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domingo, 30 de outubro de 2011

Eu Sou o Número Quatro (2011)




Atenção: este texto revela detalhes importantes sobre o filme.


Depois da minha decepção com o filme Jumper, por este se tratar de um novo filme de herói completamente saturado de clichês, fui assistir ao filme Eu Sou o Número Quatro esperando algo ainda pior. E, assim que descobri que este era dirigido pelo mesmo diretor do fraco Paranóia, perdi minhas esperanças na hora que comprei os ingressos para o filme. Mas não é que me surpreendi?

No filme, nove crianças dotadas de poderes e os seus guardiões são os únicos sobreviventes de uma guerra em Lorien, seu planeta natal, e instalam-se na Terra. Os Mogadorians, espécie responsável pela destruição de Lorien, decidem perseguir os sobreviventes até o planeta Terra. Então, para melhor proteção, as nove crianças são enfeitiçadas de maneira a permitir que elas só sejam mortas na sequência para dificultar o trabalho dos seus inimigos. E, assim que cada criança morre, as outras são marcadas. O protagonista do filme recebe três marcas, mostrando que as três primeiras crianças já morreram, e sabe que... ele é o Número Quatro.

Sei que o filme é baseado no primeiro volume da série “Os Legados de Lorien”, mas tenho certeza de que o filme não correspondeu às expectativas dos leitores, e muitos se decepcionaram. Por isso, prefiro analisar o filme separadamente.

É inevitável comparar este filme com Crepúsculo. Realmente, o romance do filme é, em diversos aspectos, parecido com o da saga vampiresca. A diferença é que, enquanto o filme de Catherine Hardwicke é narrado pela perspectiva da mocinha da trama, o filme de D.J. Caruso é narrado pela perspectiva do herói. O problema disto é que a ação acabou sendo mais focada do que a história e o romance, deixando o filme um tanto desequilibrado. Mas, por outro lado, Eu Sou o Número Quatro não contém diálogos tão melosos e clichês entre os seus protagonistas. Não tanto quanto os de Crepúsculo, pelo menos.


Outra diferença é que, nesse filme, o herói não é um vampiro, mas sim um alienígena. Muitas pessoas acharam absurdo o fato de que os alienígenas do filme são tão parecidos com os seres humanos. Não achei isto porque, em primeiro lugar, todos os alienígenas de filmes são, de certa forma, parecidos com os seres humanos. Todos têm braços, pernas, olhos, etc. A única diferença é que uns são mais monstruosos (tem pele escamosa, dentes afiados e coisas do tipo) enquanto outros são, digamos, mais “normais”. Em segundo lugar, acho que todo mundo aqui conhece o Superman. Ele é, talvez, o herói mais conhecido e idolatrado do mundo. A primeira edição da HQ do herói, raríssima, é considerada a revista mais cara de todos os tempos, custando cerca de 1,5 milhões de dólares. Mas tem um problema: o tão idolatrado homem de aço... é um extraterrestre. Sim, todos sabem que ele veio de Krypton, um planeta cujos habitantes são aparentemente idênticos aos seres humanos. E isso não impediu a sua fama pelo mundo. Sabe por quê? Porque, por mais que existam hipóteses, ninguém sabe como realmente são os extraterrestres (se é que eles existem). Portanto, eu não acho absurdo os extraterrestres do filme serem tão parecidos com os humanos. E, mesmo assim, antes isso do que um vampiro que brilha no Sol e que tem super-velocidade.

Todavia, o filme tem seus defeitos. Os atores principais, escolhidos por sua beleza e aparência física, não fizeram nada demais. O protagonista é capaz de arrancar suspiros das garotas, assim como as atrizes Dianna Agron e Teresa Palmer podem enlouquecer a platéia masculina. Mas devemos sempre nos lembrar que beleza é diferente de talento. O que demonstra a qualidade do ator é o talento, a habilidade, a capacidade de viver o personagem. Isso não acontece nesse filme. Aqui, temos atores que apenas cumpriram seus papéis. Nada mais do que isso.

Além disso, outro problema do filme são os erros de filmagem. É impossível não perceber alguns deles. Como, por exemplo, quando Bernie Kosar se transforma em um monstro, ele destrói a picape, mas no final do filme lá está ela, inteirinha (?!). Ou, quando ocorre aquela explosão absurda no final, o cabelo de Sarah fica todo bagunçado, mas na próxima tomada ele está completamente arrumadinho (?!). Aliás, falando na Sarah, como foi que ela conseguiu aquelas fotos arremesso do John, se ela pegou sua câmera depois do tal arremesso?

Sem falar que o filme conta com alguns dos velhos clichês que já conhecemos: o herói que aprende a controlar seus poderes de uma maneira incrivelmente rápida; o final feliz, na qual os vilões tentam se redimir com os mocinhos e o casal protagonista promete se amar a vida toda (o famoso “felizes para sempre”), etc.

Mas, em compensação, o filme conseguiu fugir de outros clichês graves. Um deles, que me irrita bastante nos filmes de herói, é que o protagonista é um cara normal, com uma vida comum, até que, normalmente na adolescência, ele descobre que tem poderes super legais, e sai por aí enfrentando valentões e “botando pra quebrar” (como no caso do filme Jumper, por exemplo). Mas em Eu sou o Número Quatro isso não acontece. O protagonista já sabe que não é humano, que tem que se esconder dos Mogs, e que é o Número Quatro da sequência. Seus poderes também se manifestam na adolescência, assim como na maioria dos heróis, mas isto até que tem lógica, pois é na adolescência que ocorre a maior produção de hormônios e mudanças no corpo.

Os efeitos, a trilha sonora e a fotografia do filme também não ficam de fora. O filme teve um orçamento de US$ 60 milhões, e como os atores não são tão experientes nem tão conhecidos, podemos concluir que boa parte do dinheiro foi gasto com a parte técnica. Mas, pelo visto, valeu à pena. Os efeitos do filme são impressionantes, nos garantindo ótimas cenas de ação. A trilha sonora, contando com bandas como Kings Of Leon e The Black Keys, também é fantástica. E o diretor de fotografia do filme, Guillermo Navarro, que é o mesmo do grandioso O Labirinto do Fauno, fez um excelente trabalho, pois a fotografia é deslumbrante e maravilhosa. Visualmente falando, o filme é perfeito!


Pelo final do filme, parece que teremos uma continuação. Não tenho muita esperança, mas acho que, se o diretor do próximo filme (seja D.J. Caruso ou não) deixar o romance um pouco mais de lado e trabalhar melhor na história do filme, que neste foi mal desenvolvida, poderemos ter um resultado superior.

