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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Os Irmãos Coen

Por Pedro Luís e Júnior S.

Ao decorrer do tempo o cinema torna-se cada vez mais acessível a novos talentos, estes com intuito e propósito de aderir ainda mais a tal arte. Neste período contemporâneo, fomos apresentados a muitos grandes nomes, e respectivamente, inevitáveis e gratas surpresas. Hoje, os holofotes de Hollywood dividem-se para inúmeras estrelas, inclusive para as personalidades a qual esta cinebiografia esta direcionada.

Joel e Ethan Coen ou simplesmente, os irmãos Coen, pelo quais são famosos, firmaram durante estas últimas décadas seu talento e imprimiram este a sua marcante personalidade perante sétima arte. Mesmo não possuindo muitos trabalhos rentáveis, os Coen possuem elementos particulares que destilaram e tornaram famosa sua filmografia, sendo assim, dois dos nomes mais influentes e decisivos desta nova geração para o cinema.

A dupla iniciou-se no meio cinematográfico durante os anos 1980, onde Joel (o irmão mais velho) conheceu o famoso cineasta Sam Raimi, este o contratou como assistente-editor em um dos maiores clássicos desta década, Joel auxiliou Raimi em seu famoso Evil Dead (no Brasil, A Morte do Demônio) de 1981. Desta forma inserindo-se de forma mais concreta nesta área.

Em 1984, junto com seu irmão Ethan, Joel realizou seu primeiro longa-metragem independente. Gosto de Sangue (Blood Simple) contou com a atriz Frances McDormand, atual esposa de Joel, em seu elenco. Narra uma trama de crime e descasos, onde o foco principal é a falta de garantia das coisas da vida. Uma jovem mulher acaba por iniciar um romance proibido com um dos funcionários de seu marido, este por sua vez contrata um detetive particular para assassiná-los, mas as coisas, eventualmente, passam a fugir do controle, tomando proporções catastróficas e irreversíveis.

Gosto de Sangue foi o anzol que direcionou os olhos do público e crítica ao talento dos promissores irmãos. Encarado por muitos como o melhor trabalho dos Coen, o argumento e roteiro escritos por eles, permitiu que a partir daí suas capacidades viessem a receber maior destaque posteriormente.

Em 1987, chega sua segunda produção cinematográfica, Arizona Nunca Mais (Rasing Arizona). Neste, os Coen demonstram seu estilo marcante para a comédia (o primeiro filme deles no gênero), apresentando um humor multifacetado que vai desde o pastelão ao ácido, com doses altas de sátira e ironia. A trama insana escrita pelos irmãos, convida o espectador para um mergulho na história de um herói-bandido em crise existencial, o ex-vigarista H.I. Acompanhado de sua esposa, uma ex-policial estéril, em uma aventura recheada de humor e irreverência.


Este inusitado casal enfrenta uma inacreditável empreitada para roubar um dos cinco gêmeos recém-nascidos de uma famosa bem sucedida da cidade, e constituir assim uma família. Dinâmicos com trabalho de posicionamento de câmera, o corte e edição, outra marca de qualidade dos filmes da dupla de cineastas mais famosa do Cinema. Temos aqui a composição de uma das melhores aberturas do Cinema, dotada de um humor fino e concebida a partir de uma longa narração feita por seu protagonista (Nicolas Cage jovem), pontuada com uma trilha em estilo Western.

Hoje, para muitos críticos, Arizona Nunca Mais é tido como um exemplar de originalidade de seu tempo, em argumento de humor e direção de atores, resultando numa deliciosa e inteligente comédia.

Depois do sucesso de Arizona Nunca Mais, os irmãos constroem mais um produto cinematográfico aderindo mais na diversificação de suas carreiras. Saindo da comédia, os Coen montam seu primeiro filme de grande teor dramático, Ajuste Final (1990) possui uma temática diferente de tudo que eles mostraram, ou, viriam a mostrar até agora. Este é seu primeiro filme sobre o mundo de gângsteres, em que eles representam sua ótica sobre o universo da máfia.

A história é narrada no início dos anos 1930 (ascensão da máfia), e gira em torno de Tom que trabalha para um dos chefes da máfia, Leo, mas em decorrência a certos pormenores, o jovem acaba por centralizar uma guerra de gângsters, entre uma trama intercalando intrigas e traições.

