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sábado, 4 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe (2011)

X-Men versão "anos 60". "We all live in a yellow submarine, yellow submarine, yellow submarine..."


Quando lançado em 2005, “Batman Begins” enfrentava um ceticismo tão profundo por parte de público e crítica que sua bilheteria foi fortemente enfraquecida, embora, ainda assim, lucrativa. Afinal, em um gênero onde a ganância dos estúdios e os amadorismos dos diretores cometem constantes trapalhadas, principalmente em um filme que pretensamente dizia reescrever a história do super-herói mais querido da DC Comics, as expectativas não podiam ser muito altas. Mas a direção magistral de Christopher Nolan, até então famoso apenas em circuitos de cinema independente, ao menos conseguiu quebrar o gelo da crítica, e o cinema logo se beneficiaria com um dos mais vigorosos reboots dos filmes de super-heróis.

Bom, o que isso exatamente tem a ver com “X-Men: Primeira Classe”, um filme igualmente desacreditado, que quase cheirava à bomba? Bom, ambos deram novo gás a franquias combalidas (Batman morrera desde que Joel Schumacher inventou de brincar de diretor, e os X-Men perderam todo o brilho com a saída de Bryan Singer), foram conduzidos por diretores-prodígio e, acima de tudo, surpreenderam a crítica e garantiram seus lugares como os melhores filmes de seus anos. Sim, “X-Men: Primeira Classe” é um forte concorrente a “melhor filme do ano” no gênero da ação. Quando se tratam de filmes de super-heróis, seu título é praticamente garantido. “Primeira Classe” é para os X-Men o que “Begins” foi para Batman: uma visão mais realista, profunda e reflexiva sobre o nascimento dos super-heróis.

Charles e Erik disputando seu clássico jogo de xadrez: a amizade dos dois é o ponto alto da trama.

A trama, transcorrida no auge da Guerra Fria, acompanha a união improvável entre Erik Lensherr (Magneto) e Charles Xavier (Professor X), que estão buscando o mesmo alvo: Sebastian Shaw, um mutante que planeja exterminar a humanidade ao forçar as duas superpotências a uma guerra nuclear, deixando o mundo livre para a ascensão e o domínio dos mutantes. Xavier, pacifista, deseja apenas impedir as atrocidades de Shaw, enquanto Lensherr tem motivos mais sinistros: fora Shaw quem matou sua mãe em um campo nazista e o torturou até que ele desenvolvesse plenamente seus poderes magnéticos, motivando sua busca por vingança (“Digamos que eu seja Frankenstein, e estou em busca do meu criador”). Repleta de fios narrativos, a história concilia a relação entre os dois futuros arquiinimigos com o surgimento de muitos outros mutantes que viriam a povoar o mundo Marvel: Havoc, Darwin, Banshee, Tempest e, mais notadamente, Fera e Mística.

Diferentemente de “Begins”, que tinha um menor número de personagens-chave e, portanto, mais tempo para trabalhá-los psíquica e historicamente, “Primeira Classe” sofre com a imensa gama de mutantes, mocinhos ou vilões, quem tem em seu roteiro. Em uma contagem breve, temos oito X-Men e quatro vilões do Clube do Inferno, isso sem contar os aliados de cada um, o que soma, facilmente, duas dezenas de personagens principais e secundários. A necessidade de trabalhar suficientemente bem cada um destes personagens torna o filme muito corrido (difícil acreditar que ele dura mais de duas horas) e, mesmo assim, sobra um quê de superficialidade em muitos deles. Alguns podem ser vistos até como inúteis: há um vilão no Clube do Inferno, com a capacidade de manipular o vento, cujo nome nem sequer conhecemos! O personagem Darwin parece ter sido posto no filme apenas para cumprir com algum tipo de sistema de cotas: o único negro da trama, ele aparece do nada e é fácil e rapidamente eliminado pelos vilões. Sua presença é tão rápida e pálida que mais parece uma brincadeira de mal-gosto dos roteiristas.

Uma mutante com asas de inseto e que cospe bolas de fogo. Uau, que legal (NOT!)

