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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Os Sete Samurais (1954)


Mister se faz uma ressalva antes de se comentar essa obra. O comentário a seguir é positivo, fosse o contrário não poderia ser feito. O motivo? Ora! Quem realmente após a década de oitenta, pode assistir essa obra em sua integridade. Lendo os jornais, sabemos que o filme idealizado por Kurosawa, possuía uma metragem de pouco mais 200 minutos. Nas sessões alternativas em cineclubes em São Paulo, deparamo-nos com projeções que variavamm de 130 a 160 minutos. A extinta Tupi colocou na década de 70 uma cópia com cerca de 188 minutos. Pude assisti-la na época, mas era apenas um garoto.

Feita essa ressalva, falemos daquilo que podemos ver. Os sete samurais assemelha-se a um Western americano ou um desses filmes de aventura cujo objetivo maior é o entretenimento. Não que isso o deprecie, ao contrário, nada fica a dever aos mestres do gênero (um Ford por exemplo). Essa comparação dá-nos uma medida aproximada do que se verá na tela. Só que na tela, o filme de Kurosawa, ultrapassa de longe as limitações da aventura ou do wester americano. Não se trata porém de um filme complexo, seu desenvolvimento se dá de uma maneira o mais linear possível. Só que tal se dá através de um rebuscamento de detalhes, de uma preocupação em se aproximar do que podemos chamar realismo histórico (tudo soa por demais crível). A história? Bem se trata de aldeia que é frequentemente, após as colheitas, saqueada por 40 bandoleiros. Os aldeões se enchem de coragem e solicitam a ajuda de um grupo de samurais. Estes a princípio recusam, mas aceitam a tarefa após perceberem o alcance filosófico da medida solicitada pelos aldeões . Enfrentarão então os bandidos, estes armados com equipamentos modernos, que não estavam em uso no Japão de então. Aqui abre-se algo que mostra o alcance da urdidura usada por Akira Kurosawa. Munido dessas armas modernas, apesar de pertencerem a um grupo, os quarenta fazem uso de investidas em seus ataques muitas vezes mais embasadas na individualidade, do que no conjunto. Os samurais optam por tornar a aldeia um corpo só. Treinam os aldeões e se defendem como um todo. É exemplar a cena em que o personagem interpretado por Mifune, se vangloria diante do líder, de ter subjugado e eliminado sozinho parte da força do oponente e este lhe responde que aquilo não tivera nenhum valor. Soara mais como uma derrota e um exemplo que poderia contaminar o grupo e transformar a possibilidade de vitória em derrota. E contrapõe também o Ocidente aos Oriente. No western existe a idéia de prestigiar o indivíduo, galgando-o a posição de herói imbatível. Aqui dá-se o contrário.

O filme comprova o perfeito domínio que os japoneses já tinham da plástica em uso no Ocidente, mas isso é amalgamado a um conteúdo que contrastava com o Ocidental. Existe também um explorar belíssimo da profundidade de campo das imagens captadas (que lembram muito o trabalho de fotografo de um Greg Toland ou de um Stanley Cortez). Um filme de ação sim. Mas um filme de ação em que a preocupação de retratar a humanidade de seus personagens atinge seu objetivo. Ainda que o vejamos mutilado, devemos ter contato com essa pérola. Imperdível.

Nota: 10.0





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