Enfim, apesar de alguns clichês e de alguns notáveis erros de filmagem, o saldo final acaba sendo positivo. Recomendo o filme para quem estiver à procura de diversão, ou algo para descontrair, principalmente o público adolescente.


Nota: 6.0

Gigantes de Aço (2011)



Gigantes de Aço e o abismo ao outro...

Pensar o desenvolvimento tecnológico implica pensar em mudanças comportamentais geradas pelas distâncias espaciais e temporais cada vez menores. Se, até certo tempo, o correio era um dos meios de comunicação mais empregados, hoje, as respostas praticamente imediatas do e-mail e do chat tornam-se imprescindíveis no mundo hiper-veloz e fluido da contemporaneidade. Entretanto, em meio a tanto aprimoramento nas tecnologias, as relações humanas continuam oscilando entre dilemas cada vez mais complexos, mas que, ao mesmo tempo, remetem a contextos anteriores.

Guardando grandes semelhanças com Falcão – O Campeão dos Campeões e a cinessérie Rocky, Gigantes de Aço (Real Steel, 2011, Shawn Levy) versa sobre Charlie Kenton, um treinador de robôs de luta que, na vida familiar, ganha mais pontos por sua irresponsabilidade do que por sua competência. Quando sua ex-esposa falece, ele precisa decidir se seu filho Max possa permanecer sob sua custódia ou da sua cunhada, Debra. A pedido do esposo de Debra e com uma grande quantia de dinheiro envolvida, Charlie aceita permanecer com o menino por duas semanas, enquanto o casal viaja de férias por algum lugar paradisíaco. A princípio, seguindo a cartilha “pai e filho que não se bicam”, o robô lutador torna-se elemento essencial para a reparação dos erros e culpas do passado, servindo para a condução do relacionamento a um equilíbrio.


Contando com um dos clichês mais batidos da história do cinema, o roteiro e a direção do longa ganham pontos somente pelo modo como conduzem os elementos fantásticos da narrativa: a ficção científica torna-se mais próxima da realidade. Os ringues e rodeios em que os robôs lutam de modo algum se distanciam das vaquejadas ou dos UFCs que acompanhamos semanalmente na TV, fazendo-nos perceber o quanto estamos próximos da nossa visão do futuro, à medida que estamos mais distantes uns dos outros. Quanto ao elenco, Jackman não se furta das grosserias à la Wolverine, assim como Evangeline Lily também carrega ecos de sua Kate, mas ambos funcionam em cena. Quanto ao restante do elenco, trabalham corretamente para o tipo de longa que jamais lhes pediria para fazer mais do que o necessário para não torná-lo insuportável.

Mesmo com efeitos especiais excelentes, as desnecessárias duas horas para um mote tão simplório terminam atendendo somente às expectativas de quem procura diversão descompromissada, o que torna a experiência entediante em alguns momentos.

Nota: 5,0


A Serbian Film - Terror Sem Limites (2010)


Há um consenso que o Cinema, enquanto arte visual, não possui limites definidos. Em campos metafóricos, a criatividade de um artista é o principal meio para dilatar seus horizontes, ir além de terrenos que já explorados e passos já estabelecidos. Depois disso se torna opção do cineasta dar vida às “intenções” da obra, se sua ambição é fincar-se somente na base do entretenimento, ou construir um veículo que alcance grandes projeções, seja por um possível engajamento político-social ou pela difusão de um tema que caiba aos espectadores, individual e socialmente falando. E A Serbian Film - Terror Sem Limites carrega essas pretensões, eventualmente esbanjadas nos recursos gráficos que projeta em tela, ilustrações essas que, segundo defensores do projeto, não são de nenhuma gratuidade ou apelo vazio.

Naturalmente dirão que esse filme é “um tapa na cara dos puritanos” e do convencionalismo do mercado cinematográfico; com isso, é de interesse do projeto explorar os territórios mais extremos do ato sexual, da violência e do sadismo, unidos para tecer a trajetória de ex-ator pornô que, após muito tempo afastado de seu trabalho, recebe uma proposta tentadora de um visionário diretor, uma promessa que ajudará financeiramente sua família. No meio disso tudo há a dita “crítica social”, bem como um pretenso conflito proposto entre os limites da arte/criatividade e até onde ela pode atingir a vida (definido pela figura do lunático cineasta). Durante 4/4 do filme somos apresentados a um cenário que visa mesclar as sensações da platéia: da repulsa à revolta; do nojo a indiferença. O problema maior é que se passa o tempo e não vemos justificativas para aquilo (e elas nunca chegam, provavelmente por nunca ter havido alguma), de modo que a imagem que se estabelece ali passa a ser tão significativa quanto o nada.

E essa seria a mais apropriada definição para a exibição de Serbian Film: o vácuo. Seja qual for a meta de seu criador ela se perdeu antes mesmo do filme ganhar uma forma. As imagens que vão da brutalidade do sexo à tortura física surgem com um propósito muito bem delimitado: o de chocar. Apenas isso. O fiapo de história e todos os departamentos existentes para a confecção de uma película estão lá somente para que aquilo tudo seja reconhecido como cinema. Dessa forma, assistir a Um Filme Sérvio é o mesmo que procurar na internet algum vídeo de assassinato, tortura, ou qualquer barbárie dessa espécie - irá provocar uma reação adversa (dependendo da pessoa, claro), mas será completamente efêmera, do mesmo modo que o próprio vídeo (e o filme).

A Serbian Film falha em todos os quesitos possíveis de avaliação de um filme: da narrativa ao desempenho dos atores; da manutenção estética à construção atmosférica (no que tange um mistério por trás daquilo tudo). No fim, o impacto causado pela extremidade das imagens do longa se dissolve, evapora durante um piscar de olhos, deixando simplesmente a lamentação de minutos perdidos com uma apelação ordinária dispersa ao léu, crente de que está transcendendo os limites (e o subtítulo nacional deixa até bem clara essa pretensão) de uma arte e, com isso, cuspindo na cara do moralismo, quando na verdade se revela um grande vazio revestido em celulóide. Chamar isso aqui de cinema é até exagero.

Nota: 0.0

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Estréia do longa "Vida de Calouro" é marcada por aplausos e críticas

Notícia originalmente publicada em 


A estréia do longa-metragem humorístico "Vida de Calouro" foi marcada pela agitação: durante a sessão, risos e aplausos; após, um debate não só sobre a Universidade Federal de Sergipe como também de críticas e elogios à produção.

