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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Planeta dos Macacos: A Origem (2011)


"This... is... SPARTAAAAA!"


Hollywood não tem a fama de tratar as seqüências de seus filmes com muito carinho. Muito menos os seus remakes. Neste ano de 2011, talvez como um prelúdio para o desastre maia anunciado para o ano a seguinte, os cinéfilos se depararam com o maior número de seqüências e remakes da história do cinema americano: mais de vinte somente no primeiro semestre. Falência do modelo criativo do ainda (mas bem na beira do abismo) mais pujante cinema do mundo? Aumento da concorrência com as produtoras estrangeiras? As causas não importam muito; o que deve ser ressaltado é que, por mais ruim que possa parecer a safra abundante de continuações deste ano, é surpreendente como muitas delas – pelo menos as mais badaladas do ano – conseguiram honrar as virtudes de suas obras originais, até mesmo exaltá-las. Foi um ano de agradáveis surpresas, seja nas animações (“Kung Fu Panda 2”) como no terreno dos super-heróis (“X-Men: Primeira Classe”). “Planeta dos Macacos: A Origem”, que tinha tudo para ser o abacaxi que todos esperavam, conseguiu se juntar ao time das boas obras do ano e provar que, pelo menos momentaneamente, os executivos de Hollywood aprenderam a cuidar bem de suas crias.

Nada mais improvável e duvidoso do que tentar ressuscitar uma franquia que, pelo altíssimo padrão de seu exemplar original e pelos conceitos já ultrapassados de sua história, não possui hoje o mesmo apelo que tinha outrora. Renovar é preciso, mas renovar uma obra que é tida por muitos como um clássico inconteste da ficção científica? É como redesenhar Mona Lisa: há a honra da obra original, há o temperamento instável dos fãs e há, como sempre, a pressão de um bom desempenho crítico e comercial. Em um evento que acontece pouquíssimas vezes entre os grandes blockbusters, “Planeta dos Macacos: A Origem” não só superou todos estes obstáculos como, a despeito de uma ou outra falha, conseguiu sagrar-se como uma obra verdadeiramente épica, daquelas que arrancam aplausos da platéia nos momentos de triunfo de seus protagonistas.

Oh, que dó, que dó...

É visível o cuidado que os roteiristas tomaram com a nova versão para a origem da revolução dos símios. A história tem um andamento próprio, independente, mas jamais se esquece de conectar-se com os elementos que fizeram a fama do filme original. São pequenos detalhes que, para a alegria dos olhos mais atenciosos, conseguem dar uma grande dimensão ao universo característico da saga: a expedição dos astronautas à Marte, a explicação sutil (mas ainda assim apavorante) para o extermínio dos seres humanos... tudo isso se encontra em elementos que não importam muito na história DESTE filme, mas que farão toda a diferença nos eventos que se seguem após o surgir dos créditos.

A história, cuja natureza flerta com a dominação global, desenvolve-se sempre na visão intimista do símio-revolucionário César, e é deveras impressionante como os roteiristas conseguiram criar uma trama que mescla a grandiloqüência revolucionária dos macacos com as tribulações de seu personagem principal, sem as quais, deve-se notar, a revolução jamais teria acontecido. César é uma grande criação (não brilhante, mas boa o suficiente para ser memorável): interpretado pelo mesmo ator que deu vida ao eterno Sméagol (“meeeeeu... preciooooso...”), César é uma figura que começa simples e vai sendo desenvolvida com notável precisão pelos roteiristas. Há uma empatia respeitosa entre o público e o personagem: um misto de amor e temor com um ser que, afinal, será inimigo de toda a raça humana.

A nova e a velha geração. Sim, nesta ordem mesmo...

E, para dar vida a César e sua trupe de símios evoluídos, temos a Weta, produtora cuja fama após os efeitos de “O Senhor dos Anéis” é tão grande que, nos pôsteres do filme, não veio o nome do diretor, nem dos atores, mas um grande aviso: “Da mesma criadora dos efeitos de ‘O Senhor dos Anéis’”. É raríssimo que, para atrair o público, os marketeiros usem uma produtora de efeitos visuais. E a Weta sabe como manter a própria reputação: o realismo de “Planeta...” é incomparável. Concentrada no desenvolvimento dos símios, a produtora conseguiu aprimorar o que já havia feito com Sméagol e criar um ser assustadoramente real. O que impressiona não é que os efeitos são bons, mas que são TÃO bons que nem parecem ser “digitais”. Não costumo dar muita atenção para um aspecto que, depois de “Matrix”, se tornou muito clichê e aperfeiçoado para gerar qualquer surpresa (não, não achei os efeitos de “Avatar” uma grande coisa), mas tenho que admitir mais esse triunfo do filme.

O foco de tudo são os símios, não os humanos, e então resta ao badalado James Franco e a todos os outros atores de carne-e-osso uma imagem sem muito destaque na trama. Os humanos estão todos na média; alguns estão muito estereotipados (os zeladores do cativeiro de César, então! É possível ler a frase “sou um vilão” escrita nas testas de cada um!), mas esse “apagamento” dos humanos não prejudica em nada a trama; na verdade, acrescenta-lhe muito realismo e funciona como um prelúdio para a transição de eras: o fim da hegemonia dos homens e a ascensão dos macacos.

Sempre achei que eram os felinos que iam fazer uma revolução... mas tudo bem...

“Planeta...” não é perfeito, mesmo tendo um grande potencial para ser. É um filme tão bem-feito que chega nos esquecemos que seus propósitos originais eram puramente mercantis. Sua natureza comercial forçou-lhe a ter uma duração muito menor do que merecia. O filme, por mais épico que consiga ser em seus momentos finais, se acaba dolorosamente rápido. Acompanhamos muitos momentos de intensa profundidade emocional com uma velocidade de papa-léguas: César cresce espantosamente rápido, e em menos de trinta minutos já o vemos adulto. O relacionamento entre o doutor Rodman e Caroline é tão rápido que jamais soa convincente. Mas o mais instável em todo o filme é a relação entre Rodman e seu chefe, Jacobs. Chega a ser hilário como os dois mudam de idéia tão rápido: o primeiro começa super-insistente para poder prosseguir com as suas pesquisas enquanto o outro é cauteloso e relutante ao extremo; na segunda metade do filme, os papéis se invertem e, enquanto Jacobs tentar dar continuidade à pesquisa a todo custo, Rodman se demite! O momento em que os dois “trocam” de opiniões é tão instantâneo que se passa como outro momento descartável do filme, como se os roteiristas não tivessem tido muito tempo para lidar com esse aspecto – e, de fato, não tiveram.

“Planeta dos Macacos: A Origem” peca pela sua pressa, que termina rebaixando a sua natureza genuinamente grandiosa. Fora isso, é um filme cheio de energia que sabe homenagear com extrema esperteza o clássico de 1968 e prender a atenção do espectador. Um grande remake que não só honra o espírito da série como também lhe promete um promissor recomeço. Aplausos, que ele merece!

[EM OFF] Mas que gata, hein!

NOTA: 7,5

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