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domingo, 19 de junho de 2011

Um Lugar ao Sol (2009)

Um mundo visto e vivido por cima

Em pouco mais de uma hora, "Um Lugar ao Sol" desperdiça uma premissa promissora e inovadora. Objetivando entrevistar pessoas da alta classe de cidades importantes do nosso país que moram em coberturas e que de certa forma são marginalizados pela própria condição extrema diante de um ambiente social que mescla pobreza extrema com luxo e requinte, o documentário reúne fragmentos de depoimentos de recifenses e cariocas sobre a sensação de morar na tão famigerada cobetura, simbolo de luxo e riqueza invejado por muitos e usufruído por poucos.

O argumento não poderia ser mais inovador e atraente a considerar, sobretudo, a cultura cinematográfica brasileira de explorar a estética da fome em documentários e em longas metragens que permeou o nosso Cinema por anos a fio. Pela voz, pelo comportamento e pelas idéias dessas pessoas que - pasmem - sentem a sua finitude existencial assim como nós, acompanhamos a visão concebida pela alta sociedade sobre as concepções, limites, benesses e privações de uma classe diferenciada em seu poder aquisitivo e que vive fatalmete solitária por esse traço distintivo.

A pergunta que fica é a respeito do papel do documentário. O rompante de inventividade de seu ímpeto inicial passou longe de romper as barreiras da caricatura extraída dos discursos documentados. Respostas vazias, depoimentos vazios e uma edição e montagem equivocadas tornaram a experiência arrastada e possivelmente deixaram de lado muitas facetas de uma gente negligenciada por tanto tempo, vivendo a "culpa" por ser rico e que vem sendo silenciada tendo em vista o fraco e incabivel argumento do ódio e da surpresa gerada por 'estarem no alto'. O filme perdeu seu objeto em discursos desencontrados, desfocados e desconexos com a proposta que o longa supostamente tentava seguir, dado, acima de tudo, ao mau direcionamento dado pelo idealizador do projeto aos seus oito entrevistados. Ainda assim, percebe-se, sutilmente e com algum esforço, uma discreta citação de uma vasta gama de questionamentos válidos que ficaram pelo caminho, que foram tratados com desvalor ou de forma inconveniente.


Os dois discursos finais são os pontos altos do documentário, marcando com prescisão a disparidade econômica encontrada em nossa sociedade brasileira atual e demonstrando a necessidade de não só tentar exterminar a pobreza extrema, como também a de direcionar o poder da extrema riqueza para fins dignos e altruístas na medida do razoável, investindo no intelecto e no caratér das pessoas que o detem para que elas contribuam para reverter as mazelas sociais vividas, que, sabemos, não são poucas.

A lição que fica é de que a ilha, a qual a concepção a estrutura das coberturas aludem, é povoada por pessoas, que apesar de mais imponentes do ponto de vista do dinheiro que possuem, ainda sonham, ainda respiram ambição, ainda são gratas pela oportunidade de viver de forma digna, ainda valorizam a cultura e usufruem da vida, com medos, esperanças e alegrias. São pessoas que vivem no topo da torre de luxo, mas que ainda são pessoas como nós e possuem vozes que não podem ser caladas pelo fato de ter no bolso um bom punhado de notas de 100 reais.


Nota:. 5.0

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