O filme, com duração aproximada de uma hora, contou com a presença de alunos e funcionários da UFS e dividiu a opinião do público. "O que está sendo mostrado no filme não é a UFS como um todo. É um bom filme, levando-se em conta a sua proposta, mas não é um filme que mostra a realidade total da UFS", comentou o funcionário administrativo Gerri Araújo.

"É uma obra hilária e uma iniciativa extremamente corajosa", comentou o aluno de Direito Bruno Santana. Aspectos técnicos também foram elogiados, como na opinião de Camila Burity: "Eu quero parabenizar principalmente o uso da trilha sonora, que está simplesmente perfeito." O professor Afonso Nascimento comentou que a obra "possui lampejos de genialidade" e notou que "em umas horas, parece um filme de Michael Moore e, em outras, segue um estilo meio Orson Welles".



Mas a aceitação não foi unânime. Durante a sessão de debates, aberta após a conclusão do filme, houve uma acalorada discussão entre os defensores e os descontentes com a produção. "Eu vim aqui com uma idéia totalmente diferente da que foi apresentada. Parabenizo a iniciativa, mas nada além disso. O nível do humor é muito baixo, simplesmente desrespeitoso", disse um aluno de Comunicação Social. Participantes do movimento estudantil "Chega de Migalhas" criticaram a forma com que foram retratados na obra:

"Este filme não retratou a real natureza de nosso movimento nem forneceu informações corretas ao seu respeito. Uma parte da obra dizia que nossas exigências foram atendidas pela Reitoria, o que não ocorreu, e ainda estamos lutando por elas."
"O humor deste filme chega a ser extremamente desrespeitoso com o movimento e passa uma idéia totalmente equivocada sobre nossa luta." 
"Isso não é um documentário e nem mesmo pode ser considerado um 'filme'. Está mais para as esquetes do 'Pânico na TV'. A obra não se compromete com nada e nem mesmo procura retratar a fundo os problemas da UFS."  
Entre as opiniões contrárias:
"Eu não vi nenhum tipo de desrespeito no humor desta obra. É claro que a obra não retrata profundamente a UFS, mas esta é a proposta dela, não é? Para o que ela se propôs, é uma produção muito bem feita."
"Nunca foi intenção do dele (diretor do filme) retratar o movimento estudantil. Isso é tarefa de vocês (integrantes do movimento "Chega de Migalhas"). Não é trabalho dele entrevistar os integrantes do DCE, mas o de vocês! Ele fez uma obra com uma proposta que nada tem a ver com a de vocês e, em todos os anos em que eu estudei nesta universidade, eu nunca vi um aluno lançar uma iniciativa como esta. Vocês, que deveriam justamente ter feito algo parecido, não fizeram nada!"

A exibição do filme também foi acompanhada e coberta pelo programa "Olha Aí", da TV Aperipê, cujas reportagens são exibidas nos sábados, ás 20:30 (horário local), com reprises nas quartas-feiras, às 23:00 (horário local).


*Poucas fotos ficaram em posse do diretor Diogo Cysne. As imagens capturadas pela equipe do Olha Aí serão apenas exibidas na TV Aperipê.

Nova York, eu te amo (2009)


Reunir diretores de estilos e nacionalidades distintos sempre é um negócio arriscado, tal qual dar um tiro no escuro. Mas o resultado também pode tender muito mais para a positividade, como atesta Nova York, eu te amo (New York, I love you, 2009), uma compilação de dezenas de pequenos filmes sobre uma das cidades mais esquadrinhadas, analisadas, amadas, homenageadas, romanceadas e desejadas de todo o mundo. Presente em vários títulos, ela é a alma, o corpo e o coração de lindas histórias, contadas por uma seleção caprichada de atores e cineastas. Entre os nomes envolvidos na produção, figuram nomes que não são novaiorquinos, nem mesmo estadunidenses. Podem-se citar, por exemplo, o alemão de raízes turcas Fatih Akin (Do outro lado), os indianos Mira Nair (Feira das vaidades) e Shekar Kapur (As quatro plumas) e a israelense Natalie Portman (Closer – Perto demais). O filme é uma espécie de primo de Paris, te amo (Paris, je t’aime, 2006), que reuniu 23 curtas de 5 minutos para render graças a Cidade Luz. Parece que houve uma certa inveja dos moradores dos EUA, que motivou uma espécie de resposta à altura ao longa francês. Melhor para os cinéfilos, que se esbaldam com um grande apanhado do que há de melhor na safra recente de realizadores. Cabe afirmar, entretanto, que o resultado final de Nova York, eu te amo fica um pouco aquém do de Paris, te amo, talvez muito mais por questões de ordem subjetiva.

Enumerar detalhes e características de cada diretor e de cada história não é o escopo dessa crítica, mas algumas delas merecem ser comentadas. A primeira de todas traz uma envolvente competição entre os personagens de Hayden Christensen e Andy Garcia por uma mulher. Tudo começa em um táxi, veículo que reflete a pressa e o frenesi de uma grande metrópole. Ben (Christensen) acaba dividindo o carro com um desconhecido em uma tarde chuvosa. Depois, a história se encaminha para um bar, que serve de cenário para um divertido jogo de gato e rato entre os personagens. O segmento é dirigido por Allen Hughes, que, em parceria com seu irmão, foi responsável anteriormente por Do inferno (From hell, 2001). Para um início de filme, a história é bem simpática, e revela uma faceta algo malandra de Nova York.

Ao longo de seus 110 minutos de projeção, o filme exibe uma galeria de tipos que, em sua maioria, são memoráveis, e abre espaço para alguma pirotecnias narrativas e cênicas, e deixando espaço para intérpretes tarimbados realçaram seu traquejo para encarar papéis diferentes. Um outro curta que certamente chama a atenção do espectador é o que brinca com as idas e vindas de um relacionamento amoroso, e é protagonizado por Christina Ricci e Orlando Bloom. Os dois demonstram um bom entrosamento em cena, embora contracenem por apenas 1 ou 2 minutos. Presentes no segmento de Shunji Iwai, eles são velhos conhecidos de chamadas telefônicas, que só se encontram pessoalmente depois de uma série de pequenos desencontros. O lado mais passional da cidade que se encaixa em vários adjetivos e epítetos se revela aqui com toda a força, e é capaz de encantar um público ávido de romantismo e certa dose de idealização.