Ajuste Final deve ser considerado e analisado por sua densa carga de drama, mostrando-se mais que um mero exemplar de ação, um filme sobre relacionamentos, amizade e traição, ambientado em um clima triste e pessimista. A produção rendeu uma fraquíssima bilheteria, o que não conseguiu cobrir os próprios gastos de sua produção. É mais que perceptível que Joel e Ethan são cineastas que conferem a suas películas mais qualidade cinematográfica que, puramente retornos lucrativos (isso fica evidente especialmente nestas suas primeiras produções). Entretanto, apesar não sobressair-se nem a seu orçamento original, hoje ele é tido por muitos críticos como o melhor e mais bem feito trabalho da dupla.

Logo após Ajuste Final, os irmãos realizam seu segundo filme da década de 1990, desta vez tratando-se do projetor mais particular e peculiar de suas carreiras. Barton Fink - Delírios de Hollywood (1991) expressa uma análise de Joel e Ethan do cinema sobre o cinema, em uma rotação psicodélica sobre a mente de um homem comum que vê sua vida dissolver-se em meio a situações inimagináveis e desastrosas. Este concedeu a filmografia dos irmãos, aspectos singulares e, confirmou a destreza deles, atrás das câmeras e sobre a assinatura de roteiros.

Conta a história de Barton (vivido por John Turturro), um famoso roteirista de peças de teatro, que em conseqüência ao sucesso das mesmas é convidado a escrever o roteiro de um filme sobre luta livre para um grande estúdio de Hollywood, o rapaz então muda-se para Los Angeles, onde se hospeda em um hotel e faz amizade com o seu simpático vizinho de quarto, Charlie. Mas, durante isso, o jovem passa a sofrer um intenso bloqueio criativo, e então, acontecimentos bizarros passam a ocorrer na vida de Barton, e ele, por sua vez, passa a questionar-se sobre a realidade, e sobre sua própria sanidade.

Hoje, este é talvez o trabalho mais cultuado dos diretores, e tornou-se o exemplar de que a qualidade cinematográfica dos Coen funcionaria para qualquer gênero. Barton Fink é uma viagem psicológica de um só personagem compartilhando a nossa mente seus próprios devaneios e alucinações.

Em Na Roda da Fortuna (1994), completados dez anos desde O Gosto de Sangue, os irmãos Coen abriram espaço para um alguém muito especial para a dupla. Trata-se de Sam Raimi, que catapultou o talento dos irmãos para as telas, e neste assinou o argumento do longa, indicado a Palma de Ouro em Cannes.

O trio rascunhou críticas ácidas sobre a lógica empresarial a partir de uma estória ambientada nos anos 50 sobre um ingênuo carteiro recém contratado por uma grande empresa que se torna uma engrenagem de um grande golpe arquitetado pelos acionistas da companhia.

Um pouco diferente dos demais filmes Coen, Na Roda da Fortuna além de palco para os arquétipos criados pelos irmãos se desenvolverem, é uma construção ágil, que mostra todas influências filosóficas e psicodélicas da dupla, com direito a uma adaptação impagável e infame de Deus, fumante e maquinista.

Têm-se grandes nomes em sua realização, o mesmo pode-se afirmar para o campo de atuações, onde foram escalados artistas qualificados, destacando em especial Paul Newman, Tim Robbins, Jennifer Leigh.

Com muita misen-in-cene, em planos difíceis e inventivos embalados por uma digníssima trilha sonora, closes, travelling e todo show de ângulos dos cineastas, Os Coen criam mais um filme inventivo, porém, sem maior repercução diante público e crítica. Alguns apontam este, como um dos trabalhos mais frios e menos dramáticos dos diretores, entretanto, é um dos poucos que a render-se ás referências a Frank Capra e ao final subversivo, que nada deve a famosa cena do controle remoto no posterior Violência Gratuita (1997), de Michael Haneke.

Gosto de Sangue, Arizona Nunca Mais, O Homem que Não Estava Lá e Queime Depois de Ler possuem em comum alguém além dos idealizadores, Joel e Ethan Coen. Frances McDormand, a já citada esposa de Joel Coen, estrela nesses e em mais um longa que compõe essa lista. Um marco exaltado da carreira dos Coen, Fargo - Uma Comédia de Erros (1996) rendeu aos irmãos um Oscar de melhor roteiro original e a McDormand a estatueta de melhor atriz.