Um outro deslize do roteiro (mas isso talvez nem seja culpa dos roteiristas, mas na história em que eles tiveram que se basear) é a estranheza de alguns poderes mutantes: ok, estamos todos acostumados com telepatas e manipuladores de magnetismo, mas uma garota com asas de inseto que cospe bolas de fogo? Se alguns poderes beiram a bizarrice, outros são dificilmente compreendidos: apesar de sua importância e da boa atuação, o vilão Sebastian Shaw possui um poder que não será compreendido por boa parte do público: absorver e “refletir” energia. Alguns lapsos de lógica prejudicam a construção de personagens como, por exemplo, Emma Frost: nas primeiras vezes que ela se transforma em diamante (outro poder bizarro), ela parece assumir força sobre-humana. Entretanto, na seqüência da mansão soviética, ela é facilmente capturada neste estado por Erik e Xavier, sem oferecer nenhuma resistência física.

Ainda assim, por mais corrida que pareça, a complexa trama de “Primeira Classe” é muito bem costurada, capitaneada pela dupla Magneto / Xavier: interpretados respectivamente por Michael Fassbender e James McAvoy, os personagens brilham na tela e acrescentam um toque de profundidade filosófica ao filme. A relação entre ambos, embora tenha que dividir espaço com os outros personagens, é muito bem trabalhada e as atuações estão a altura de seus personagens. O único “porém” é a aparência jovial e descolada de Erik Lensherr, que não combina com o vilão clássico e calculista que ele viria a se tornar. Um marco do filme é a ponta de Hugh Jackman como Wolverine, que resulta em uma das situações mais engraçadas da produção.

Magneto atinge o limite de seus poderes. Tremei, humanos!

As atuações estão acima da média, exceto por um ou outro deslize (a cena em que Erik, ainda criança, grita após ver a mãe ser morta é ridícula). Outros defeitos persistem na parte técnica, principalmente nos efeitos especiais. De regulares a ruins, os efeitos do filme lembram os truques digitais usados em filmes da década de 90, ou mesmo no primeiro filme da cinessérie X-Men. Muitas vezes eles caem no limite do “tosco” e, não fosse a competência com a história é desenvolvida, causariam uma desagradável sensação de vergonha-alheia. Na outra ponta, contudo, está a fotografia, a ambientação e os figurinos, todos valorizando a época da Guerra Fria e situando definitivamente o mundo na Marvel no mundo real: o filme é tão bem feito nestes quesitos que vigora a sensação de realismo. À exceção de alguns poderes bizarros, os mutantes deste “Primeira Classe” parecem muito mais reais do que em qualquer outro filme da série. A trilha sonora é boa, mas não chega perto de ser algo excepcional. A única música memorável é a canção-tema de Magneto, exaustivamente repetida, e com certo exagero, durante o filme.

Por assumir uma responsabilidade titânica e coordenar uma trama com múltiplos personagens e inúmeras histórias paralelas, os louros de uma produção tão boa com certeza vão para o promissor Matthew Vaughn. Bem sucedido produtor de filmes independentes e diretor de pequenos hits como “Stardust” (meia-boca) e “Kick-Ass” (acima da média), Vaughn, mesmo não possuindo o mesmo tino criativo que seu contemporâneo Christopher Nolan, se sai brilhantemente neste seu primeiro blockbuster, dando a volta por cima dos defeitos do roteiro e acrescentando uma nova dimensão nos mutantes da Marvel. Apesar de cheia de imperfeições, se olharmos o total da obra, veremos um filme excelente, com os mesmos toques revolucionários e os desfechos trágicos da nova franquia de Batman.

O espectador sairá engrandecido da sala de projeção: sim, apesar de alguns defeitos na trama, “X-Men: Primeira Classe” é um recomeço magnífico à franquia da Twentieth Century-Fox. Resta saber se, da mesma forma que a seqüência de “Batman Begins” (“O Cavaleiros das Trevas”) superou exponencialmente o original, a seqüência deste “Primeira Classe” fará o mesmo.

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NOTA: 7,0

Um comentário:

  1. Sua visão e comparação entre a importância de Batman Begins e X-Men - A Primeira Classe é perfeita e importante.

    Parabéns pelo texto. Amei o filme.

    Só achei que ficou faltando a cena depois dos créditos. Mas, isso é detalhe de um nerd. kkk

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