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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dália Negra (2006)

Da beleza cenográfica tingida em tonalidades sépia à atemorizante construção atmosférica contornada por uma Hollywood cercada de mistérios e amoralidade se compõe este elegante trabalho de Brian De Palma, que se inspira na obra literária de James Ellroy para narrar um dos maiores mistérios da história do local: o assassinato brutal de Elizabeth Short, uma jovem com sonhos distantes de se tornar uma grande estrela do cinema, utilizando para alcançar estes objetivos, recursos e influências que, eventualmente, iriam sentenciá-la à própria morte.

O noir de De Palma exala um perfume sutil, mas certamente reconhecível, que nos remete aos grandes representantes do gênero nas décadas de 1940/50, seja pelo brilhantismo de confecção estética (que recria magistralmente as épocas citadas) ou mesmo pelo charme de uma trama que respira inteiramente no terreno do mistério, das reviravoltas, e dos demais elementos patentes nesse estilo de filme. Ainda que o famigerado crime da Dália Negra funcione aqui como mero catalisador de toda uma rede de intrigas, o diretor consegue extrair o que há de mais vil por trás desse evento e apresentar em tela com certo impacto, através de imagens de forte apelo gráfico e psicológico. Todo este cenário de horror em volta da selvageria do acontecimento se intensifica quando vemos participações esporádicas da vítima na narrativa, sempre através de antigos testes de elenco, onde revelava, tristemente, que não sabia atuar.

Todo o sofrimento da moça é capturado pela beleza pálida de Mia Kirshner, que entrega não somente a melhor interpretação do filme, como também os melhores (e de maior apuro dramático) momentos da narrativa. Infelizmente, a figura central de todo o mistério é relegada a participações limitadas, projetadas somente em fitas monocromáticas, com exceção de uma ou outra singela sequência colorida. Triste essa verificação de que a personagem mais profunda da estória tem sua presença encurtada para dar margem a trajetória de figuras desinteressantes e enredos confusos. Se o desempenho de alguns atores consegue extrair seus papéis da mediocridade - como é o caso de Hillary Swank -, isso pouco se aplica aqui, uma vez que a maioria fracassa em transformar suas personagens em criaturas cativantes. Da frustrante inexpressividade de Josh Hartnett ao overacting de Fiona Shaw, a trama é comprometida por interpretações frágeis e exageradas em papéis simples e amenos.

E o roteiro, por sua vez, não se esforça muito para reverter essa situação, desviando o foco da narrativa com flashbacks pouco inspirados e digressões desnecessárias. Mesmo ciente de que esta transposição do romance de Ellroy para as telas não tivesse a tragédia da atriz como mira principal, não deixa de ser decepcionante analisar o quão promissor seria uma trama voltada pura e simplesmente à Elizabeth Short, aos seus sonhos, às suas desilusões, aos seus envolvimentos para conseguir angariar um lugar de respeito na indústria cinematográfica, seja para realizar uma ambição pessoal ou mesmo para usar o sucesso como escapismo de uma vida que só havia lhe reservado dor e sofrimento. Para dar mais fôlego a esse interesse, particularmente, havia de minha parte uma expectativa altíssima para as cenas em que Kirshner dava o ar de sua graça, porque nelas eu enxergava os picos mais altos que este trabalho poderia chegar.

Há uma composição exuberante da mise-en-scène, um sofisticado trabalho com figurino e fotografia (que permeiam uma climatização lúgubre para toda a narrativa), contudo, diante dos problemas patentes no roteiro, é inevitável não enxergar esses méritos estilísticos como simples exercícios de vaidade - nem só de estética vive um filme. Uma pena chegar a essa constatação, afinal de contas, por trás de uma execução problemática, existia uma trama de imenso potencial.

Nota: 6.0

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