Biutiful é mesmo belo.
Iñárritu acertou de novo. "Amores Brutos", "21 gramas" e agora "Biutiful". De forma magestosa, o diretor soube explorar de uma nova forma a beleza da melancolia, da certeza do fim eminente e da angústia de não controlar o amanhã, temas recorrentes em sua filmografia. Sem conhecê-lo diria que foi ou ainda é alguém muito triste. Suas películas revelam isso. Mesmo depois de mergulhar de modo multidimensional na tristeza da viúva Cristina Peck, personagem interpretada por Naomi Watts em "21 Gramas", o diretor mostra toda a sua capacidade para explorar a tristeza. E Uxbal é o responsável por transmitir uma nova face da melancolia nas telas, sob a digna leitura de Javier Bardem para um pai de uma família desestruturada, envolvido com trabalho escravo de imigrantes asiáticos e que guarda em irrestrito segredo que está com um câncer em estágio avançado.
O fim. Trabalhando essa certeza uniforme que mora em nossas vidas, que nos tira o sono e se confirma com o envelhecer dos rostos e com o passar dos dias, "Biutiful" consegue a proeza de nos fazer mergulhar nesse entendimento, fazendo o espectador presenciar não só a dor de um fim eminente, como tantas obras já fizeram, mas permite também ao espectador observar o impacto disso numa vida maltratada e mal resolvida de um homem solitário e rodeado de problemas de toda ordem. É o típico filme no qual cabe ao espectador concluir as lições que deseja tirar daquilo que foi projetado. Nem mesmo a idéia que o diretor trabalha a respeito do pos-mortem soa forçada ou fruto de uma visão fanática, jamais vinculando quem assiste. O final enigmático revela-se adequado, nesse sentido.
A fotografia escurecida dá um tom decadente aos cenários sujos e aos ambientes calejados pela pobreza e pelo desleixo com o qual são tratados pelos personagens. Barcelona nunca esteve tão cinzenta, fria e crua. E é nesse cenário que Javier Bardem, ator multicetado, surge como o cerne da obra, compondo com muito profissionalismo e densidade um homem em franca decadência física e de uma tristeza entranhada nos mais recônditos espaços da alma. Falta ao homem opções, fugas ou soluções para seus problemas. As dificuldades da vida não são mais pungentes do que a (in)certeza da morte? Diante do que vive Ubxal, fica a dúvida.
Falta paz de espírito para este homem que ama uma mulher drogada e bipolar, que tem filhos pequenos e necessitados de carinho, que trabalha agenciando mão-de-obra escrava em condições sub-humana e que vê espíritos em todos os lugares por onde anda. Além disso, sua doença em estágio avançado, evolui a passos largos, conforme a rica interpretação da decadência física de Uxbal composta por Bardem não deixa mentir.
Diante desse quadro, importante que se diga que não se trata porém de um poço de melancolia em forma de filme, mas sim da certeza de como espectador sabermos, assim como Uxbal sabe, de que tudo é passageiro e os momentos de felicidade estão isolados e fadados a uma inevitável fagocitação por uma situação muito mais gravosa e detrimentosa para toda aquela família e todo o núcleo que está a volta de Uxbal. Inárritu apresenta uma obra rica, melancólica e coesa que nos mostra por meio de um ambiente massificado pela dor, a história de um homem calejado pela vida e perseguido pela morte. Sim, isso é triste, mas não deixa de ser belo.
Nota:. 8.5
Na minha opinião, um dos melhores do ano. Grande atuação de Bardem. Otimo texto! Abs
ResponderExcluirEste tipo de drama sobre doenças não está entre meus gêneros preferidos e acabo deixando sempre para depois, mesmo quando é um bom filme, como parece ser este caso.
ResponderExcluirAbraço
Sim, isso é triste mas não deixa de ser belo. É uma aula sobre a vida, não mostrada de uma beleza clichê numa Barcelona brilhante. E um filme maravilhoso. E ótimo texto, falou tudo! Só posso assinar embaico.
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