O filme figura também entre os vencedores do BAFTA e conta com indicações ao César e ao Globo de Ouro. Citado por dez em cada dez pessoas que comentam sobre a filmografia dos Coen. Fargo aborda uma tentativa de seqüestro frustrada, em que um vendedor de carros (William H. Macy em interpretação inspirada), desesperado por conseguir dinheiro para um negócio, decide seqüestrar sua própria esposa. O caso é então investigado a fundo por uma honesta policial, vivida por McDormand (curiosamente, a personagem dela na trama estava esperando um bebê, e, a atriz encontrava-se realmente grávida durante as filmagens).

O festejado roteiro da película, de trama mais contida em relação à filmografia da dupla, conta com momentos onde conectam-se o suspense com a comédia, tornando-se junto de Onde os Fracos Não Têm Vez, os filmes mais queridos e elogiados da carreira dos Coen.

Arquitetando uma trama de situações que se entrelaçam de forma inteligente e engenhosa, em 1998, os Coen exploram a fundo em O Grande Lebowski o que há de melhor de seus filmes: Seus personagens. Ethan e Joel amam suas criaturas e têm o dom de produzir argumentos que fazem o público amá-las também.

De uma genialidade hilariante, O Grande Lebowski retrata um curioso caso de homonímia e confusão de identidade entre um jogador de boliche, vivido com louvor por Jeff Bridges, e um milionário interpretado pelo experiente David Huddleston. Conta também com outras interpretações inspiradas de seu elenco (Phillip Seymour Hoffman, Julianne Moore...). Com destaque para o incrível John Goodman como o destemido e hilário Walter.

Temos aqui um prelúdio de discussões e passagens cômicas a respeito do judaísmo, religião essa seguida pelos Coen, contando com lampejos sobre a filosofia, em cenas com direito a efeitos especiais rudimentares, porém eficientes, retratando os sonhos de Lebowski. Esses temas citados viriam a ser discutidos ainda mais fundo no filme Um Homem Sério, 11 anos depois.

Os Coen alcançaram neste relevante sucesso de bilheteria e crítica. Lebowski é um cinema mais comercial, porém sempre dotado de acidez analítica (“Ele tem algum problema além do pacifismo?”), autoral e reflexiva, como se percebe também nos momentos metalingüísticos no final do longa (desde muito antes de Onde os Fracos Não Têm Vez, os Coen já ensejavam discussões sobre o desfecho de suas tramas).

Depois da apresentação de O Grande Lebowski ao mundo, os Coen voltariam ao mesmo gênero que graduou ainda mais suas famas. Mantendo um alto nível de humor negro e comicidade ácida, os irmãos realizam no ano de 2000, o agradável E Aí Meu Irmão Cadê Você? O filme é uma estilosa leitura dos cineastas a famosa obra literária de Homero, A Odisséia, desde seus eventos até mesmo aos personagens, tudo foi uma forma que os diretores encontram de utilizar as páginas do livro para enriquecer ainda mais a película.

E Aí Meu Irmão Cadê Você? é uma jornada de três prisioneiros (respectivamente vividos por George Clooney, John Turturro e Tim Black Nelson) que fogem da prisão, cansados de seu trabalho de quebrar pedras, e partem em destino a busca de um tesouro que Everett (“líder” do trio, personagem de George Clooney) escondeu. Porém durante essa longa estrada, muitas surpresas os aguardaram e conseqüentemente muitas confusões.

Toda a produção se situa na década de 1930, e tem como bases de locação, ambientes rurais e cidades interioranas, mantendo em toda a sua duração uma atmosfera calma e suave. A bela estética e a linda trilha sonora conferem ao projeto uma aura ainda mais agradável. Este marca também o primeiro filme do ator George Clooney e dos Coen juntos, o que viria a se repetir anos depois em O Amor Custa Caro e no recente, Queime Depois de Ler. Em aspecto de elenco o filme se saiu eficaz, aderindo mais as qualidades do trabalho no geral. Muito embora estejamos diante de mais uma deliciosa comédia dos irmãos, esse é - assim como outros - um trabalho pouquíssimo reconhecido deles, entretanto, isso só serve para enfatizar ainda mais a peculiaridade das obras dos Coen. Qualidade essa que os diferem positivamente dos demais.

