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domingo, 15 de maio de 2011

Um viva aos filmes-arte!



Existe uma distinção informal nos ramos artísticos que põe as obras em dois campos: o campo das massas e o campo da arte. Existe a música “das massas” e existe a “música-arte”. Da mesma forma, podemos dizer que existem os filmes “das massas” e os “filmes-artes”. Não se deve, porém, pensar que estes dois conceitos são absolutamente antagônicos ou mutuamente excludentes, acreditando que um filme “das massas” não possa ser um “filme-arte”. Mas quase todos pensam assim. Pior: há uma triste divisão de castas entre os filmes, onde os “de massas” são reservados ao “populacho” e os “de arte” ficam restritos a uma elite pomposa e requintada. Não é assim que o cinema funciona.

Nem todo filme popular é filme-arte, mas quase todo filme-arte é filme popular. Na verdade, os filmes com grande preocupação artística, aqueles possuidores de grande profundidade emocional, são quase sempre os que melhor se saem com o público do que aqueles blockbusters descerebrados, cujo roteiro é da mesma profundidade de um prato de sopa. Nem sempre é assim, é claro: filmes medíocres podem se sair muito bem nas bilheterias; basta que os produtores encontrem o marqueteiro certo. Mas sei que todo mundo, leigo ou expert, possui a capacidade de apreciar um filme verdadeiramente bom: o problema é não nos deixarmos levar pelas propagandas enganosas.

Lembro-me, por exemplo, do filme “Transformers: a Vingança dos Derrotados”, uma das sessões de cinema mais sofríveis de minha vida. O filme era execrável, mas isso não o impediu de conquistar uma das maiores bilheteria de sua época – garantido, ó céus, uma continuação para este ano! Não confio nos grandes blockbusters: eles são, quase sempre, uma tentativa descarada dos estúdios de conseguirem alguns bons lucros. Quando um filme possui um trailer recheado de efeitos especiais, ação descontrolada, mulheres siliconadas e garotos marombados, eu sei que boa coisa aquilo não é. Se estes filmes alcançam algum êxito nas bilheterias, foi mais por competência da propaganda do que pela qualidade da história. Mas isso é irrelevante: prefiro concentrar-me nos filmes que prestam.

Fazendo uma retrospectiva por aqueles que considero os melhores filmes da história, vejo como quase todos se saíram bem nas bilheterias. Alguns, melhor do que muitas produções claramente “populares” de sua época. Levando-se em conta as taxas inflacionárias e as mudanças cambiais, “Star Wars” ultrapassa o faturamento “Avatar” na casa das centenas de milhões de dólares. “...e o Vento Levou” continua sendo a maior bilheteria de todos os tempos. E o eterno “Poderoso Chefão” não fica muito atrás dos grandes blockbusters de hoje. Ninguém questiona o teor artístico, muitas vezes revolucionário, destes filmes. Mas, ao invés de ficarem restritos a um círculo de estudiosos elitistas e pseudo-intelectuais, eles ganharam a aclamação popular e a imortalidade. São e sempre serão referência para diretores e cinéfilos. São filme-arte, mas também são filmes populares.

De fato, se um filme é elaborado com esmero e dedicação, se seus produtores e diretores se preocuparem com a arte, quase nunca terão problemas com as bilheterias. Fartos ou não, sempre haverá lucros. Steven Spielberg merece um prêmio neste quesito, pois talvez nenhum outro diretor tenha aliado, com tanto sucesso, arte e apelo popular nas suas criações.

O povo gosta do que é bom, não tem jeito. Entregue ao povo um filme com roteiro bem-feito, direção firme, técnica bonita e atores esforçados e você terá um belo retorno financeiro. Pode acreditar: a regra é assim mesmo, simples. Todos os filmes indicados ao Oscar do ano passado foram sucessos de bilheteria: na ponta mais lucrativa, temos “Toy Story 3” e “A Origem” (esta última, uma produção que alia a ação frenética que o povo tanto gosta com o roteiro intricado que os críticos e cinéfilos tanto desejam). No meio-termo, lucrando entre dezenas e centenas de milhões de dólares, temos “127 Horas”, “O Discurso do Rei” e o espetacular “Cisne Negro”. O menos endinheirado de todos foi o apagadinho “Inverno na Alma”, mas ele, pelo menos, conseguiu “se pagar”.

Reconhecemos o que é belo. Podemos não gostar deste ou daquele dito “clássico”, mas gostamos de muitos outros. O estúdio que faz cinema voltado para a arte quase sempre terá um bom público. Já o estúdio que se preocupa apenas em angariar multidões nas salas de projeção está andando sobre a corda-bamba. Filmes ruins que se saem bem nas bilheterias são como pessoas desonestas que ganham uma bolada na Megasena: tiveram sorte, nada mais. Já os filmes-arte são que nem aqueles trabalhadores que, após muito esforço, alcançam os patamares mais altos do sucesso: estes, sim, merecem admiração.

3 comentários:

  1. Acho que todo filme é arte, enclusive os mais blockbusters. Estas obras consideradas boas, são tão arte quanto as consideradas ruins. Não é apenas por que algo é ruim que este não é arte. Mas é apenas minha opinião.

    Ótimo texto, por sinal.

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  2. Acho que estás a utilizar erradamente o termo "Arte". Se percebi bem, quando dizes filme-arte te estás a referir ao art-film e esses filmes nunca, mas mesmo NUNCA são populares! São filmes feitos independente e têm como objectivo um nicho, um publico muito reduzido e específico.
    Os espectadores não preferem esse tipo de filmes. Preferem sim , filmes como aqueles que usaste como exemplo (The Godfather, Black Swan, 127 Hours, Avatar, etc). Esses filmes não são filmes-arte, mas sim filmes com qualidade. São filmes bem feitos que não descuram do lado "artístico" em detrimento do box-office mas que, apesar de não o descurarem, não raras vezes têm que o comprometer para ocupar mais uns lugares nas salas de cinema (por exemplo, está documentado que para o Godfather o FF Coppola teve que ceder aos estúdios em vários aspectos, e sinceramente duvido que tenham alterado o filme para pior). Os verdadeiros filmes-arte não têm um fim comercial e, exactamente por isso, não têm de ceder a estúdios, productoras e qualquer tipo de pressões externas, sendo por esse motivo assim designados.
    Se por outro lado te estiveres a referir a filme-arte como simplesmente filme com qualidade, concordo com o que disseste em certa medida. Um espectador cada vez mais opta por bom entretenimento quando lhe dão a escolher. Mas se a escolha recair entre um bom filme e um filme pior, mas com uma maior premissa de entretenimento, o público, regra geral optará pela última.
    Cumps Cinéfilos
    Baú-dos Livros

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  3. "Se por outro lado te estiveres a referir a filme-arte como simplesmente filme com qualidade, concordo com o que disseste em certa medida." Foi nesse sentido, mesmo. ;)

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