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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

30 anos sem Glauber Rocha



Todos os que me conhecem sabem que nunca fui um fã de Glauber Rocha, nem mesmo da sua obra aclamada no mundo inteiro. Estou mais para um adepto parcial da teoria de Rubens Ewald Filho, que se refere à genialidade de Rocha como algo concentrado no início de sua carreira, na década de 60 e disperso nos períodos seguintes.

Apesar da minha empatia duvidosa com nosso aplaudido cineasta, uma coisa admito: Glauber foi único. Excêntrico, vivo, polêmico, odiado e idolatrado. Um ícone não só do Cinema Novo, mas de uma mobilização política que somente ele sabia expressar, seja no sertão brasileiro, nas terras africanas, ou na Europa.

No dia 22 de agosto , já se vão 30 anos desde que cessou a mente inquieta deste baiano de Vitória da Conquista. Assim, teço aqui pequenos comentários sobre algumas de suas obras. E deixo minha homenagem e uma constatação: antes de ser bom cineasta, Glauber Rocha foi um cineasta necessário. Necessário para o desenvolvimento do Cinema do Brasil, como identidade nacional. Podem considerá-lo bom ou ruim (como eu mesmo muitas vezes considero), mas devem assisti-lo.

O Pátio (1959)


Comentário: O primeiro contato de Glauber com o mundo cinematográfico de fato. Interessante em seu aspecto histórico da evolução de sua capacidade como realizador, porém, um filme experimental, uma iniciação que talvez fique confusa em sua própria maneira de se expressar. Simples, mas não convencional, talvez agrade àqueles que apreciam as primeiras experiências de cineastas em sua fase amadora.

Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964)



"Eu, José, com a espada de Abraão serei coberto.
Eu, José, com o leite da virgem Maria serei borrifado.
Eu, José, com o sangue de Cristo serei batizado.
Eu, José, na Arca de Noé serei guardado.
Eu, José, com a chave de São Pedro serei fechado.
Onde não me possa ver, nem ferir, nem matar, nem o sangue do meu corpo tirar."



Comentário: Apoteótico, o clímax do Cinema Novo é, além de brasileiríssimo, um faroeste das melhores safras clássicas. Corisco e Antônio das Mortes permanecem como dois dos grandes personagens da história do cinema no Brasil. O grande momento de Glauber Rocha.

Terra em Transe (1967)

Comentário: É a partir de "Terra em Transe" que a lentidão na condução de roteiros, que Rocha apresentaria em toda a sua carreira, começa a se proliferar. Apesar de tudo, continua um exemplar interessante sobre cinema político do Brasil. As semelhanças com o cinema de Godard não ajudam muito, mas continua com um bom desempenho.

Cabeças Cortadas (1970)


Comentário: Vivo, louco, teatral. Este primeiro trabalho estrangeiro de Glauber Rocha é intenso, apesar de lento. Tenho um carinho especial pela trilha sonora, que me cativa bastante. Os acertos superam os erros, neste que foi o último da "boa safra" do realizador.

O Leão de Sete Cabeças (1971)


Comentário: Perdido entre críticas ao capitalismo e citações do apocalipse, "O Leão de Sete Cabeças" é a confirmação da fase extremamente simbolista que o cineasta seguiria a partir daí. O começo da dissolução da genialidade, que geraria o fim...


Câncer (1972)

Comentário: Sabemos o quanto é difícil retratar de forma onírica no cinema a violência. Neste caso, podemos dizer que Glauber "violenta a figura da violência" com uma experimentação irritante. Lembro-me dos comentários de Hugo Carvana, protagonista do filme, que diz até hoje não ter assistido ao filme. Só sabe que fez um filme chamado "Câncer", mas não como ele é, nem o que conta.
Claro (1975)




Comentário: Talvez indiscutivelmente o pior filme do diretor. Defini-lo-ia como um diário de bordo desorganizado, que não se soube escrever. Incrivelmente subjetivo, mantém o público frio em relação a imagem.


Di Cavalcanti (1977)


Comentário: Antes de ser um filme, "Di Cavalcanti" é uma homenagem sincera a um amigo. Glauber volta a um momento de regularidade neste mini-documentário que retrata o funeral de um dos grandes expoentes das artes plásticas no país.





"Alô Alô Brasil, Alô Alô América Latina, Alô Alô Mundo, o assunto é Cinema"

Glauber Rocha


Ver também:




1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Glauber_Rocha

2. http://www.tempoglauber.com.br/

3. Livro: Revisão crítica do Cinema Brasileiro

4. Livro: A Revolução do Cinema Novo

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