Não é de hoje que, pela contínua falta de criatividade, Hollywood tem investido constantemente em continuações, adaptações e, principalmente, refilmagens. E na maioria destes casos, o tiro acaba saindo pela culatra, diminuindo, desnecesseariamente, as obras originais, onde nem mesmo a avançada tecnologia atual conseguem tornar estes filmes melhores que as obras que lhes deram origem.
O Sacrifício é mais um destes infelizes casos. Baseado no cult O Homem de Palha, de 1973, o longa nos apresenta a Edward (Nicolas Cage), um policial que, após presenciar uma garota e sua mãe serem incineradas, fica fragilizado e abalado. Logo depois, ele recebe uma carta de sua ex-noiva, Willow, relatando que Rowan, sua filha, havia desaparecido, e pedindo ajuda ao homem. Então, ele parte para Summersisle, uma ilha remota e privada localizada em Maine, local onde a garota desapareceu. Lá, encontramos uma comunidade altamente matriarcal na qual Edward definitivamente não se encaixa. O homem reencontra Willow e passa a investigar o sumiço da menina, no entanto, não deixa de reparar nas situações estranhas acontecidas no local… E sempre que pergunta por Rowan, ninguém sabe da existência da garota. Willow estava ficando louca ou as pessoas da ilha preferiam mentir à respeito do desaparecimento?
Se o roteiro não apresentasse tantos vai e vens na história, o filme até poderia ter alcançado um resultado melhor. A primeira meia hora de filme é interessante, estabelecendo bem o clima de mistério, e desenvolvendo razoavelmente bem o protagonista. Mas depois disso, a narrativa simplesmente descamba, criando uma sensação de extrema monotonia no espectador. Vez ou outra, parece que a história vai engrenar novamente, mas logo em seguida voltamos ao ponto onde tudo começou. Toda essa encheção de lingüiça testa a paciência do espectador, já que a condução do diretor Neil LaBute (Possessão) se torna bastante irritante com toda essa lenga-lenga.
LaBute, por sinal, perdeu a grande chance de criar um bom clima de claustrofobia, já que as paisagens de belezas naturais, também apresentam uma interessante sensação de vazio. Caso trabalhasse melhor com estas locações exóticas, LaBute poderia, no minino, ter conseguindo manter o interesse do espectador pelo desfecho da trama, mas a enrolação do roteiro e a direção fria impedem isso.
Entretanto, é visível o esforço do departamento técnico em fazer um trabalho de qualidade, principalmente na trilha sonora, que alcança seu objetivo em transmitir algum tipo de tensão, e a fotografia, que adotando tons amarelados, dá o toque sombrio ideal a algumas cenas. Nada que salve o filme da decepção, é claro.
Mas um dos toqueis mais interessantes do filme, em relação ao original, é a inversão dos valores, já que enquanto no primeiro filme os homens estavam no centro da história, aqui é o sexo feminino que domina essa função. Os homens possuem pouquissimo destaque, assumindo apenas a função de procriação, dando mais espaço a sociedade matriarcal daquela ilha. Entretanto, esta mudança é realizada de maneira forçada e pouco justificável, o que deixa a impressão de que esta mudança apenas para modifica-lo do original.
E Nicolas Cage, como de costume, faz pouco para ajudar. Fico me perguntando onde está aquele sujeito carismático e talentoso que marcou presença em grandes filmes como Cidade dos Anjos e Despedida em Las Vegas (pelo qual ganhou o Oscar). Vale ressaltar que, de uns anos pra cá, Cage vem errando feio na escolha de seus projetos (salvo algumas exceções, como Kick-ass – Quebrando Tudo), e O Sacrifício faz parte do início desta decadência do ator, que se tornou inexpressivo e apático da noite pro dia. O restante do elenco também não traz nada de notável, com exceção de Ellen Burstyn, que na pele da irmã Summersile, faz um trabalho eficiente, trazendo aquele ar misterioso que a personagem necessitava.
De tão risível em certos momentos, O Sacrifício consegue gerar risos involuntários. E a má qualidade desta produção apenas confirma, mais uma vez, o quão desnecessárias e desprezíveis as refilmagens podem ser. Ao final, ficamos apenas indiferentes, já que este não passa de apenas mais suspense monótono e sem originalidade do gênero.
Nota: 4.0
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