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domingo, 16 de janeiro de 2011

Apenas Uma Vez (2006)

"O amor é uma agonia, vem de noite, vai de dia, é uma alegria, e de repente, uma vontade de chorar."

O titulo do filme em português é perfeito para sua proposta deste filme. Sem demagogias, o longa "Apenas Uma Vez" do estreante diretor e roteirista John Carney se distancia do amor-romântico inaugurado por Shakespere e copiado ao extremo pelos filmes de romance da atualidade. Mundos fantasiosos, pessoas unimensionais, hipocrisia são aspectos o que não faltaram para muitas obras que tentaram retratar um romance chifrim e fazer o público se apaixonar com ele.

Partindo de um universo e de pessoas diferentes por sua normalidade, "Apenas Uma Vez" bebe de uma outra fonte, pois, trazendo influências de películas como "Antes do Amanhecer" e "Antes do Pôr-do-sol", o pequeno filme mostra uma relação de amor construída por pessoas reais do mundo contemporâneo e propõe reflexões aos espectadores. Vamos aos personagens principais: A Moça é uma vendedora de flores, mãe de uma criança pequenina, casada, porém distante do marido, vivendo com a mãe num outro país para tentar melhorar de vida. O Rapaz é um músico desiludido com um amor do passado, conserta eletrodomésticos numa loja em que trabalha com o pai e que tenta conseguir alguns trocados tocando músicas de amor nas ruas da Irlanda.


A falta de nomes para os personagens caiu como uma luva em “Apenas Uma Vez”. O longa mostra uma relação construída com sentimentos e dilemas plausíveis, aplicáveis a pessoas do mundo real e quando eu falo mundo, falo de todo ele, não apenas do "mundo de Alice" que tentam nos empurrar em certos filmes que retratam o amor. A escolha não poderia ter sido mais acertada. O amor aqui é real, dificil e intricado, mas amor genuíno, bandido, abrasador, terno, doce e, principalmente, complexo.


O trabalho difícil para sustentar-se e pagar as contas, as desilusões, a tentativa de se desvencilhar do sentimento amoroso que demanda tanta responsabilidade , a perseverança para seguir o sonho e a desenvoltura dos personagens entre si conecta o público ao casal principal. Para melhorar ainda mais, os atores são inexperientes e retratam com uma beleza ingênua e natural seus personagens, sem afetações ou maneirismos que inevitavelmente outros atores poderiam conferir a seus papéis. Dentre as escolhas do diretor apenas a filmagem em câmera digital falha e não é dos melhores recursos em “Apenas Uma Vez”, mas a escolha é claramente compreensível, visto o compromisso da obra em dar senso de realidade ao que acompanhamos na tela.

Sentimentos sublimados, inseguranças, paixões empregadas num filme singelo, com canções belíssimas, a principal delas, inclusive, vencedora do Oscar de Canção Original. Sem excesso de diálogos, “Apenas Uma Vez” consegue prender o espectador de forma apaixonante, por ser um filme tátil e real, podemos sentir a verdade na tela e nos identificamos com as discussões propostas. Num ideal de vida contemporâneo, qual a fórmula de uma relação sádia? - pergunta-se. Espero que essa experiência magnífica e envolvente não tenha sido única. Merecemos filmes como esses MAIS de uma vez.

Nota: 8.5


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