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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

127 Horas (2010)


Vamos fazer uma experiência cinematográfica. Pegue um pouco da gráfica violência de Jogos Mortais, o tema de estar preso de Enterrado Vivo, a falta de mobilidade e das memórias de vida de O Escafandro e a Borboleta, os detalhes aproximados por Aronofsky em Réquiem para um Sonho e, agora, uma história real. "Qual é o resultado, João?". Temos, meu(minha) caro(a) leitor(a), 127 Horas.


Misturar muitos filmes para criar um novo, nem sempre é algo considerado artisticamente honesto, mesmo que tenhamos exemplos de produtos reciclados no cinema que ficaram imensamente superiores em relação ao seu exemplo(Megamente é milhões de vezes melhor que Meu Malvado Favorito). No entanto, 127 Horas merece um desconto pelo fato de se tratar de uma história real, como citado acima, e também mostrar as habilidades deste diretor que vem crescendo mais e mais no cenário da Sétima Arte.

Danny Boyle foi o responsável pela direção de filmes como Trainspotting - Sem Limites, Quem Quer Ser um Milionário?, Cova Rasa, A Praia e Caiu do Céu. Depois de ter ganho o Oscar pelo segundo filme citado, Boyle foi ganhando ainda mais atenção pela crítica e lançou um filme que chega a reutilizar alguns elementos de seu último filme, como o fato da fotografia sempre estar em expansão tremenda para retratar o sentimento de diminuição dos personagens e também de estarem em situações extremas procurando por alguma saída. Boyle entrega-nos um trabalho de direção genial, onde muitos poderiam considerar como exagerado, mas Danny deve contornar todas as dificuldades que a história de isolação e cativeiro de Aron Ralston poderiam oferecer.


Para alimentar seu espírito aventureiro e perigoso, Aron Ralston (James Franco) vai ao "Blue John Canyon". Sem avisar ninguém, Aron encontra duas garotas e, assim, terá seu último contato com alguém nos próximos cinco dias. Ralston fica com o braço preso em uma rocha e passa seu tempo entre tentativas de sair desesperadamente, ir documentando tudo em sua câmera, relembrando momentos de sua vida, contando a quantidade de água que vai se esgotando e até chegando a ter alucinações.

Se vocês lembram de Enterrado Vivo, semelhanças são óbvias e até se encontram em um pouco do caráter de seus protagonistas. Acontece que Aron é um protagonista não muito comum, suas lembranças sempre se referem à momentos bons e ruins, mas Aron não se lembra de nenhuma característica boa de si mesmo, ele apenas faz auto-críticas por não ter avisado a ninguém sobre o local aonde iria e dizer que o motivo fora seu imenso egoísmo. Ou seja, Aron não é igual ao Mark Zuckerberg que David Fincher nos apresentou em A Rede Social que extremamente ambíguo, nós sentimos pena dele o filme inteiro até uma cena extremamente gráfica de uma violência sem tamanho.

Tendo em mãos grandes dificuldades, Boyle decide ter uma direcão de detalhes e uma dinâmica literal (vide a montagem de três cenas ao mesmo tempo). Para mostrar os pequenos detalhes, por exemplo temos o inteirior de uma garrafa com água e nos mostra o líquido sendo consumido por Aron, Boyle repete o que Aronofsky fizera 11 anos atrás com Réquiem para um Sonho (outro filme muito bom). Este tipo de atitude "minimalista" pode gerar críticas como se Danny fosse um diretor que quer aparecer mais que Franco. Primeiro: Isto não acontece. Segundo: Concentrar-se em alguns momentos em detalhes tão discretos ajuda a dar uma sensação mais rápida de que há um mundo maior do que fenda onde Aron está preso, reforçando ainda mais a distância e diminuição do rapaz.


O retrato psicológico extremo retratado possui seus acertos e erros. Uma falha é mostrar um estudo muito raso do relacionamento entre Aron e sua amante, coisa que não fica muito envolvente e que não conseguimos entender o porquê da discussão entre os dois. Aron não só pensa no passado, mas também no futuro em ações que poderiam ter acontecido se não precisasse continuar em alimentar sua ânsia por aventura e o futuro que é como seria se ele saísse de lá, este último é um recurso muito clichê. Exatamente, este não é um filme fantástico ou merecedor de tanta aclamação dos críticos.

Uma genial montagem que reforça o desejo de Aron por líquido, mostra possíveis comerciais de bebida e até uma viagem de uma câmera que sai do buraco onde Ralston está e vai atravessando tudo até chegar em sua "van" para mostrar uma bebida energética. A câmera subjetiva da festa na qual Aron foi convidado, a enchente na fenda. Tudo isto colabora muito para a construção da sensação extrema do longa.

A trilha sonora é muito boa, mostra-se muito precisa em momentos em que combina perfeitamente. O compositor é A. R. Rahman que trabalhou anteriormente com Boyle no aclamado Quem Quer Ser um Milionário? Aliás, ao lado de Daft Punk, é um dos compositores cinematográficos de estilo mais alternativo. Mesmo tendo grandes trilhas sonoras de vários outros filmes de 2010, A. R. Rahman merece atenção por sua originalidade e inventividade em compor uma trilha densa e pesada de modo mais diferenciado.



Mas o que faz valer o ingresso, os MBs ou GBs perdidos para baixar (pirataria é crime!), a locação, entre todos os modos de adquirir um filme é atuação de James Franco. Eu não achava que ele estava muito bem em Homem-Aranha (nem no 3 onde há uma atenção duplicada para seu personagem) porque eu o considerei sendo sem talento algum. Retiro minhas palavras, Franco está impecável como Aron Ralston, passa todo sentimento de desespero e tristeza sem soar forçado e até em alívios cômicos (nem tão cômicos assim) ele se sai muito bem. Uma indicação ao Oscar? Hummm, eu não sei. Se ele receber provavelmente não vou me sentir bem por não ser um grande ator, mas se eu chegar a criticar um pouquinho a atitude da Academia estarei caindo em contradição.

Coordenado por um diretor cada vez mais habilidoso, uma história com uma mensagem muito pertinente, uma surpresa vindo de um ator que impressiona, 127 Horas tem suas falhas, mas nada que vá comprometer ou destruir os méritos deste longa extremamente emocional. Desejo um futuro brilhante tanto para Franco quanto para Boyle.

Nota: 7.5


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