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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte I

Pelas caras dos personagens, dá para ver que o clima do filme não é dos melhores...


Enfim, a mais lucrativa saga do cinema chega ao fim, para lágrimas de seus produtores e delírio de seus inúmeros fãs ao redor do mundo. Bom, "fim" com uma vírgula: em uma atitude que levantou suspeitas, a Warner Bros, produtora responsável pela série "Harry Potter", revelou há muito que o último filme seria dividido em dois. Levantou suspeitas pelo fato de muitos discutirem se era realmente necessário haver duas partes e se tudo não se tratava de mais um estratagema dos sempre gananciosos produtores de Hollywood para conseguir mais dinheiro. Afinal, dois filmes lucram mais do que um! Bem, para quem conhece o último livro da saga de J. K. Rowling pode concordar: a sucessão de eventos é tão gigantesca que sim, seriam necessários realmente dois filmes para se fazer uma obra coesa. Infelizmente, isso não salva este Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1  que, na tentativa de ser um filme artístico e comercial ao mesmo tempo, acaba se tornando uma mistura desastrada de um punhado de cenas de ação com muitas longas seqüências aborrecidas.

A esta altura do campeonato, já não adianta muito explicar a sinopse do filme. Muito menos o é necessário: As Relíquias da Morte não é um filme para ser assistido por espectadores inéditos, mas por fãs da série, ou seja, por aqueles que já possuem um conhecimento prévio da trama. O ruim é que o livro de J. K. Rowling faz um verdadeiro carnaval de eventos e são tantas sub-tramas emaranhadas que o leitor freqüentemente fica perdido; agora, se isso já acontecia no livro, imagine no filme! Nem mesmo a divisão em duas partes foi o suficiente para explicar a história com calma: o diretor do filme, David Yates, gasta a maior parte da produção com cenas tecnicamente bonitas, artisticamente bem-intencionadas, porém sem nexo algum com o roteiro: mostra-se o trio principal fugindo constantemente da perseguição de Voldemort, e fugindo, e fugindo e fugindo... nesse ínterim, o grupo arma barracas, conversa sobre a triste situação, tece filosofias malucas e faz confissões, no mínimo, vergonhosas (a cena em que Rony fala como reencontrou Harry e Hermione é o momento “vergonha-alheia” do filme).


Essa é a cena mais colorida do filme. Depois disso, o filme todo é só um cinza irritante...


Porque o senhor Yates faz isso? Ora, porque ele mesmo expressou em muitas entrevistas que desejava fazer um filme “artístico”. Por isso ele gasta muito de seu precioso tempo em seqüências mudas, paradas, com diálogos pseudo-filosóficos e certa emoção forçada (a cena em que Harry dança com Hermione, sinceramente, não me convenceu). Acontece que “Harry Potter” é uma saga comercial. Os produtores esperam lucrar com ela e a platéia não vai ao filme para refletir sobre a vida ou a humanidade, mas simplesmente para se divertir. Não dá para se fazer um filme 100% comercial e 100% artístico ao mesmo tempo; é como tentar agradar a gregos e a troianos! Muitos podem contra-argumentar com filmes como Kill Billou o recente O Senhor dos Anéis, mas o fato é que esses filmes possuem peculiaridades: o primeiro é mais uma brincadeira de Tarantino com o cinema e não fez uma bilheteria monstruosa (nem pretendia) enquanto o segundo... bom, o segundo se baseia em uma obra muito mais substancial: comparar os livros de “Harry Potter” com os de “O Senhor dos Anéis” é uma heresia literária. As Relíquias da Morte acaba se parecendo com um Frankenstein cinematográfico: uma mistura confusa e atrapalhada de arte com lucro.

O resultado de tudo isso é que a trama principal fica esquecida: de ponto em ponto os personagens voltam à sua missão de facto. Mas o tempo relegado à trama em si ficou tão apertado no meio às cenas pseudo-artísticas de Yates que tudo é explicado de forma corrida e atropelada: nada na história é apresentado com coesão e, portanto, nada acaba sendo compreendido. Somente quem leu todos os livros da série pode acompanhar o filme. E isso só vale para os livros, pois acompanhar somente os filmes não ajuda em muita coisa. Ao final da projeção, pouco sabemos o que são ao certo as relíquias da morte, quais as suas reais funções na história, o que Voldemort está fazendo durante este filme e etc. Tudo fica muito confuso e a compreensão só é possível para os fãs assíduos.


O trio de protagonistas passa o tempo todo correndo, fugindo, correndo, correndo, fugindo, correndo...


Outra coisa particularmente irritante no filme é a sua iluminação. Na tentativa de criar um clima de tensão constante, refletindo os tempos sombrios nos quais os personagens estão envoltos, David Yates faz um filme cinza do início ao fim. Literalmente, praticamente não existem cores no filme! O clima é tão depressivo que, somado à monotonia das cenas “artísticas” de Yates, faz o filme dar sono em muitas horas. Sinceramente, o uso do cinza no filme foi exagerado e desnecessário, sendo possível contar a dedo o número de cenas que possuem alguma cor mais berrante. A trilha sonora deste sétimo “Harry Potter” é, talvez, a pior de todas: nenhuma música marcante, nenhuma seqüencia sonora que marque presença, nada! A única música memorável e o tema da série, cujo crédito fica com John Williams, que a compôs no primeiro filme, há muitos anos atrás. A trilha, enfim, é tão quadrada quanto a iluminação do filme.