Um outro curta bastante interessante é protagonizado por Anton Yelchin, ator novato que vem conquistando espaço em Hollywood, vide a sua presença no elenco de O exterminador do futuro 4 – A salvação (Terminator 4, 2009). Ele vive um jovem que se envolve com uma garota paralítica, de quem está tomando conta para ajudar o pai dela. A paixão dos dois inicialmente apresenta contornos juvenis e hesitantes, mas o que se vê no início não é exatamente o que se concretiza poucos minutos depois. Decerto, esse filmete dirigido por Brett Ratner (Dragão vermelho, A hora do rush) é um dos mais surpreendentes de Nova York, eu te amo, pois subverte as expectativas que lança em seu prólogo. A direção de atores desse segmento é bastante eficiente, e ressalta o apuro dos roteiristas envolvidos em criar histórias consistentes.

A irregularidade é um detalhe que sempre se assinala em filmes episódicos, e é um dos clichês entre os críticos. Esse elemento aparece em Nova York, eu te amo, mas em uma escala muito pequena, insuficiente para comprometer o filme em sua macroestrutura. Como um todo, ele oferece uma sessão de qualidade para os apreciadores de uma boa história, e evoca a natureza múltipla de produções da década retrasada, como os painéis de diferentes horizontes orquestrados por Robert Altman em Short cuts – Cenas da vida (Short cuts, 1993) e Paul Thomas Anderson em Magnólia (Magnolia, 1999). Diferentemente desses dois, contudo, as trajetórias dos personagens de Nova York, eu te amo jamais se entrecruzam, tornando os cotidianos dos homens e mulheres de cada segmento um tanto estanque, para o bem e para o mal. Ainda assim, a coleção de curtas é uma experiência altamente válida e digna de atenção.

Em seu percurso pelas várias tramas costuradas sob o título acima, o público entra em contato com um dos aspectos mais sobressalentes da contemporaneidade: a fragmentação. Ao optar pela estrutura de pequeninas narrativas, os idealizadores do projeto trafegam pela via da obliteração de uma completude que já foi concebida e reclamada com mais intensidade em tempos precedentes. Cada um dos curtas tem duração inferior a 10 minutos, o que impede um apreço mais intenso por qualquer uma das histórias. Esse talvez seja o maior inconveniente do longa, em alguns momentos. Quando o espectador começa a se envolver com uma história, ele é abruptamente retirado dela, para conhecer uma nova, envolver-se rapidamente com ela, e deixá-la também, e assim sucessivamente. Vale ressaltar também que a palavra “amor”, evidente no título, assume diferentes camuflagens e análises, que endossam a riqueza do filme e reafirmam a sua condição de painel da multipolaridade humana no trato com esse sentimento.

Outro aspecto que salta aos olhos é a capacidade de mimetismo da cidade para abrigar os mais variados estilos de habitantes, trazendo novamente à tona uma peculiaridade dos grandes centros urbanos. Nova York é a urbe pulsante, o coração do mundo, com suas contradições e encantos, com seu lado deplorável e também com sua face encantadora. Como personagem que é, a cidade recebeu um olhar multilateral, e abriga pessoas em busca de um refúgio urgente para a coisificação do ser humano, caso da prostituta vivida por Maggie Q, que entra em um inteligente jogo dialético com o cliente em potencial vivido por Ethan Hawke, desmontando algumas convicções que já duram há muito sobre o amor. E também gente para quem o desalento alcançou níveis máximos, e que parece reclamar a companhia de seus iguais em alguma instância, tal qual demonstra a mulher desiludida de Julie Christie em seu encontro fortuito com o funcionário de um hotel encarnado com docilidade desconcertante por Shia LaBeouf. Ao acender das luzes desse poderoso exemplar de miscelânea audiovisual, pulsa no coração um sentimento de amor pela Nova York de cada um, que se materializa para além de qualquer referência espacial exata.

Nota: 8.0

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Trilha Sonora da Semana: "The Chickens are Revolting!", por John Powell e Harry Gregson-Williams

Atividade Paranormal 3 (2011)



Antes de tudo, quero deixar uma coisa bem clara: se você não gosta do subgênero “found footage”, então por que se dá ao trabalho de ir a um filme dele? O antagonismo de opiniões acerca desses filmes já vem desde que “A Bruxa de Blair” aterrissou nos cinemas e criou esta tendência: para alguns, se o filme era uma revolução no campo do terror, para outros ele não passou de uma bagunça visual e de uma regressão no cinema. Tenho a impressão que estas críticas, contudo, não são graças às falhas dos filmes, mas às características do próprio gênero. Acontece que, se você não suporta as peculiaridades técnicas dos “found footage films”, não tem como gostar de seus filmes; não há nem motivo para você ir vê-los. O “found footage” não é um estilo universal: se você não gosta dele, não gostará de nenhum de seus filmes. Se gosta, então poderá analisar os filmes pelas suas próprias características, não pelas do gênero.

Feitas as observações, vamos ao dito-cujo: “Atividade Paranormal 3”, herdeiro da franquia de horror mais singular e lucrativa dos últimos dez anos, não trás a mesma inovação do primeiro filme nem os sustos do segundo, mas apresenta novas jogadas que finalmente marcam um gol de placa para a série. Esta terceira incursão da franquia nos mistérios que assolam as famílias de Katie (protagonista do primeiro filme) e Kristi (do segundo) se propõe, antes de tudo, a uma tarefa sempre arriscada: juntar os nós dos filmes anteriores e concluir a saga. Esse é o seu maior triunfo e, estranhamente, a sua maior falha.

Se o filme anterior dava um passo atrás no tempo e mostrava o que acontecia com a família de Kristi, irmã da pobre vítima no primeiro filme, este filme regressa ainda mais e explica como toda a maldição começou: desta vez, Katie e Kristi, ainda crianças, é que terão contato com o Coisa-Ruim. A introdução do filme, que mostra como foram recuperadas as fitas desses eventos tão longínquos, já marca um ótimo ponto a favor do filme: ela é simples, eficaz e, de certa forma, apavorante. Ela esclarece um determinado evento de “Atividade Paranormal 2”, explica por que todo o mistério do filme estava centrado no porão da casa e, de quebra, aumenta a aura de perigo do demônio que sempre assola os protagonistas: mostra como a criatura faz parte de um mistério ainda maior.

