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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Lolita (1962)



A sensualidade é um atributo que poucos filmes conseguem alcançar sem que o "glamour" seja descartado. Acontece que o apelo erótico para dar esse ar mais sensual aos filmes sempre acaba tornando a obra menos charmosa, pois com um uso abusivo a obra se torna mais exagerada do que equilibrada. Não estou dizendo que todo o filme com alguma cena erótica acaba perdendo o charme, mas convenhamos que são poucos que não utilizam o tal artifício para atingir o almejado status glamour.

Baseado no clássico de Vladimir Nabokov(também assinou o roteiro), Lolita é uma obra única que consegue trazer um aspecto atrativo com nenhum outro sem que use clichês dos chamados thrillers eróticos para a conquista do espectador. Kubrick acaba por nos deixar encantados somente com uma história simples, mas muito bem contada e também demonstrando-se como um já habilidoso cineasta que sabe contornar todos os obstáculos para que um aprofundamento como poucos fosse realizado.



O professor europeu Humbert Humbert vai aos EUA para lecionar em uma universidade. Instalando-se em uma casa onde vivem Charlotte e Dolores Haze, mãe e filha, respectivamente. Logo na primeira vista, Humbert se sente completamente seduzido por Dolores, mais conhecida como Lolita. No entanto, a viúva Charlotte se apaixona pelo professor e ambos se casam, somente para que Humbert fique mais próximo daquela que ele denomina como ninfeta.

Poderia vir a se tornar lotado de subtramas que atrapalhariam o andamento da narrativa principal somente para que o longa fosse arrastado. Mas a metragem extensa(152 minutos) é justificada pela entrada de personagens que servem de forma muito eficiente ao desenvolvimento da trama para que todas as características de cada indivíduo constituem uma linha como um todo, não gerando uma série de focos narrativos desconexos.



Aliás, falando em situações desconexas, há um fator marcante que é o fato de Lolita poder ser considerado também um road-movie que, na maioria dos exemplos deste gênero, podem ser considerados filmes preguiçosos por aproveitarem o deslocamento e mudança de espaço para que não pareça uma história nonsense, porém, temos um exemplar que mesmo utilizando-se de trocas de espaços em quantidade moderada não acaba por criar focos distintos, mas sim tratando de um mesmo assunto que é o relacionamento entre Humbert e Lolita.

Inclusive, James Mason e Sue Lyon estão claramente criando uma química muito improvável, mas que cumpre seu objetivo de forma muito marcante. As atuações foram de suma importância para que não entendêssemos a figura de Humbert como um pedófilo tarado e Mason realiza essa tarefa de forma perfeita, mesmo que sua atuação não possua atributos revolucionários. Lyon, no papel de personagem-título, está com uma aparência inocente, ao mesmo tempo que transpire uma áurea sensual extremamente marcante. Tratando-se de um buddy film(com mais de um protagonista), o resultado dessa dupla é fantástico.




Mas não houve melhor atuação do que a do hilário e fantástico Peter Sellers, no papel do estranho e carismático Claire Quilty, que exigiu tamanha habilidade no controle da voz para que a presença da caracterização ficasse, desde suas primeiras falas, muito marcada. É compreensível que encarem a interpretação de Sellers como caricata e exagerada logo na primeira vista, mas sinto um ar crítico vindo dessa caracterização, principalmente, pelo fato de seu personagem é um "esnobe" de Hollywood. E, o mais interessante de tudo, é possível traçar comparações entre sua atuação aqui em relação com sua outra interpretação no excelente filme de Kubrick, Dr. Fantástico.

Um tema que o filme aborda, mesmo que nunca cite o termo ou faça alusão ao seu significado, é a pedofilia. Mesmo que Lolita seja denomina como uma "ninfeta", não pode ser tirado de nossas mentes que estamos presenciando uma menor de idade ao lado de um senhor, ou seja, é facilmente condenável que uma história que possua tal tema não o aborde de forma moralista. No entanto, acho que o filme ofereça um ponto de vista muito diferente do tal tópico e, vejam que o romance fora publicado em 1955, muito a frente de seu tempo. Prefiro denominar esta obra como uma comédia-dramática-romântica que, claramente, possui suas particularidades que jamais outra história ofereceu.

Com uma trilha sonora inesquecível e um roteiro muito habilidoso, este maravilhoso romance é extremamente bem dirigido e só é mais um motivo do porquê de Kubrick ter sido um grande diretor.

Nota: 9.0



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