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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Kung Fu Panda 2 (2011)

Os Cinco... digo, Seis Furiosos (?)


Não é de meu costume, mas já começarei dizendo que “Kung Fu Panda 2” me agradou, e muito! Superior ao original? Não acho. Enquanto, no primeiro, eu tive uma excelente surpresa, neste filme eu já estava com expectativas muito altas, portanto não foi nenhuma novidade quando o filme se revelou tão bom quanto todos diziam. Em vários aspectos, “Kung Fu Panda 2” se mostra inferior ao original, mas “o todo” do filme é excelente, divertido, com cenas de ação de altíssimo nível e um humor inspiradíssimo pela ótima dublagem (ainda assim, nada supera a versão legendada).

O motor da história chega a ser muito bobo, quase uma desculpa qualquer para se fazer esta seqüência: o vilão Lorde Shen, cuja história é criativamente contada na belíssima seqüência inicial, constrói uma arma com a qual pretende “destruir o kung fu” e conquistar a China (a arma, diga-se de passagem, não passa de um canhão super-desenvolvido). É dever de Po, agora Dragão Guerreiro, junto com os Cinco Furiosos, destruir a ameaça.

A fala de Shifu poderia ser esta: "É, parece que um mestre muito poderoso do kung fu foi morto... blá, blá, blá, agora vão embora!"

Pois é, a história principal não importa muito. É tão primária que parece ter sido bolada por uma criança de onze anos. O que realmente nos interessa é o seu desenvolvimento, que atinge níveis impressionantes. A DreamWorks não vê esta seqüência como mais uma produção gratuita e aproveita-a para fazer o que não teve tempo no filme inicial: desenvolver os personagens secundários, desvendar a história de Po, expandir o universo do kung fu e ousar com piadas mais variadas e inúmeras referências à cultura pop. O aspecto que mais se sobressai é o trabalho feito em cima dos Cinco Furiosos, os míticos guerreiros da trama e novos colegas de Po: personagens meio que “marginais” na primeira obra, agora eles assumem, junto com o carismático panda, as rédeas da aventura, deixando o público conhecer melhor suas personalidades, seus trejeitos e contribuindo com piadas inesperadas. O melhor de tudo foi o que fizeram com Tigresa, de longe a personagem mais complexa da série, e a sua relação com o panda (alguém mais sentiu uma pinta de romance entre os dois ou foi só impressão minha?). Passamos finalmente a conhecer o seu lado mais sensível, que quase não dava pistas de existir no primeiro filme. A amizade entre ela e Po, algo inimaginável no filme original, é tão intensa que mesmo em batalha os dois possuem uma química insuperável, chegando a desenvolver golpes em dupla perfeitamente harmônicos. Os produtores da série nunca esconderam que, depois de Po, Tigresa era a personagem pela qual eles tinham maior cuidado, e é de se esperar um trabalho ainda maior sobre ela nos filme seguintes.

Po continua insuperável e parece até que Jack Black em pessoa escreveu as suas falas no roteiro: as piadas superam as do filme original e as situações cômicas estão mais inteligentes e refinadas. Impagável é a seqüência em que os Cinco Furiosos se “disfarçam” como um dragão, “engolindo” todos os vilões pela frente, o que resultou em uma tremenda homenagem ao jogo “Snake”. Referências assim, aliás, não faltam no filme, que presta homenagem até mesmo aos velhos clássicos de kung fu das décadas de 60 e 70 (os mesmos que, aliás, inspirariam Quentin Tarantino).

A perseguição nas ruas de da Cidade de Gongmen é só mais uma das várias grandiosas cenas de ação do filme.