É peculiar notar o como o fenômeno de “seqüências” funciona na série “Atividade Paranormal”: mesmo que todos os filmes conservem a fórmula de “filmagens reais”, cada qual parece inteiramente diferente do outro. Todos possuem novos personagens, novos ambientes e sabem muito bem expandir a história introduzida pelo primeiro filme. “Atividade Paranormal 3”acaba como o mais diferenciado da série, apelando para história em detrimento dos sustos. É claro, o filme é terrivelmente apavorante, mas possui um quê de comprometimento ainda maior com a solução de todo o mistério. Diferente do segundo, que é uma salada variada dos mais apavorantes e eficientes sustos da história do cinema, este terceiro incrementa a tensão, que nem sempre levará ao susto que estamos esperando tomar. Mas, ao contrário do primeiro filme, que caiu fácil na armadilha de “jogar balde-frio” no espectador, este terceiro sabe calibrar ambos os elementos e concluir a história com eficiência.



Sim, os sustos estão menos abundantes, mas a forma com que eles são executados está mais madura. Deixando de lado as sombras misteriosas ou os barulhos demoníacos (eles ainda estão lá, mas em muito menor destaque), o filme constrói novos truques, entre os quais estão uma cena envolvendo um lençol e a personificação do demônio na figura de Toby, o amigo não-tão-imaginário-assim de Kristi. Esta última é, de longe, a mais apavorante idéia dos produtores da franquia: o fato do demônio ser tratado não mais como uma força desconhecida, mas como um sinistro parceiro de uma das protagonistas, acrescentou um novo nível de adrenalina à série. Mas se ele foi eficiente em alguns pontos, outras possíveis fontes de ótimos sustos foram subaproveitadas: a câmera “rotativa”, uma novidade na série, não serviu para muita coisa nem acrescentou nada em relação às similares “estáticas”.

O ponto alto, como disse, é o desenvolvimento da história, que finalmente amarrou, com razoável sucesso, os nós soltos dos filmes anteriores. Os quinze minutos finais desta obra, alardeadas pela mídia estrangeira como “momentos que irão perturbar sua vida”, são muito mais do que apenas incrivelmente tensos e assustadores; são – até que enfim! – a revelação de todo o mistério e a descoberta de que o Coisa-Ruim não passava de uma peça menor no tabuleiro (isso mesmo). Essa espécie de “confronto final”, que costuma arruinar muitas obras de terror, foi bem executada o suficiente para soar natural e plausível. Ela é, sim, muito clichê, e não é nenhuma grande surpresa para os que acompanhavam atentamente os eventos anteriores, mas termina sendo satisfatoriamente esclarecedora e, de certo modo, profundamente angustiante. Oren Peli, o agora milionário criador e produtor da franquia, soube dar um ar de vida-própria à franquia; sua história e seu desenvolvimento são competentes o suficiente para torná-la algo mais do que apenas uma exploração comercial sobre o sucesso do primeiro filme.

O ponto baixo fica, como eu também disse, para o desfecho da obra. Sim, é estranho, mas a conclusão do filme funciona tanto como uma bênção quanto uma maldição. Querendo ou não, a explicação fornecida pelo desfecho do filme acaba diminuindo a ameaça do demônio e transferindo-a para uma personagem pouco desenvolvida e inédita na trama. Outra coisa inevitável é que desvendar um mistério, por mais correta que seja a execução, é algo “broxante”: retira da história o fator “desconhecido”, que é justamente a que mais nos mete medo. Ao expor tudo a pratos limpos, o filme se conclui num misto de choque e desapontamento. Isso é bom, por algum tempo, pois nos força a pensar profundamente sobre o significado do desfecho e, invariavelmente, a repensar todos os eventos da trilogia, mas, logo depois, sentimos como se tivessem puxado o tapete sob nossos pés.



O desfecho é bem feito, sim, mas não é perfeito. Quem mais sai prejudicado em toda a história é o primeiro “Atividade Paranormal”, pois alguns mistérios-chave nele expostos não são explicados: que história era aquela de “incêndio” na casa das irmãs? Como elas se comportam de maneira tão desavisada, já que, neste desfecho, tudo indica que elas serão membros diretos do círculo demoníaco? E mais: não confiem nos trailers da produção. É comum que se produzam materiais para serem usados apenas nos trailer, mas o que fizeram aqui é uma piada: inúmeras cenas aparentemente importantíssimas que estão nos trailer não aparecem no filme! Desde as suas irmãs recitando o “Bloody Mary” até o famigerado incêndio, quase todas as cenas dos trailers não aparecem no filme – ou, se aparecem, são de forma muito diferente do prometido. Há uma regra de ouro no mundo dos negócios: se prometeu, tem que cumprir. Se está no trailer, tem que estar no filme. Todo o resto é propaganda enganosa.

Enfim, o que é “Atividade Paranormal 3”? É um dos terrores mais eficientes do cinema, se você tiver afinidade com o gênero “found footage”. De fato, o filme dura menos do que deveria e sua conclusão, apesar de impactante, parece muito brusca, deixando a platéia com o incômodo sentimento de “Ué, já acabou?!” Também trás menos sustos, o que será uma decepção para quem se apavorou com o segundo filme, mas, em compensação, sabe unir muito bem os nós de uma história clichê, mas fascinante, e construir um nível de tensão que ultrapassa os limites do humanamente suportável. Não tem como você assistir ao filme sem tapar os olhos pelo menos uma vez na sessão, tão grande é o medo. No geral, “Atividade Paranormal” se encerra como uma franquia super-eficiente no que se propõe, podendo deixar os cinemas com a sensação de dever cumprido.

P.S.: é muito improvável que, com todo o sucesso que este terceiro filme terá, a franquia realmente se encerre aqui. Qualquer continuação, entretanto, será extremamente desnecessária: ou os produtores inventam algo realmente novo ou cairão na desgraça de macular, com a ganância, uma obra muito bem resolvida.

NOTA: 7,0

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ponyo - Uma amizade que veio do mar (2008)



O realizador japonês Hayao Miyazaki tem um apreço bastante notável pelo público infantil. Isso se nota pela sua constante dedicação em fazer obras voltadas para as crianças, que compõem uma filmografia numerosa, da qual constam títulos como O Castelo de Cagliostro (Rupan sansei: Kariosutoro no shiro, 1979), Meu Amigo Totoro (Tonari no Totoro, 1988) e A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no kamikakushi, 2001), sendo este último o mais conhecido das plateias ocidentais, que chegou a levar o Oscar de melhor animação em 2002, bem como dividiu o Urso de Ouro em Berlim com Domingo Sangrento (Bloody Sunday, 2002) no mesmo ano. Um aspecto que aproxima as suas obras, e lhes dá continuidade, é a resistência do diretor em empregar a animação de filmes como os da Disney. Ele prefere desenhar cada cena à mão, o que resulta em filmes altamente deslumbrantes, em que o visual conta tanto quanto a narrativa apresentada.

