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terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Levante (2011)



Uma carreira cinematográfica de sucesso não depende de uma forma preestabelecida, sendo, sim, influenciada por um sem-número de variáveis. No entanto, quando um jovem cineasta resolver aventurar-se na Sétima Arte, é normal e prudente que este aborde temas de agrado geral; não somente do público responsável pelo retorno financeiro nas bilheterias, como dos executivos que viabilizarão o projeto. Nesse aspecto, o diretor e roteirista estreante Raphael Aguinaga surpreende e destoa, criando em O Levante (La Sublemación, 2011) uma obra primordialmente sensível, mas que também ousa na discussão de temas-tabu como religião, ciência, Aids, em mescla de drama e comédia que resulta numa estreia promissora.

Após a morte de seu filho, uma senhora (Marilu Marini) sente a maior dor de sua vida quando a nora a afasta de seu neto e a abandona num asilo. Ali, ela e os outros velhinhos levam uma vida restrita cujo principal (talvez único) acesso ao mundo exterior é a televisão. Assim, quando a TV informa que o filho de Deus foi clonado e, eventualmente, precisa de ajuda, a notícia é absorvida por (quase) todos os residentes como uma nova oportunidade de resgatar a esperança perdida.




A simples sinopse já indica o crescente na auto-estima dos personagens, mas durante o longa essa transição é feita de maneira particular e visualmente interessante: a adoção de um ar soturno nos silenciosos minutos iniciais na fria Buenos Aires, enquanto um senhor (Arturo Goetz) cheira um lenço perfumado ao som de um triste tango, é capaz de criar um quadro belíssimo e autossuficiente na ilustração de toda dor e nostalgia que afeta seus protagonistas. Quando o dia nasce, porém, deparamo-nos com um hilário e otimista Miguel envolto por um ambiente sempre iluminado pela luz do Sol, em trabalho louvável do diretor de fotografia – que ainda opta por um tom que resvala no sépia, a realçar com as antigas instalações em que vivem os longevos personagens.

Apesar de uma dura realidade, a preocupação de Aguinaga em explorar o cotidiano do asilo com minúcia aproxima-nos dos habitantes daquele lugar, o que, curiosamente, deflagra situações divertidíssimas. A propósito, a leveza e a comicidade dos diálogos encontram-se em plena harmonia com o carisma desses senhores, sendo um deles o protagonista da cena de banho mais comovente do Cinema. A carinhosa concepção desses velhinhos – tenros, espertos e a proferir sacadas hilariantes, assemelhando-se bastante com os sagazes pescadores de A Grande Sedução (La Grande Seduction, 2003) – também formam um contraponto abissal com a imagem estereotipada entregue ao jovem vilão “A Bruxa” (Pablo Lapadula), o que torna ainda mais evidente a homenagem do realizador com os representantes da 3ª idade.




Assim, esmo que o roteiro possa incomodar na abordagem de temas polêmicos (de certa forma dispensáveis) e nas resoluções abruptas de seu improvável desfecho, a qualidade do longa não fica comprometida, tamanha a convicção de Aguinaga. Sua intenção, portanto, é frisar a importância que sentimentos como perseverança e esperança podem ter na vida de pessoas consideradas inaptas; impacto esse que as permite rebelar-se e, por que não, apaixonar-se novamente. E ao testemunharmos a alegria nos olhos dos atores, divertindo-se a valer num ato final que remete a Cocoon (Idem, 1985), percebemos que dentro daquela ficção, durante as filmagens, o termo “melhor idade” possa ter tido algum lugar na realidade, legitimando a positiva e sensível proposta de Raphael Aguinaga.



NOTA: 8,0

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