Onde os Fracos Não Têm Vez (2008)

A violência é algo, infelizmente, muito corriqueiro no meio social. A cada ano que se passa mais e mais obras abrangem esta temática tão decorrente em nosso dia a dia, e a cada qual (seja ela boa ou ruim) imprime um ângulo diferente sobre este mesmo tópico. Os irmãos Coen durante sua carreira moldaram visões peculiares desse tema, usando como elemento tanto na comédia trágica Fargo quanto no suspense dramático Gosto de Sangue, mas desta vez a dupla constrói uma produção que extrapola das definições que eles já haviam apresentado, que acabou tornando-se um de seus filmes mais renomados e premiados em todo o mundo.

Logo em seu prólogo, somos apresentados a Tommy Lee Jones, que vive neste, um xerife passivo com os rumos que a desenfreada violência anda tomando em seu local; de início o público é defrontado com a macabra figura do sádico criminoso Antom (Javier Bardem), que começa uma perseguição furiosa e doentia a Llewelyn Moss, veterano da guerra do Vietnã, que vira alvo deste perigoso bandido por ter encontrado e ficado com dois milhões de dólares abandonados em uma picape velha, com muitos homens mortos em volta. Este jogo de gato e rato desencadeia uma onda de vários crimes e brutais assassinatos.

Onde os Fracos Não Têm Vez ambienta sua trama na década de 1980, nos estado do Texas, e tem sua partida através de uma sucessão de caos que abalam a sociedade, e ilustram a violência que presenciamos todos os dias em noticiários e afins. Os irmãos Coen adaptam fiel e sublimemente o romance, pois a dupla extrai vários debates deste tópico, mostrando através da perseguição angustiante entre Antom e Llewelyn, a irracionalidade e o mal que ela causa a estrutura urbana. Durante esta caçada sangrenta, os cineastas demonstram um vital talento para a construção da atmosfera de tensão, fazendo a climatização de sua obra, ser macabra e totalmente sufocante.

Mesmo revestido sobre um suspense policial, Onde os Fracos Não Têm Vez possui algumas tiradas de humor, estas sempre naturais em todos os trabalhos da dupla, e mesmo que neste eles ponderem em suas passagens cômicas, há sim inegáveis deliciosos diálogos proporcionados ao público, para que desta forma, saibamos que este é um autêntico trabalho de Joel e Ethan Coen. Embora se encontre falas de teor humorístico, o verdadeiro poder aqui, ostenta-se nos ótimos diálogos pronunciados a todo o momento do filme, pois a fórmula que estimula a tensão crescente aqui (especialmente nas falas de Antom), é a representação de cada palavra dita, e como esta era importar a situação que nos esta sendo transparecida. Nisto, o roteiro dos Coen encontra-se impecável, isento de falhas artificiais ou esquemáticas.

Aqui há uma belíssima modelagem de personagens, onde os três centrais recebem uma profundidade ímpar, aderindo as inúmeras qualidades desta obra, bem como sua força e impacto próprios. Em primeiro temos Llewelyn, um ex-soldador, que por evento do destino encontra muito dinheiro, e por tal acaba sendo vítima de um louco assassino; por ter sido tomado por sua tentação de ficar com a quantia, este homem vira a chave de todas as ocorrências da produção, em especial, a explosiva caçada, onde os sobreviventes não são garantidos, e as peças deste jogo são dois homens astutos e perspicazes, que constroem um duelo frio e calculista que resultará apenas no horror, enquanto o honesto xerife modela a “força do bem” que canaliza uma trama preenchida pela violência.

Temos atuações maravilhosas de um elenco não menos que excepcional, onde Josh Brolin impõe as características precisas e alcança a destreza necessária para composição de seu personagem; entretanto o maior destaque que aqui se encontra é Javier Bardem (em uma merecida vitória no Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), encarnado seu gélido e assustador papel, concluindo uma caracterização memorável, e desta forma, detendo a maior interpretação de todo o filme. Tommy Lee Jones molda um xerife melancólico que narra toda a linha reta de fatos. Neste prisma, notamos uma metáfora quanto os rumos que a sociedade contemporânea toma, fazendo com um homem bom (xerife) seja o meridiano que corte as duas figuras que representam a cobiça (Llewelyn) e o ódio (Antom), fatores estes que culminam na violência que degrada nosso meio.

Onde os Fracos Não Têm Vez acerta em todas as suas propostas, e eleva-se num plano superior a média atual do gênero em que representa, sendo este o melhor trabalho dos irmãos. Vencedor de 4 Oscar na premiação da academia, ele carrega em suas incontáveis qualidades, uma direção maravilhosa, roteiro soberbo e atuações espetaculares, que resultam nesta poderosa obra. Os Coen transmitem uma reflexão triste e sangrenta dos caminhos que nossa sociedade enfrenta, em sua atual condição de submissa a violência e a desumanização; e por fim, de alento para nós, a importância figura daquele honesto xerife, pois mesmo que ele seja só mais um homem velho e cansado, aqui ele representa para nós, o antigo e utópico pensamento de que um dia, poderemos dormir com a porta aberta.

Nota: 9.0