Em Ponyo – Uma Amizade Que Veio do Mar (Gake no ue no Ponyo, 2008), seu filme mais recente, essas peculiaridades logo ficam evidentes. O desenho nos conta a história de Sosuke, um garotinho de 5 anos que mora muito próximo de um penhasco, na companhia de sua mãe, a quem ora chama pelo nome, ora chama pelo grau de parentesco, deixando uma certa dúvida inicial sobre qual seja a relação entre eles. Sosuke também tem um pai, que quase nunca está presente por sua condição de marinheiro. De vez em quando, ele passa pelo mar próximo à casa da família, e deixa o filho eufórico com a possilidade de comunicação com ele. Sosuke é uam criança normal, nem mais nem menos inteligente do que outras da sua idade, o que torna o pequeno protagonista do filme um personagem totalmente plausível, diferente dos meninos prodígios retratados em animações estadunidenses, que parecem capazes até de resolver cálculos estequiométricos.

A vida do menino ganha contornos de aventura pela primeira vez quando ele encontra um peixinho dourado na praia perto de sua casa. Ele gosta tanto do animalzinho que decide levá-lo para casa, dentro de um balde com o qual estava brincando por ali. Sua mãe não vê problema algum na atitude do filho, e a afeição de Sosuke pelo peixinho só faz crescer. O garoto acaba descobrindo que aquela simpática fêmea de peixe dourado gosta muito de presunto, e passa a alimentá-la com o embutido. Passa também a chamá-la de Ponyo, e está formada a grande amizade entre os personagens, que confere um tom de fábula muito agradável à história. Porém, o que Sosuke não sabe é que Ponyo é filha de um feiticeiro que vive nas profundezas das águas, e que não suporta a ideia de que ela tenha contato com seres humanos, a quem considera vis e ardilosos. Inicialmente, o personagem aparece retratado como um vilão, mas, no fundo, ele é a representação de pais excessiavemente zelosos e austeros, que sufocam seus filhos com as tentativas de obliteração de suas escolhas e de desenvolvimento de suas naturezas. É exatamente essa característica que se acentua na personalidade do pai de Ponyo. A amizade dela com Sosuke faz nascer no peixinho um desejo de se tornar humana também, e, graças aos poderes mágicos que possui, ela faz nascer braços e pernas em seu corpo, e acaba conseguindo o que quer : ser uma menina.



O interessante no filme é que sua história é contada através de uma abordagem muito inocente, isenta da malícia subscrita que permeia boa parte dos filmes infantis hollywoodianos. Claro que esse aspecto não é um defeito que fere de morte as boas intenções dos estúdios dos EUA : é ótimo acompanhar tramas que favorecem a agilidade dos diálogos e que contêm um punhado de referências ao universo adulto. Mas também é prazeroso assistir a uma trama que se despoja de todos os artefatos da sagacidade em favor de uma pureza que aparenta estar circunscrita a tempos perdidos.

E Ponyo – Uma Amizade Que Veio do Mar faz exatamente isso. Não há como não acreditar na ingenuidade dos protagonistas, que conquistam a plateia infantil, mas que também podem agradar os adultos.Um outro aspecto que salta aos olhos no filme é a qualidade das imagens. Elas são resultado do trabalho quase artesanal de Miyazaki, que pintou as telas uma a uma para depois transformá-las em imagens em movimento. Com isso, as cenas são um verdadeiro primor para os olhos mais sensíveis, e dá vontade de ter em mãos cada fotograma que aparece. Voltando à narrativa, há outros elementos que chamam a atenção em seu desenrolar. Depois que Ponyo se transforma em uma menina, estranhos fatos começam a suceder. No caminho de volta para casa depois de mais um dia de estudos para Sosuke e de trabalho para sua mãe, que é funcionária de um asilo, eles enfrentam uma forte tempestade. Na verdade, aquele fenômeno meteorológico é fruto de um desequilíbrio ecológico causado pela mudança da natureza de Ponyo.

Seu pai até tenta reverter a situação de todo jeito, e até consegue, por um tempo, que a menina volte a ser peixe. Mas a rebeldia de Ponyo fala muito mais alto, e ela consegue tornar a ser menina para poder brincar com seu amigo. No geral, Ponyo – Uma Amizade Que Veio do Mar é um desenho animado feito para um público que aprecia história simples, e que falam ao coração justamente por sua simplicidade. Miyazaki abre mão de uma trama mirabolante, preferindo se concentrar na composição dramática dos personagens de forma consistente. Isso faz que a “interpretação” dos “atores” seja o mais real possível, tornando o filme um exemplar naturalista entre as animações, por assim dizer. O cineasta oferece, com seu filme, uma prova do quanto é um herói da resistência no tocante a toda forma de estroboscopia.

Nota: 8.5

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Apenas Amigos (2005)


Por que alguns filmes de comédia romântica, com temática bem interessante, como o caso de “Apenas Amigos” (Just Friends), não tem um roteiro mais bem trabalhado? Bom, simples de responder. Geralmente, filmes deste gênero são produzidos para o público relaxar e não refletir como filmes de drama ou suspense. Por ter uma linguagem mais popular e mais fácil de ser compreendida, acaba tendo um roteiro simples e sem nenhuma pretensão. Porém, têm filmes de comédia romântica que são bons com um roteiro forte, como o caso de “Um Lugar Chamado Notting Hill” (Notting Hill, 1999) e “Uma Linda Mulher” (Pretty Woman, 1990).

“Apenas Amigos” é um filme, infelizmente, na média para o seu gênero. Por não apresentar nenhuma novidade técnica e sem um bom roteiro, fica naquela lista de filmes em que não lembrarei daqui a dez anos. Dirigido por Roger Kamble, o mesmo dos mesquinhos filmes “Segundas Intenções” (Cruel Intentions, 1999) e “Tudo para ficar com ele” (The Sweetest Thing, 2002) e estrelado por Ryan Reynolds e Amy Smart, arrecadou em todo o mundo mais de cinqüenta milhões de dólares, o que foi mais do que suficiente para cobrir o custo total do filme. Uma historia leve e incoerente que vou esclarecer agora.

Chris Brander (Ryan Reynolds) é um jovem gordo e nerd que usa aparelho nos dentes e Jamie Palamino (Amy Smart) é uma jovem bonita e desejada pelos homens do colegial, moram em New Jersey e estão na formatura de segundo grau e são apenas amigos, mas, Chris quer ser mais do que amigo e está prestes a dizer isso à ela, só que quando ele vai dizer o que sente, ela fala que o ama como um irmão, o que deixa Chris arrasado por dentro e para piorar a situação ele é vitima constante de humilhação por parte de seus “colegas”. Com isso ele acaba mudando-se para Los Angeles e diz que se tornará alguém na vida.