Uma pena que o roteiro simplesmente se esqueça de personagens que marcaram o primeiro filme: Shifu, como se recebesse um violento golpe de Tai Lung, é arremessado ás trevas, fazendo pontas esporádicas e não muito necessárias. Tudo bem que ele não era útil à trama, mas tinha que ignorar o cara dessa maneira? As adições de novos personagens também deixaram a desejar: até agora estou me perguntando para quê serviram os novos mestres do kung fu, Crocodilo e Boi, que passam a maior parte do filme acovardados em uma cela na prisão. Um ponto muito negativo foi o desenvolvimento ruim do vilão, Lorde Shen, que não convence nem em seus atos de “maldade” (quais?! Eu não vi...) nem em seus momentos de “vilão atormentado”. Uma surpresa foram os lobos, personagens terciários sem qualquer importância, mas transbordantes em carisma. O Lobo Chefe, durão por fora e “criança” por dentro (uma versão mais irreverente da Tigresa, por assim dizer), possui tiradas que arrancam fartos risos do público (“Eu vi, sim, senhor, era um panda! Era feroz, rápido e poderoso! Mas também era tão gordinho e fofinho... dava até vontade de apertar!”)

Outro aspecto extremamente mal-planejado foi a pressa com que os Cinco Furiosos são “jogados” na aventura: Shifu, ao receber a carta da morte de um lendário guerreiro, mando-os destruir a ameaça. E só. Ele nem mesmo fica abalado pela notícia (bom, se ficou, não convenceu) e já vai despachando os aprendizes, assim do nada! A conclusão do filme também é, de certo modo, abrupta, com uma “surpresa” nada surpreendente, mas a cena entre Po e o seu “pai” Ping é muito comovente. A luta final entre Po e Sheng é quase toda excepcional, mas se conclui de maneira frustrante (com direito a lições de moral clichês). Ainda assim, o filme é muito mais profundo e sentimental que seu antecessor, não apenas pelo excelente trabalho com a amizade entre Po e Tigresa, mas também com a abordagem da infância de Po e sua relação de “adoção” com o “pai” Ping.

Ok, é difícil arranjar uma foto da Tigresa sorrindo, mas acredite: ela está uma simpatia neste filme.

É difícil que a qualidade técnica destas últimas animações me surpreenda. Afinal, o que mais os computadores e os bilhões de dólares de investimento em tecnologia de Hollywood podem fazer? Parece que já chegamos ao limite da perfeição técnica, e a animação de Kung Fu Panda 2 é uma expoente desta característica. O CGI reina absoluto com seus cenários ultra-realistas e a customização brilhante dos personagens. Um destaque fica para os uso de animações tradicionais, como nas seqüências dos sonhos de Po e na majestosa cena de abertura, baseada no teatro de sombras chinês. A iluminação do filme é arrebatadora! As coreografias das lutas estão além de qualquer crítica e a seqüência em que a torre da cidade de Gongmen é destruída é espetacular (sério, ela se garante como uma das melhores seqüências de ação do ano). É uma pena que a trilha sonora não acompanhe o resto do conjunto: mesmo em cooperação com John Powell, Hans Zimmer parece estar vivendo uma péssima fase. Seu limbo criativo com as seqüências já se mostrou visível na trilha boazinha (e só boazinha) de “Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas” e parece continuar aqui. Não consegui distinguir uma única música nova; o filme todo é uma repetição da trilha do filme anterior. Frustrante!

Kung Fu Panda 2” é diversão certa, tanto para adultos quanto para crianças. Para estas, a história é ainda mais “mastigável” que a do primeiro filme e, para aqueles, as piadas e as referências pop são o suficiente para garantir uma sessão memorável. O filme estréia próxima semana também em 3D, o que deve ser um delírio para aqueles que gostam de cenas de ação “pulando” da tela (e que não se incomodam com a dor de cabeça e a vertigem causadas pelos óculos – pois é, odeio 3D). Esta animação me conquistou como poucas, realmente, e mal posso esperar para a continuação da franquia (uma série televisiva está planejada para estrear neste fim de ano... PURE AWESOMENESS!).

Alguém aqui se inspirou nas torres de "O Senhor dos Anéis"...

NOTA: 8,0

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