O filme dirigido por Carl Reiner logo no começo quebra nossas expectativas a respeito do que iremos assistir ao deixar que o mendigo Navin rompa com a famigerada quarta parede para nos contar sua história de ascensão e queda financeira e social, começando com sua infância no Mississipi, quando sua família negra revela, em seu aniversário, que ele foi deixado na porta da sua casa e adotado pela família. Diante de uma expressão de surpresa do rapaz, que nunca havia percebido a diferença de cor entre eles, percebemos logo que não se trata de uma história convencional: o rapaz, de madrugada, ao conseguir entrar no ritmo de um blues tocado no rádio, decide ir embora para “seguir sua vida” em St Louis.
A partir desse mote, Reiner conduz um anti-herói em uma jornada sem sentido que funciona como um Forrest Gump às avessas, em que as pessoas ao seu redor, para o bem ou para o mal, terminam tragando-o para suas vidas maliciosas ou absurdas, como a motociclista que deseja dominá-lo sexualmente ou um homem frustrado que assassina idiotas aleatoriamente. De maneira despretensiosa, ele termina se tornando milionário e encontrando a mulher de sua vida, construindo em torno de si uma vida regrada pelo dinheiro e pelos prazeres desnecessários. Aos poucos, ele termina se tornando um Cidadão Kane dominado pelo dinheiro e pela fama e, ao ter de indenizar milhares de pessoas por um dano provocado pela mesma invenção que lhe tornou milionário, perde todas as suas posses e torna-se um mendigo que mora atrás de um cinema da cidade.
Com uma linguagem cinematográfica simples e funcional, Reiner permite a Steve Martin que conduza o público pela absurda história que está sendo contada, caminhando por meandros que permitem nos identificar com um ser humano que recebeu uma responsabilidade que todos cobram de todos - ser alguém -, considerando erroneamente que não nascemos dessa forma e que todos somos esses panacas à procura desse “ser alguém”.
Nota - 7.5
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