Rico e namorador, dez anos depois do colegial, Chris agora é um produtor musical e está magro, sem aparelhos, bonito e uma espécie de “sabe-tudo” quando o assunto é a amizade com as mulheres. Seu mais novo trabalho é levar a pop star Samantha James (Anna Faris) para Paris, porém, um acidente o deixa preso por um dia em sua cidade natal e acaba reencontrando todos seus amigos do passado e claro, sua amiga, Jamie. Após o encontro ele vê mais uma vez o seu amor por ela crescer e fica na cidade o tempo necessário para poder ficar com ela. Porém, em seu caminho aparece um concorrente pelo amor de Jamie, Dusty Lee Dinkleman (Chris Klein), um médico, que segundo Chris, é impossível de concorrer com ele para conquistar o amor de Jamie, pois Dusty é um cara perfeito.

A partir daí a historia toma direções previsíveis e nagativas. Um triângulo amoroso surge entre eles. Chris acaba decepcionando Jamie por não ser mais aquele cara por quem ala gostava tanto no colegial. Chris descobre que Dusty só quer ficar com Jamie para se vingar dela, pois no colegial ela não quis ficar com o Dusty. Chris percebe que a ama e vai atrás dela no fim do filme (como todo filme de comédia romântica). Porém, é no final onde o filme me decepciona tanto: Se o nome do filme é “Apenas Amigos”, por que então eles acabaram juntos? Odeio quando um filme não é coerente quanto ao seu título! Ao final percebemos a negatividade que o filme é. Não que seja ruim, mas também não é bom. É um filme com falhas, clichês e falta de roteiro. A temática é boa, mas poderia ser mais bem trabalhada.

O filme trabalha temas interessantíssimos, mas, poderia ser mais bem trabalhado. O tema principal é o amor entre amigos. Quem nunca gostou de uma garota e ela apenas queria a amizade? Acho que todo mundo já viveu uma situação parecida com essa. Outro tema forte do filme é o amor entre irmão. Chris e seu irmão só vivem brigando e discutindo, mas eles se amam por isso. Quem tem irmão sabe que o que o filme mostra é verdade. Quem nunca brigou com um irmão? Acho que todos, mas ainda assim amamos nossos irmãos.

“Apenas Amigos” chega a ser muito divertido, mas é só isso. Nada além de divertido. Sem nenhuma complexidade e pretensão e sem um bom roteiro, é recomendado para apenas aqueles que gostam do gênero e que gostam dos atores. Com uma direção mesquinha e uma atuação abaixo do nível dos atores o filme é fraco e, com certeza, será esquecido daqui a alguns anos.

Nota: 5.0



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

ET (1982)



NOVO. adj. Que existe há pouco tempo; acabado de fazer. Moço, de pouca idade. Que é dito, tratado, visto pela primeira vez. S.m. O que é recente: o velho e o novo se confrontam. Fonte: Dicionário Aurélio

O que podemos encarar como novidade num mundo onde as coisas parecem repetir um moto perpétuo e cíclico que sempre parecem nos levar sempre ao mesmo lugar? Neste Dia das Crianças, resolvi rever um dos maiores clássicos para crianças e adultos da história do Cinema que há muito não assistia. Queria, quem sabe, resgatar em mim as sensações primeiras de me encantar de novo como se fosse a primeira vez com uma história que já conhecia de cor e salteado.


Mesmo sendo mais conhecida que Titanic, vamos ao enredo de ET (idem, 1982, Steven Spielberg): depois de uma visita ao planeta Terra, extraterrestres de um planeta distante, ao se sentirem ameaçados por investigadores que chegam na floresta onde aterrissaram, terminam por esquecer um de seus conterrâneos. O estranho ser arruma abrigo na casa de um menino, Eliiot, que vive em um lar que atravessa a turbulência da separação dos pais, junto com seus dois irmãos, Gertie e Michael. Depois de um tempo com o ET escondido em casa, os tais investigadores começam a investigar a casa e encontram o alienígena doente, assim como o pequeno Eliiot, já que ambos possuem uma estranha e delicada conexão.

Dito assim, parece mais uma daquelas benditas ‘sessões da tarde’ que repetem ad infinitum o mesmo mote do longa de Spielberg, mas, mesmo quase 30 anos depois de sua estréia, é incrível perceber a genialidade do trabalho da roteirista Melissa Mathison e do diretor. As imagens dispostas e os diálogos nunca são óbvios, mas servem diretamente ao enredo sem mastigar excessivamente os conflitos ou situações propostas. São numerosos os exemplos: desde o fato de nunca mostrar explicitamente os investigadores ou o que, de fato, estão fazendo; passando pela maneira de expor a separação dos pais de Eliiot ou o modo de conectar ele com o extraterrestre de forma sutil; a maneira de dispor na narrativa o plano que os três executam no Halloween para permitir que ET se comunique com seus pais na floresta, dentre outros exemplos que conseguem tornar a história sempre com elementos novos a serem descobertos.


Além disso, temos um elenco muito competente que, reunido, constroem personalidades completas para seus personagens: desde a pequena Drew Barrymore, que conquista pela sua singeleza e simplicidade, passando por Dee Wallace e Peter Coyote, que compõem um painel sensível do mundo adulto que ainda se permitem cativar pelos sonhos do universo pueril; chegando a Henry Thomas, que vive intensamente seu Elliot e o conduz para dentro dos nossos corações, indo mais fundo do que qualquer Macaulay Culkin ou gêmeas Olsen jamais foram. Para completar, a fotografia, a montagem e a trilha sonora ao mesmo tempo majestosa e delicada John Williams ainda nos expandem e nos elevam para aquele imaginário grandioso e ingênuo.

Aquele encontro entre dois seres que se sentem diminuídos diante de um mundo adulto e sisudo sempre se renova por que parece sempre se fortalecer quando o vemos novamente. Assistir e reassistir este filme torna-o ainda mais novo tanto para quem o viu criança quanto para quem o vê quando adulto, ao contrário de tantos outros que cansam desde a primeira vez que os vimos. Como conter as lágrimas quando ouvi a frase “I’ll be right here” ao som da sinfonia de imagens e sons promovida por Spielberg? Este é um dos mistérios da arte de um verdadeiro mestre.


