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sábado, 25 de junho de 2011

O Poderoso Chefão (1972)



"Eu acredito na América"

Com essa frase se inicia um dos maiores épicos, um filme de proporções inimagináveis e causador de um dos maiores impactos nas estruturas da história do cinema. De fato, o Poderoso Chefão é um divisor de águas no que se refere a grandes mudanças no cenário do mundo cinematográfico. Acabando a Era de Ouro de Hollywood e se iniciando uma nova fase de super produções nas mãos de novos diretores mais ousados, entre eles Martin Scorsese e Brian De Palma, esse filme conseguiu seu lugar ao sol no que diz respeito à inovação e tamanho. Numa era de disputas acirradas, Coppola conseguiu criar uma obra-prima tão poderosa que em breve ganharia uma continuação tão suprema quanto.

A frase inicial já citada não foi colocada sem propósito no começo da saga. Na verdade, há inúmeras mensagens e predições sobre o que nos aguarda no decorrer do filme apenas com essa frase. Começava com a década de 1970 uma nova fase no cinema, com grandes produções vindas em grandes quantidades. Novas temáticas invadindo as telonas, quebras de tabus, mensagens subliminares nem tão subliminares assim como foram antes, etc. Era um grande momento para o cinema americano, assim como era uma época importante no cenário geopolítico do mundo. O Poderoso Chefão, um filme de proporções gigantescas e temática forte surgiu acompanhando a America do Norte, em especial Estados Unidos, rumo ao poder absoluto. Coppola criou um épico que tinha como principal objetivo mostrar poder e dominação. Os protagonistas do filme, Don Vito Corleone e seu filho Michael são a representação perfeita da força do filme, assim como demonstram em certos momentos a fragilidade que também aflige os fortes.

Através da família Corleone, somos lançados num universo repleto de violência e injustiças, onde o crime predomina sobre a política e a polícia. As décadas de 1940 e 1950, como todos sabem, foram marcos no que se refere ao poder dos mafiosos, e a família Corleone representa bem como estrangeiros conseguiam dominar melhor o território americano. Dominando sobre políticos, policiais, diplomatas, executivos, empresários e até mesmo sobre os poderosos diretores e produtores cinematográficos, os mafiosos mantinham poder sobre toda a cidade. A única ameaça a esses mafiosos era perder seu poder para outros mafiosos que surgiam com freqüência. E é nesse ponto que se inicia a trama de O Poderoso Chefão, já que Vito Corleone, um mafioso “das antigas”, não se adapta as mudanças que vão surgindo no cenário urbano. Surgia com força total o mercado negro dos narcóticos, que prometia muito em relação ao futuro. Negando-se a se unir a outras famílias mafiosas italianas nesse novo mercado, Don Corleone acaba comprando uma briga gigantesca com o clã de famílias imigrantes da cidade. Começa então uma guerra entre os poderosos, onde apenas o mais soberano manteria o poder sobre todas as outras famílias.



Assim como os poderosos chefões do filme lutavam para se manter em alta para não serem passados para trás, iniciava-se outra guerra por trás dos bastidores da indústria do cinema. Como já mencionei, novos horizontes se aproximavam no mundo dos filmes e apenas os diretores mais ousados se manteriam no estrelato. Coppola, uma das maiores feras dessa década, tinha de mostrar que vinha para ficar, e nada melhor que um filme de mafiosos para provar seu poder na indústria do entretenimento. Ao ler o best-seller de Mario Puzo sobre uma família de imigrantes italianos lutando para manter o poder numa cidade estrangeira, Coppola viu uma chance única de iniciar um projeto de grande ambição. E se tinha um momento em que se podia sonhar alto, esse momento era o início dos anos 1970. Juntando forças com Puzo, que aceitou escrever o roteiro, Coppola mergulhou de corpo e alma numa das maiores produções da época, que demorou certo tempo para ser superada em público e crítica. O filme acabou fazendo um sucesso tremendo, levando o Oscar de Melhor Filme, Melhor roteiro Adaptado e Melhor Ator para Marlon Brando. Esse sucesso acabou criando um tipo de “requisito” no currículo dos diretores, de modo que agora todos os diretores importantes precisavam de um filme de mafiosos em sua filmografia. Mas foi Coppola que acabou criando um segundo filme de mafiosos tão poderoso, ao realizar a seqüência de O Poderoso Chefão dois anos depois. Sendo assim, o filme se tornou divisor de águas na história de Hollywood, servindo como incentivo a uma nova safra de grandes produções.

