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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Dr. Fantástico (1964)

A crítica a seguir possui spoilers, por isso, recomenda-se a leitura somente para quem já tenha visto o filme.


Stanley Kubrick é, na minha opinião, um dos diretores mais geniais que a história do cinema já viu. Na sua breve filmografia, há filmes de drama, de guerra, de terror, suspenses e apenas uma comédia: Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb), de 1964. Mas apesar de ser uma comédia, fique sabendo que não foi feita para você gargalhar ou cair no chão de tanto rir, do tipo pastelão. Mas sim, uma comédia inteligente, com humor ácido e uma crítica feroz.

Preste bastante atenção ao título original do filme que traduzido para o português ficaria Dr. Fantástico ou: Como eu Aprendi a Parar de me Preocupar e Amar a Bomba. Para muitos tal título é um exagero (não apenas pelo tamanho), mas para mim é um dos melhores que já vi em minha vida (a explicação será dada mais abaixo). Digo isso não apenas para o título, mas também para o filme, logo arrisco a dizer que Dr. Fantástico foi um dos melhores filmes que já vi em minha vida.

Pois bem, a crítica do filme vai para a Guerra Fria. Tal Guerra, segundo o site wikipedia.org, é a “atribuição designada ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os EUA e a URSS, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial e a extinção da União Soviética. Foi um conflito de ordem política, econômica, militar, tecnológica, social e ideológica entre as duas nações e zonas de influência.” Isto é, os dois países mais fortes da época, EUA e URSS, lutavam para decidir qual dos deles seria a maior potência mundial. E é considerada “fria”, pois não houve guerra direta, ou seja, confronto bélico entre ambas. Muitos consideram tal guerra, como uma disputa entre o capitalismo e o comunismo.


Pois bem, o filme não critica apenas os soviéticos, como também os americanos e todos que se envolveram com essa guerra, inclusive os alemães (o personagem Dr. Fantástico é alemão) que fabricavam armas durante este período.

Na história, um general louco (Jack D. Ripper – em referência a Jack, the Ripper que traduzido para o português se torna Jack, o Estripador – interpretado por Sterling Hayden) coloca, desnecessariamente, o Plano R em ação. Tal plano ordena que a URSS seja bombardeada por bombas nucleares, porém, somente deveria ser posto em ação se os EUA tivessem sido destruídos pelos comunistas, o que, de fato, não aconteceu. Jack está convencido de que os “comunas” (no filme os soviéticos são, frequentemente, chamados assim) estão poluindo a água e os outros fluidos corporais vitais dos americanos. Seu ajudante, Capitão Mandrake (um dos três personagens de Peter Sellers, que por sinal, não tenho palavras para explicar o quão bom ele é) tenta impedir que Jack conclua seu plano e cause um massacre.

Enquanto isso, na Sala de Guerra, o Presidente dos EUA (Sr. Muffley – outro personagem de Sellers), o General Turgidson e outros conselheiros discutem o que farão (sempre com um toque de humor negro e ironia). Turgidson que não é lá muito amigos dos comunistas recomenda, inclusive, que deixem que joguem as bombas na URSS afirmando que é melhor matar 20 milhões de soviéticos do que 150 milhões de americanos. Mas, eis que chega o embaixador soviético Sadesky, dizendo que se as tais bombas forem jogadas, haverá uma retaliação para os inimigos, a máquina do fim do mundo. A invenção de tal máquina é confirmada pelo Dr. Fantástico (mais uma vez, Peter Sellers) e então é decidido fazer com que todos os aviões que estão sobre o comando do Plano R voltem. Mas devido a uma condição desse plano é impossível fazer contato com os aviões, a não ser que saibam a senha composta de três letras.
Enquanto tentam desesperadamente um jeito de brecar o ataque, uma das naves, a do Major T. J. “King” Kong, sofre danos e fica impossibilitada de receber qualquer tipo de mensagem. Com muito custo, a senha é descoberta e todos os aviões retornam sem jogar a bomba, com exceção do avião citado acima que conclui com êxito o Plano R.

A grande maioria da graça contida em Dr. Fantástico está sempre implícita, ou seja, todas as cenas possuem ironia e duplo sentido e por isso é preciso prestar muita atenção aos mínimos detalhes. Por exemplo, aparece, algumas vezes, um letreiro com a seguinte frase: “Peace is our profession!” que traduzido para o português se torna “Paz é a nossa profissão!” o que não é algo muito verdadeiro devido às circunstâncias; Outro exemplo, é a cena de Turgidson e o embaixador Sadesky estão brigando e então o Presidente dos EUA fala a frase que muitos consideram a que definem o filme: “Vocês não podem brigar aqui, por Deus, aqui é a Sala de Guerra”, ora se é uma sala de Guerra então há uma briga; Além disso, o Dr. Fantástico, conselheiro do Presidente dos EUA é alemão e não tem controle sobre suas mãos e braços e por isso vive fazendo uma saudação nazista involuntariamente, inclusive na presença do Sr. Muffley. E para mim a ironia mais engraçada é no que se refere ao Major T. J. “King” Kong que coloca um chapéu de cowboy quando o Plano R é iniciado e no fim, quando a bomba é jogada e ele está em cima dela, ele faz movimentos de como estivesse montado em um boi em algum rodeio qualquer.

Não pense que parou por aí, há ainda muitas outras ironias implícitas no filme para te fazer rir. Quanto às atuações, Peter Sellers interpreta três atuações (originalmente escalado para interpretar mais uma, a do Major T. J. “King” Kong) e está perfeito, se eu não soubesse previamente que ele faz três personagens em Dr. Fantástico, provavelmente pensaria que eram três atores diferentes. Os outros também são ótimos, mas quem realmente rouba a cena é Sellers que não ganhou o Oscar injustamente. Um único ator representar três personagens diferentes era algo muito inovador para a época e, além disso, Sellers o faz perfeitamente bem. O engraçado é que há apenas uma mulher no elenco do filme, a secretária/caso de Turgidson, que aparece muito pouco.
Como não haveria mais jeito de impedir que o avião do Major T. J. “King” Kong jogasse a bomba, Dr. Fantástico sugere uma alternativa para tornar a crise um pouco melhor, a construção de um lugar subterrâneo para proteger algumas pessoas e assim salvar a raça humana da completa extinção. E lógico que para isso, teriam que ter mulheres para continuar a procriação. Em tal lugar a proporção de mulheres para homens seria de 10 para 1 e então a maioria dos homens na Sala de Guerra (principalmente Turgidson) aprenderam a parar de se preocupar e passaram a amar a bomba, pois ela traria benefícios para eles. Títulozinho irônico este, não?

O filme termina com o mundo indo pelos ares ao som de “We'll meet again” de Vera Lynn. Poético, não é? O mundo se esvaindo, poucas ou até mesmo nenhuma pessoa sobreviverá, mas um dia todos nós nos encontraremos de novo. A letra dessa música fala coisas bonitas (céus azuis, tranqüilidade, paz, dias ensolarados) tudo ao contrário do que aconteceria se uma bomba nuclear explodisse o que causaria dias escuros, cheios de fumaças dos gases tóxicos, guerras. We'll meet again...


THE END!
Nota: 10,0


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