Em 2001, os Coen ofereceram ao público um filme diferente, O Homem que Não Estava Lá foi filmado completamente em preto-e-branco, de narrativa lenta em um flerte com o estilo Noir que remonta os clássicos de décadas de 1940 e 1950, que aprendemos a admirar.

Como a invenção do bambolê que agita e muda o rumo de "A Roda da Fortuna", temos aqui um longa inspirado livremente na obra de James M. Cain que tem seu pontapé inicial com um empresário recém-chegado a uma barbearia comentando a respeito de uma idéia ainda vanguardista de lavagem a seco e o desejo de montar uma empresa para explorar o negócio. O protagonista da produção (vivido soberbamente por Billy Bob Thornton) é o barbeiro que decide investir na idéia, mas escolhe uma forma perigosa de conseguir o dinheiro para associar-se ao empresário. Como de costume, o filme possui destaque nas atuações coadjuvantes que neste ficam por conta do trabalho de Frances McDormand, Richard Jenkins, Tony Shalhoub e James Gandolfini.

O Homem Que Não Estava Lá esteve entre os indicados ao Oscar 2002 de Melhor Fotografia, com muita propriedade. Figurou também entre categorias importantes no Globo de Ouro e no prêmio César. Joel Coen chegou inclusive a dividir o prêmio de melhor diretor com o cineasta David Lynch por obra surrealista - e bastante premiada - Cidade dos Sonhos, no Festival de Cannes de 2001.

Depois transpirarem uma atmosfera Cult com o drama O Homem que Não Estava Lá, os Coen retornam as telas logo após, com um trabalho sem muitas projeções ou ambições maiores, estamos falando do trabalho mais convencional dos irmãos, a comédia romântica O Amor Custa Caro (2003). É talvez, junto com Matadores de Velhinha, o filme mais comercial dos irmãos, um trabalho que servirá mais como entretenimento que como maior adição a filmografia da dupla.

O filme conta a história de dois trapaceiros, de um lado, o bem sucedido e ambicioso advogado especialista em processos de divórcio (vivido pelo galã George Clooney, em seu segundo trabalho com a dupla), de outro, uma linda trambiqueira que arma o divórcio com seus maridos ricos, para dessa forma, ficar com a fortuna dos mesmos (personagem da bela Catherine Zetta-Jones). O destino dos dois é traçado quando, um dos maridos lesados por ela contrata os serviços do advogado. A partir daí, desenrola-se uma trama de armações, truques e malandragem.

O Amor Custa Caro é o filme mais light dos diretores, não apenas por tratar-se de uma comédia romântica, mas porque os elementos de suas carreiras foram anexados aqui de forma mais planificada, sendo um humor mais suave, menos mordaz, aconchegando mais o público num filme puramente hollywoodiano e convencional (mesmo tendo características visíveis dos Coen), ainda sim bastante divertido.

Logo após afirmarem sua gama em produções comerciais, os Coen continuaram na produção seguinte por conectar seus elementos mais famosos (sarcasmo, ironias, humor negro...) e com isso agregar ao público sua indiscutível criatividade. Eis que no ano de 2004, Matadores de Velhinha surge a partir da idéia de refilmagem a um clássico da década de 1950 (Quinteto da Morte), e conta em seu elenco com estrelas de renome, sobretudo Tom Hanks. Mesmo contando com os ingredientes a seu favor (bela estética, trilha sonora adequada [músicas gospel afro-americanas]...), o filme não conseguiu angariar como os demais trabalhos do Coen, perdendo o esmero e o seu lugar no alto patamar dos grandes filmes dos irmãos, e por isso, é tido pela maioria como seu pior filme.

Ainda sim, mesmo fragilizado e esbarrando em muitos hiatos, Matadores de Velhinhas se sobressai se comparado a média das comédias atuais, isso porque possui um humor negro afiado e inteligente (e um desfecho bastante engenhoso), tornando-se, eventualmente, uma sessão de agradável entretenimento.

Em participação no coletivo Paris, Te Amo (2006), os Coen mostram em reduzidos cinco minutos, uma leitura ácida e cômica sobre o amor, explorando a viagem de um turista em Paris que se encontra numa estação de trem e conhece um casal de relação doentia pelo caminho. Por curiosidade, vale citar o carismático Steve Buscemi que, com este, soma seis filmes em parceria com os irmãos.

Pontuado com poucos diálogos, o curta “Tuileries” pode ser considerado um breve retrato de humor negro sobre relações amorosas e o ideal de romantismo buscado pelo ser humano. Alguém esperava algo diferente dos Coen?

