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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A Hora do Lobo (1968)



“É a hora em que a maioria das pessoas morre... e a maioria nasce. Nesta hora, os pesadelos nos invadem. E quando acordamos, ficamos assustados.”


O medo. Há diversas sugestões e explicações para tal sentimento, e o mesmo pode estar caracterizado em qualquer coisa, principalmente as que causam-nos aversão, mas e quando temos medo de nós mesmos? E quando não distinguimos mais a nossa própria realidade? Quando não temos o controle sobre nossas ações?

É Trabalhando sobre as aflições humanas que se encontra o filme “A Hora do Lobo” de Ingmar Bergman, construindo o medo e a agonia através da ótica de um pacato casal que vive recluso em uma ilha, e o que de início parecia um sonho, tornou-se um degradante pesadelo quando outros estranhos habitantes do local provocam o pânico fazendo o casal lembrar-se de tristes recordações passadas e, aos poucos, ter sua sanidade completamente abalada.

A fotografia monocromática rima com o tom soturno do filme. A obscuridade da trama auxilia a angústia a que os espectadores e o próprio casal são submetidos, e o clima pesado só alavanca mais este processo. Tido como o único filme de terror de Bergman, na maioria, quem assiste a película com intuitos de presenciar cenas viscerais ou de altíssimo teor de violência, se decepciona, pois este é um exemplar peculiar do gênero, o que nos leva a crer que ele difere-se da maioria. O horror comparecido aqui é inteiramente subjetivo, e a cada cena ele utiliza a mente de seu espectador para interpretar e refletir sobre a agonia do, agora, desestruturado casal.

Mais que um filme de suspense/terror, “A Hora do Lobo” é sobre a crise de um casal vivendo abalos psicológicos em decorrência de problemas pessoais e conjugais, com isso a mente passa a sofrer os danos, e a estrutura familiar passa a dissolver-se em meio ao caos. Ingmar Bergman pôs cada elemento necessário para que o medo que o filme provocasse fosse inteiramente indireto. Poucos personagens, ambiente inóspito, limitadas cenas de violência. Enfim, o diretor sueco fez uma rotação de recursos para que o espectador fizesse de sua mente ativa a cada instante, para assim assimilar o que ele quis mostrar com a projeção.

A interligação dos dois universos é notável. De um lado temos o intocável ambiente do casal Johan e Alma, uma ilha inabitada servindo apenas de palco os dois apaixonados. Do outro lado o sombrio universo da alucinação, na qual tanto os espectadores quanto o casal não conseguem mais distinguir o que é real e o que é imaginário. Então, é aí que somos transportados as metas e aos devaneios do filme. O que fazer quando a situação chega ao ponto em que não se confia nem mais em si próprio? - Bem, este não é um filme de respostas, e sim de sugestões...


Indo em contrapartida, estão alguns quesitos dispensáveis, como a narrativa deveras arrastada, tornando o trabalho cansativo e pesado em sua primeira metade. Em certos momentos, tem-se a impressão que o filme pretende “fugir” de seu espectador, isso porque há muitas cenas abstratas (que muito mostram e pouco dizem) e que, de certa forma interferem no foco principal da trama. A complexidade posta por Bergman neste trabalho só ajudam a um status maior e mais considerável aos olhos do cinema, enriquecem a película, de fato, porém este “A Hora do Lobo” é um filme para poucos, pois seus artifícios e méritos não são válidos a todo e qualquer público, e infelizmente desagradará a muitos.

Em suma, “A Hora do Lobo” é um filme genial (em sentidos amplos), que nos remete a angústia humana vista em um ambiente claustrofóbico. Escorrega em alguns “poréns” é verdade, mas não deixa de ser uma grande realização cinematográfica e um marco do século passado. Ao final de tudo, a dica é, deixe-se levar pelo medo e pela aflição, pois assim, cada vez mais o filme de Bergman fluirá e se concretizará em sua mente.


“Em uma hora será manhã... Então poderei dormir.”

Nota: 7.0


2 comentários:

  1. Simplesmente fantástico, surreal e brilhante, coisa de gênio!

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  2. Considero A Hora do Lobo como um filme que podia muito e realizou o básico, isso porque, o seu ritmo arrastado e sua narrativa abstrata (lotada de metáforas) incomodam um pouco na assimilação total do que o trabalho quis apresentar.

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