Quem Vai Ficar com Mary? (1998)

Quem Vai Ficar com Mary é primeira tentativa certeira dos irmãos Farrelly de fazer uma comédia realmente engraçada sem apelarem para as idiotices usadas em "Debi e Lóide" (Dumb and Dumber, 1994). Conhecidos por seus filmes de humor escrachado, eles não fizeram diferente nessa obra, mas a diferença está na época em que o filme se realizou. Em 1998 a situação das comédias americanas estava lamentável, em que todas se prendiam ao politicamente correto e não acrescentavam nada de novo ao gênero. Sendo assim, Quem Vai Ficar com Mary surgiu quebrando barreiras e arrecadando bilheterias astronômicas, além de conquistar a maioria dos críticos.

Tudo gira em torno da personagem-título Mary (Cameron Diaz, perfeita no papel). Diferente das garotas comuns, Mary tem algo a mais, inexplicável e arrebatador. Ted (Ben Stiller), um garoto comum e impopular, tem a chance de sua vida ao ser convidado por Mary para o baile de escola, mas perde a chance depois de um trágico acidente envolvendo o zíper de sua calça. Depois de alguns anos, Ted decide contratar um detetive picareta (interpretado excelentemente por Matt Dillon) para saber como anda a vida de Mary, sem nem imaginar que tal detetive também se apaixonaria pela bela. Agora Ted tem de disputar o amor de Mary com seu trapaceiro detetive e com o ex-namorado dela.

A história é totalmente recheada de situações engraçadas e um tanto constrangedoras. E todo o sucesso dessas situações se deve, além do ótimo trabalho dos diretores, da sintonia perfeita entre os atores principais. Cameron Diaz simplesmente arrasa no papel, esbanjando carisma e simpatia, elementos que a tornariam uma grande estrela no futuro. Ben Stiller encontrou nesse trabalho sua grande vocação na comédia, caindo nas graças do público como ator do gênero. Matt Dillon encara um personagem totalmente diferente de seu estilo, se saindo surpreendentemente ótimo no papel, onde fica claro o quanto ele está a vontade. E foi a junção desse trio encabeçando o elenco, que fez do filme um grande sucesso.

As premiações foram inúmeras, a maior parte delas vindas da MTV, devido ao sucesso do filme entre os jovens da época. Mas também houve reconhecimentos mais respeitados, como o prêmio de Melhor Atriz da Associação de Críticos de Cinema de Nova York para Cameron Diaz. O filme também recebeu duas indicações ao Globo de Ouro, nas categorias Melhor Filme de Comédia e Melhor Atriz de Comédia para Cameron Diaz. Não contente com todas essas premiações, o filme teve a maior bilheteria do ano de 1998 nos Estados Unidos e hoje está em 27° lugar na lista de filmes de comédia do American Film Institute.

Talvez o motivo de tanto sucesso sejam as sacadas do filme, supremas em sua maioria. Cenas hilárias, como a do tal acidente com o zíper, além da famosa "cena do gel", com certeza marcaram toda uma geração jovem. Outros momentos legais são as partes em que uma dupla de homens, que nada tem a ver com a história, aparece cantando a respeito de Mary, participando de certa forma como narradores improvisados.

De certa forma podemos dizer que esse filme definiu as carreiras de Stiller e Diaz, de forma que abriu portas para dos dois em novas oportunidades. Cameron soube aproveitar melhor as oportunidades, chegando a trabalhar com diretores conceituados, como Martin Scorsese. Já Stiller se enveredou pelo caminho da comédia pura, protagonizando e dirigindo o estúpido "Zoolander" (Zoolander, 2001), e voltando a trabalhar com os irmãos Farrelly no mais recente e fraco "Antes Só do que Mal Casado" (The Heartbreak Kid, 2007). Mesmo tendo feito trabalhos pouco agradáveis depois de Quem Vai Ficar com Mary, com exceção do elogiado "Trovão Tropical" (Tropic Thunder, 2008), Ben Stiller já se consagrou entre o público, garantindo sempre boas bilheterias.

Quem Vai Ficar com Mary é uma comédia como poucas, politicamente incorreta sem ser ridícula, engraçada sem ser apelativa. Talvez cometa alguns erros no decorrer do caminho, mas nada que interfira em sua genialidade. Os irmãos Farrelly jamais se superaram depois desta comédia, mas já fizeram um bom nome por meio dela. Garantindo boas risadas, essa obra sabe divertir de uma forma inusitada, trazendo sempre hilárias lembranças.

Nota: 8.0