espectador unida com o ponto de vista do próprio protagonista, como se o público acompanhasse apenas sua atividade mental, e se perdesse junto com ele em seu próprio dano psicológico. Essa tática narrativa aderiu à Amnésia um charme peculiar, visto em poucas produções desse gênero, de modo que o que é uma reviravolta comum em um título qualquer de filmes assim, em Amnésia torna-se algo de tamanho impacto, resultado de seu tão bem articulado recurso narrativo.
Amnésia é um trabalho primoroso, que confere ao público uma experiência ímpar, de grandes estímulos sensoriais e psicológicos, como um bom treinamento cerebral deve ser. Todo esse impacto intelectual que Amnésia repassa para seu espectador é fruto do belíssimo trabalho de edição aqui realizado, uma vez que a união tão bem montada da cronologia inversa da trama fez com que esse filme se sobressaísse aos inúmeros suspenses investigativos que aparecem com freqüência no cinema atual. Não à toa que este é um dos trabalhos mais conceituados e admirados de Nolan, e também um grande “empurrão” para alçar seu nome no reconhecimento e estrelato.
Por ser um trabalho que utiliza muito da lógica e raciocínio do público, Amnésia não é o filme mais acessível para uma sessão-pipoca descompromissada, da mesma forma que não se encaixa nos padrões do bom e velho cinema comercial. Sendo assim, durante os anos, esta obra de Nolan foi ficando eclipsada pelos mais novos e burocráticos filmes do diretor, mas isso não significa que ela não possa mostrar seus atributos e qualidades a todos, ao contrário, Amnésia certamente promoverá uma sessão cinematográfica ímpar, de modo que haverá quem amará e quem odiará, o difícil mesmo será ficar indiferente.
Nota: 9.0
Esse filme é incrível mesmo, me surpreendi positivamente com toda a direção da história e a linearidade invertida. Tudo ficou genial, e como Amnésia prende, a sessão se torna extremamente prazerosa.
ResponderExcluirAbraços.
Bem antes de 'O Cavaleiro das Trevas ' e o Excepcional 'A Origem',Cristopher Nolan nos presenteou com esse filme cult que mostra uma narrativa super original embora confusa.Seu estilo investigativo, urbano e surpreendente também se encontram neste suspense policial. Eu considero o roteiro de Amnésia como um dos melhores roteiros que o cinema já nos ofereceu.
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