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Gran Torino (2009)



Segundo Kirby Ferguson, autor da série de vídeos Everything is a Remix, existem, além dos gêneros convencionais como drama, comédia, terror, diversos subgêneros que podem ser combinados, distorcidos, transfomados na realização fílmica. Um deles é o subgênero chamado “Sorry About Colonialism” (ou “Desculpe pelo Colonialismo”), do qual fazem parte filmes como Dança com Lobos (1991), OÚltimo Samurai (2004) e tantos outros que tratam de uma certa imersão norte-americana em uma cultura “estranha” que, aos poucos, se torna familiar ao protagonista antes arredio com os integrantes desta cultura.

Gran Torino (idem, 2008, Clint Eastwood) bebe bastante desta fonte ao contar a história de Walt Kowalski, veterano da Guerra da Coréia que, após a morte de sua esposa, recebe como novos vizinhos uma família de coreanos que tem problemas com uma gangue de delinqüentes. Estes almejam levar o caçula da família, Thao, para o mundo do crime, enquanto o rapaz  de 14 anos ainda está à procura de si mesmo. Os mundos ocidental e oriental se unem quando o rapaz, como um ritual de iniciação à gangue, recebe a missão de roubar o Gran Torino que preenche a garagem de Kowalski, que impede o furto e ainda consegue ameaçar os vândalos que importunam a rotina do jovem Thao. A partir disso, a família começa a se aproximar de Walt, que, mesmo a contragosto, começa a se transformar com o tradicionalismo e a generosidade orientais frente ao individualismo e a truculência do seu americanismo exacerbado.


Eastwood, por mais que trabalhe bem com o roteiro de Nick Schenk, não consegue surpreender muito, já que segue uma linha bem cartesiana de seu trabalho, repetindo até mesmo seus próprios clichês: o diretor, mais uma vez, interpreta um sujeito durão, rancoroso que não almeja se relacionar com as pessoas ao seu redor e muda ao longo da narrativa (de forma praticamente idêntica a Menina de Ouro), encontrando sua redenção ao final. Os coadjuvantes são competentes e ganham bastante espaço na narrativa, o que oferece um ar fresco à narrativa que poderia se concentrar somente na figura turrona de Eastwood disparando grosserias a esmo. Os enquadramentos, montagem, fotografia e trilha sonora estão coesos com a proposta do diretor, mas, repito, não são difíceis de acertar pois atendem a uma fórmula que o diretor tende a manter nos seus trabalhos mais recentes.

Embora esbanje competência em todos os passos de seu trabalho, Eastwood ousa muito pouco - o que fica mais explícito sem uma presença marcante como a de uma Hilary Swank ou um Morgan Freeman - ao realizar um drama à moda antiga que tenta se retratar de uma culpa estadunidense diante das desgraças infringidas sobre outros povos, como manda os ‘ditames’ do “Sorry About Colonialism”.

Nota: 7,0


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dália Negra (2006)

Da beleza cenográfica tingida em tonalidades sépia à atemorizante construção atmosférica contornada por uma Hollywood cercada de mistérios e amoralidade se compõe este elegante trabalho de Brian De Palma, que se inspira na obra literária de James Ellroy para narrar um dos maiores mistérios da história do local: o assassinato brutal de Elizabeth Short, uma jovem com sonhos distantes de se tornar uma grande estrela do cinema, utilizando para alcançar estes objetivos, recursos e influências que, eventualmente, iriam sentenciá-la à própria morte.

O noir de De Palma exala um perfume sutil, mas certamente reconhecível, que nos remete aos grandes representantes do gênero nas décadas de 1940/50, seja pelo brilhantismo de confecção estética (que recria magistralmente as épocas citadas) ou mesmo pelo charme de uma trama que respira inteiramente no terreno do mistério, das reviravoltas, e dos demais elementos patentes nesse estilo de filme. Ainda que o famigerado crime da Dália Negra funcione aqui como mero catalisador de toda uma rede de intrigas, o diretor consegue extrair o que há de mais vil por trás desse evento e apresentar em tela com certo impacto, através de imagens de forte apelo gráfico e psicológico. Todo este cenário de horror em volta da selvageria do acontecimento se intensifica quando vemos participações esporádicas da vítima na narrativa, sempre através de antigos testes de elenco, onde revelava, tristemente, que não sabia atuar.

Todo o sofrimento da moça é capturado pela beleza pálida de Mia Kirshner, que entrega não somente a melhor interpretação do filme, como também os melhores (e de maior apuro dramático) momentos da narrativa. Infelizmente, a figura central de todo o mistério é relegada a participações limitadas, projetadas somente em fitas monocromáticas, com exceção de uma ou outra singela sequência colorida. Triste essa verificação de que a personagem mais profunda da estória tem sua presença encurtada para dar margem a trajetória de figuras desinteressantes e enredos confusos. Se o desempenho de alguns atores consegue extrair seus papéis da mediocridade - como é o caso de Hillary Swank -, isso pouco se aplica aqui, uma vez que a maioria fracassa em transformar suas personagens em criaturas cativantes. Da frustrante inexpressividade de Josh Hartnett ao overacting de Fiona Shaw, a trama é comprometida por interpretações frágeis e exageradas em papéis simples e amenos.

E o roteiro, por sua vez, não se esforça muito para reverter essa situação, desviando o foco da narrativa com flashbacks pouco inspirados e digressões desnecessárias. Mesmo ciente de que esta transposição do romance de Ellroy para as telas não tivesse a tragédia da atriz como mira principal, não deixa de ser decepcionante analisar o quão promissor seria uma trama voltada pura e simplesmente à Elizabeth Short, aos seus sonhos, às suas desilusões, aos seus envolvimentos para conseguir angariar um lugar de respeito na indústria cinematográfica, seja para realizar uma ambição pessoal ou mesmo para usar o sucesso como escapismo de uma vida que só havia lhe reservado dor e sofrimento. Para dar mais fôlego a esse interesse, particularmente, havia de minha parte uma expectativa altíssima para as cenas em que Kirshner dava o ar de sua graça, porque nelas eu enxergava os picos mais altos que este trabalho poderia chegar.

Há uma composição exuberante da mise-en-scène, um sofisticado trabalho com figurino e fotografia (que permeiam uma climatização lúgubre para toda a narrativa), contudo, diante dos problemas patentes no roteiro, é inevitável não enxergar esses méritos estilísticos como simples exercícios de vaidade - nem só de estética vive um filme. Uma pena chegar a essa constatação, afinal de contas, por trás de uma execução problemática, existia uma trama de imenso potencial.

Nota: 6.0