As atuações não possuem destaque, são todas mornas e desprovidas de alma. Os momentos de tensão entre Rony e o grupo não convencem (a esta altura, estamos entorpecidos pelo ritmo moroso da narrativa), os momentos divertidos (obviamente raros) arrancam menos risos do que deveriam e as seqüências artísticas de Yates são ora inconvincentes (a cena da dança entre Harry e Hermione) ora ridículas (a cena da declaração de Rony sobre como reencontrou o grupo de amigos). O filme desperdiça Ralph Fiennes em um Voldemort que pouco aparece e que, quando aparece, o faz em espécies de flashbacks mentais de Harry, que são confusos e muito rápidos. O mesmo ocorre com Helena Bonham Carter, que faz a louca Bellatrix Lestrange, e Alan Rickman, que interpreta o clássico Severus Snape: todos eles formam um tipo respeitabilíssimo de atores que simplesmente é deixado de canto no filme, resultando em um anti-clímax constante e arrasador.


A cena em que se narra a "fábula dos Três Irmãos" é um dos pouquíssimos momentos verdadeiramente geniais nesse filme.


Mas algumas coisas se salvam nesta penúltima aventura de “Harry Potter”: as cenas de ação são satisfatórias, embora transcorram quase sempre no escuro e não possam ser acompanhadas com clareza. Algumas seqüências realmente comovem, como a morte de Dobby (não, você não leu errado). Infelizmente, não posso me lembrar de mais pontos positivos deste filme frustrante. Fica a saudade dos tempos em que “Harry Potter” era inocente e alegre como nos dois primeiros filmes, dirigidos por Chris Columbus, ou ao menos sombrios, mas animados como em O Prisioneiro de Azkaban ou O Cálice de Fogo. A série finalmente começa a se encerrar, e já vai tarde. Desde que o senhor Yates assumiu a liderança da saga no cinema, “Harry Potter” se tornou uma longa e contínua produção enfadonha com pretensões a obra-de-arte. Está na ora do diretor aprender que o público vai a uma sessão de “Harry Potter” para se divertir, não para dormir com suas intermináveis cenas incolores, silenciosas e aborrecidas.


NOTA: 5,5



5 comentários:

  1. Aqui eu falo como grande fã da série: este é o melhor até agora, pois além de ter sido o mais fiel, foi o que soube melhor se comunicar com os fãs.

    Agora, como cinema... ah, é o melhor também, hahaha.

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  2. Discordo mais que completamente. Também sou fã da série, e digo que esse foi o mais completo de todos os filmes. Arrisco dizer que é uma obra-prima.

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  3. Eu já concordo com a resenha!! Não gostei nem um pouco deste filme, pra mim é o pior da série.

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  4. Concordo em parte com a resenha. O filme é mesmo muito parado em certas partes, quando assisti pela primeira vez no cinema, foi difícil controlar o sono em algumas passagens. Porém, assistindo pela segunda vez, agora em casa, gostei muito mais, e pude observar melhor muitas das cenas. O filme é longo, mas não poderia ser menor sem atropelar a história, já que algumas partes menos importantes do livro já foram retiradas. Sou fã da série desde o começo, e digo que Harry Potter (pra mim e para a maioria dos fãs)nunca foi diversão descompromissada. Cada livro - e conseqüentemente, cada filme - sempre passaram mensagens e questionamentos que foram ficando mais importantes e profundos com o decorrer da série. Não acho que o vilão deve aparecer a toda hora pra dar uma sacudida nas coisas. Quantas vezes Sauron aparece na trilogia de O Senhor dos Anéis? Mas acho que todos os fãs sabem que o maior problema deste Parte 1, é o fato de a história no livro ficar dez vezes melhor na segunda metade. Quem sente falta de ver o ator Alan Rickman em cena, espere pela parte 2, onde seu personagem protagoniza um dos momentos mais emocionantes da série. Parabéns pela resenha, muito bem escrita.

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  5. Assim o filme quando visto pela primeira vez é de fato parado, com uma iluminação sombria, porém acredito que as boas cenas camuflam muito bem outras razoáveis.
    Quando voce assiste este filme pela segunda, terceira, enfim... ele se torna incrivelmente satisfatório pois detalhes importantes vão sendo notados e assim o filme vão fazendo jus ao cenário, ao clima tenso.

    Ironicamente a atuação de Dobby foi uma das mais convincentes no filme, ele realmente emociona ao salvar ''Hally Potter'' e os seus amigos, ah sim e ele morre, ok...

    Outra cena bem feita é Quando Hermione conta a história das Relíquias da morte e surge uma história dentro da história contada de uma maneira bem criativa grandiosa e simplória.

    FINALIZANDO, só agora caiu a ficha que o marco da parte 1 foi cenas em que os personagens eram projeções gráficas, mais ou menos isso'

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