Cedo ou tarde, Grandes idealizadores recebem uma coroação incontestável pelo seu trabalho. Os famosos irmãos Coen já contavam com prestigio perante público e crítica, já possuíam o grande reconhecimento, além de prêmios como o Oscar de melhor roteiro por Fargo, e a Palma de Ouro por Barton Fink - Delírios de Hollywood, apesar disso não se deixaram acomodar. Desafiados pelo ar do faroeste oitentista visto no romance escrito por Cormac McCarthy em 2005, os Coen arregaçaram as mangas mais uma vez e produziram em 2007, Onde os Fracos Não Têm Vez, o longa de maior repercussão de suas carreiras, abraçando a partir daí, de vez por todas, a alcunha de lendas vivas do Cinema atual, acumulando apenas com este projeto mais de 90 prêmios mundo a fora, incluindo quatro Oscar em categorias de peso na premiação.

Desenvolvido a partir de uma perseguição no deserto estadunidense, um detetive vivido por Tommy Lee Jones segue o rastro de um metódico assassino vivido pelo espanhol Javier Bardem, vencedor do Oscar pela interpretação icônica conferida a seu personagem Anton Chigurh, que, por sua vez, realiza uma sangrenta caça atrás de um soldador local (Josh Bolin, que lutou para conquistar o prestigio e a confiança dos Coen e participar do longa) que foge da cidade natal após encontrar uma mala com dois milhões de dólares entre corpos abandonados após uma chacina no meio do deserto.

Num roteiro de puro suspense que se desenvolve ao passo que abre espaço para os personagens se embaterem, perseguirem uns aos outros, e revelarem a complexa natureza interna do ser humano, sem julgamentos morais e despertando discussões profundas sobre o homem, os Coen encontram em três atos de magnífica composição, espaço para esbanjar todo o seu talento na direção de seu forte argumento. Preservando o final original do livro, divergindo-se da cartilha das produções hollywoodianas, tal qual a própria dissonância cinematográfica dos Coen, os irmãos lançaram mais uma obra madura e, dessa vez, a mais decisiva em suas carreiras até então.

Depois do estupendo triunfo alcançado com Onde os Fracos Não Têm Vez, não se esperava algo grandioso dos irmãos por algum tempo, eis que eles pegaram todos de surpresa quando lançaram, no ano seguinte, uma das comédias mais divertidas e originais desses últimos anos no cinema. Lotado de humor crítico e sarcástico, Queime Depois de Ler é mais uma agradabilíssima comédia escrita e dirigida pela dupla, mostrando que o humor inteligente ainda é seu forte.

O filme é uma sátira bem montada sobre os filmes de espionagem e abrange história de um agente da CIA, que após se demitir de seu cargo na mesma, em decorrência de seus problemas com o álcool, decide por escrever um livro delatando fortes segredos governamentais. Após ter ciência disso, sua mulher rouba estes arquivos para usar contra ele no processo de divórcio. Porém estes documentos acabam parando nas mãos de dois atrapalhados funcionários de uma academia, que com isso resolvem chantagear o mesmo. Então, para resolver este caso é contratado o agente Harry (George Clooney, em seu terceiro filme junto com os irmãos), que por acaso é amante da mulher de Cox e relaciona-se (virtualmente) com Lisa, uma das chantagistas.

Temos então, através de um roteiro coerente e bem intercalado, uma comédia irreverente, ácida e irônica, características essas de outrora que a dupla reforçou bastante neste aqui. Queime Depois de Ler é um humor negro, uma variação de comédia que não agradará todo o público, por sua veia cômica atípica e seletiva. De qualquer maneira, os Coen nos presentearam com mais um delicioso trabalho, dotado de todas as características que os fizeram famosos, e conseqüentemente, desviaram a atenção do público e mídia para seus talentos.

No ano de 2009, os Coen constroem uma produção de estilo psicológico, contrastando com as demais obras que a dupla realizou durante esta última década. Um Homem Sério é um diálogo dos irmãos Coen com sua forma (inconvencional) de se fazer cinema. Neste aqui, entram em conexão as questões filosóficas e existenciais (assemelhando-se em alguns elementos com Barton Fink), sobre a perspectiva de um homem a sua própria vida.