Mas não é apenas pela ação e pela magnitude da produção que o filme vale à pena. Apesar de sua bela direção, fotografia e trilha sonora, o filme tem um roteiro invejável. Tal roteiro não se foca apenas em cenas violentas, mas também tem aborda um drama familiar verdadeiramente comovente. A difícil e frágil relação entre Don Vito e seu filho querido Michael, vivido pelo então iniciante Al Pacino, é tão real e profunda que chega a aliviar um pouco a tensão gerada pela história central. Al Pacino assume a frente do filme em determinado momento da trama, de modo que é importante que entendamos sua relação com o protagonista da primeira metade do filme. Seu personagem é complexo e profundo, mostrando-se relutante em assumir os “negócios da família” e desejando seguir uma profissão honesta e digna, diferente da bagunça em que sua família toda estava metida, tornado-se de certa forma uma ovelha negra. Mas apesar de suas convicções, é Michael que tem a maior capacidade intelectual e emocional de comandar os negócios da família, deixando-o assim dividido entre suas convicções e sua vontade desesperada de agradar seu pai pelo menos uma vez.

É também pelo roteiro, juntamente com uma direção espetacular, que somos levados cenas inesquecíveis. A sangrenta e famosa “seqüência da cabeça do cavalo” é simplesmente genial e ousada, sendo até hoje uma das mais fortes do cinema. Igualmente forte, só que de maneira diferente, é a cena derradeira de Don Vito Corleone no jardim de sua casa. Os momentos em que a talentosa Diane Keaton (um dos poucos nomes femininos da trama) aparece são também inestimáveis, já que sua personagem é a mais forte do elenco feminino.


A junção de um elenco fera, com um diretor lendário e um roteiro impecável faz de O Poderoso Chefão um dos mais respeitados filmes do cinema mais atual. Seu poder e grandiosidade são elementos que até hoje não foram destruídos pela passagem de tempo. Mesmo sendo um filme de mais de trintas anos, continua sendo surpreendentemente atual e necessário para qualquer cinéfilo. Muito difícil de acontecer com filmes antigos, esse não se tornou brega ou ultrapassado em nenhum sentido, sendo até hoje tão forte quanto era em sua época de lançamento. Por essas e por (muitas) outras, O Poderoso Chefão é tão essencial na história do cinema, sendo considerado por muitos o melhor filme de todos os tempos. Talvez não seja “o melhor filme do mundo”, mas deu início a uma das maiores e melhores trilogias de todos os tempos, mostrando ser tão poderoso e eterno quanto o personagem inesquecível que o protagoniza.

Nota: 9.0



4 comentários:

  1. Em primeiro lugar, parabéns pela critica Heitor. É um dos melhores filmes de sempre e soubeste focar os seus incontornáveis pontos fortes.

    p.s. O Homem Aranha 2 com a mesma nota do que o Padrinho! Uma coisa é a liberdade de expressão outra coisa é o mau gosto ou a "ignorância".

    Abraço. Hernanimed

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  2. Oh...Foi uma resenha realmente grande heim??? mas acredito que transcreveu tudo que imaginavamos sobre o filme.
    Eu Adoro essa "saga" tanto filme como o livro.

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  3. Nota 9? Esse filme é não menos que uma obra-prima.

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