Larry é um professor que tem sua vida totalmente distorcida, quando situações passam a amontoar-se em seu dia-a-dia. Sua mulher pretende largá-lo por outro homem, seus filhos são rebeldes, e seu irmão soma a estes problemas por morar em sua casa, e ser totalmente espaçoso e desagradável. Os acontecimentos só tendem a piorar quando ele passa a ser submetido a problemas em seu ambiente escolar.

Sobre muitas controvérsias, Um Homem Sério concorreu a dois Oscar no ano de 2010 (respectivamente, melhor filme e melhor roteiro original). A produção desvencilha-se do que os Coen apresentaram nesses últimos anos, e põe à afirmação da destreza dos cineastas, mesmo transitando em outras temáticas, neste filme, em especial, a antropologia.

Acima de uma comédia corriqueira dos diretores, Um Homem Sério é um drama denso e seco sobre os questionamentos da vida, tema abordado de forma pessoal (talvez, o filme mais pessoal de toda a carreira dos irmãos Coen) e analítica, toda sua narrativa e desenvolvimento são dotados de metáforas e simbolismos, mostrando sobre um prisma diferente, o quão vazia e incompleta é a vida do ser humano moderno.

Ainda em circuito cinematográfico, Bravura Indômita é o mais recente trabalho dos irmãos Coen. A dupla de diretores mais renomada de Hollywood atualmente provam com este o prestígio que a criatividade estilística deles atingiu com o passar dessas duas décadas com suas produções originais e de imensa ousadia.

A refilmagem do clássico filme de 1969 está conquistando além do público, a crítica especializada, e recebendo por isso muitos gracejos e grande repercussão mundial (como era esperado). Em termos de roteiro, o longa contrasta com o estilo dos Coen por não contar com o sua veia cômica, e humor negro marcante em suas obras. Pelo outro lado, o argumento torna-se bastante coeso com a pregressa filmografia da dupla, temos diálogos inspirados em interpretações igualmente grandiosas, que brilham sem recorrer as fórmulas convencionais de Hollywood.

O recém premiado do Oscar, Jeff Bridges, surge ao lado da talentosa atriz mirim Hailee Steinfeld, formando uma dupla improvável, porém muito interessante. Temos aqui a história de uma jovem que contrata um xerife para que o mesmo mate o assassino de seu pai, mas impõe ao contratado a condição de acompanhá-lo na empreitada.

O filme conta com quesitos técnicos primorosos, desde sua bela maquiagem a sua excepcional caracterização externa, em uma ambientação grandiosa do velho oeste, lembrando, nem rapidamente, outros trabalhos da filmografia deles em que em aspectos estéticos assemelhassem com o filme em questão (exemplo, Onde os Fracos Não Têm Vez).

Indicado ás principais premiações deste ano (totalizando 10 indicações ao Oscar), este já faz frente entre os grandes cotados a vencedor. Bravura Indômita além de contar com uma calorosa recepção pública e crítica, conseguiu algo não muito corriqueiro tratando-se da filmografia dos irmãos, o filme está conseguindo (ainda está em cartaz) êxitos em bilheterias, tomando o primeiro lugar de muitas outras produções bastante cotadas. Este é, desde já, a maior bilheteria dos irmãos Coen, que afirmou a destreza da dupla em conciliar inteligência à rentabilidade, sem para isso perder um milímetro de sua qualidade cinematográfica.

Admirando ou não, é inegável que os irmãos Coen são a dupla mais autoral e própria entre os cineastas atuais de Hollywood, seu trabalho cria um elo peculiar e particular com o cinema como essência, como arte. A cada trabalho repassado, tornamo-nos ainda mais testemunhas do quão ímpar e original é a criatividade desses dois irmãos. Sendo assim, resta a nós, como espectadores, agradecer por cada um desses filmes realizados, pois além de preencher nossos olhos, os Coen são o símbolo decisivo de que o cinema é, e continuará sempre sendo um sinônimo de qualidade.

3 comentários:

  1. Adoreeeeei essa matéria! Parabéns, Junior e Pedro, ficou realmente ótima! *___*

    E os Coen são, indiscutivelemnte, dois dos maiores cineastas em atividade! Geniais, é a palavra!

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  2. E os Coen são, indiscutivelemnte, dois dos maiores cineastas em atividade! Geniais, é a palavra! [2]

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  3. Preciso ver Bravura Indômita o quanto antes!

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