Pânico (1996)

Durante um período onde há escassez de originalidade, sempre é bom para o cinema ver nascer um exemplar que vá reanimar seu gênero, e eventualmente, incluir seu nome na história. Pânico conseguiu consagrar sua fama de uma forma diferente, original, isso porque o filme foi responsável por uma revolução ao gênero terror, fazendo uma paródia com o mesmo, através de toda a sua história e sua narrativa. Pânico brinca com os clichês habituais de seu gênero, e destila-os em tela de forma criativa e inteligente.

O foco principal de Pânico não é fugir dos clichês, mas sim utilizá-los unicamente a seu favor, criando a partir destes uma trama inovadora e original. O filme além de conquistar o público e garantir um relevante sucesso, foi uma deliciosa e bem-vinda surpresa para a crítica, que naquela época pouco apostava em um gênero tão suturado quanto. Mesmo hoje pareça datado para alguns, Pânico conferiu para a década de 1990, um dos maiores renascimentos ao terror já vistos na história, tanto em aspectos comerciais, quanto cinematográficos, onde o filme ainda marcou a chegada do subgênero terror adolescente.

A história do filme se constrói através de um serial killer que anda assolando a região, e assassinando os jovens baseando-se em cenas clássicas dos filmes de horror. Então, o grupo de jovens passa a notar que para enfrentá-lo é preciso conhecer mais sobre o que o assassino utiliza para arquitetar seus homicídios: os filmes de terror. Através dos clichês, Pânico consegue construir um universo próprio e ímpar. Talvez este seja o seu maior atrativo, a forma com a qual brinca com as características mais básicas de seu gênero, sendo irônico, irreverente e totalmente inovador.

Precisa-se destacar que Pânico não assusta, afinal, não foi com este propósito que o filme foi criado, e é a partir deste afastamento de um dos princípios mais básicos em seu gênero que esta produção emerge um de suas maiores qualidades, ser incrivelmente inesperado (em todos os sentidos). O filme funciona como uma auto-paródia, e esse é o principal ingrediente a torná-lo tão fascinante e delicioso. Mesmo aos que tentaram (e ainda hão de tentar), nada se compara a Pânico, desde sua importância a originalidade que depositou no gênero horror.

Pânico é uma homenagem primorosa aos clássicos filmes de terror, fazendo inesgotáveis referências aos mesmos, e construindo sua própria personalidade a partir de fragmentos que tornaram estes filmes tão famosos. As surpresas que Kevin Williamson descarregou em seu roteiro, nada mais são que uma variação aos inúmeros clichês que preenchem seu gênero, entretanto toda a construção permite que o filme faça destes, instrumentos para sua inovação perante o público e o cinema.

Além de todos os argumentos citados que enriquecem os fatores do filme, outro em particular fez com que este garantisse ainda mais pontos a sua arquitetura. O denso mistério sobre a real identidade do serial killer é um dos mais bem feitos do cinema, não apenas pelo suspense ali criado, mas pelos inúmeros palpites que o roteiro nos permitiu até culminar em seu ato final. Este foi um dos motivos a tornar Ghostface um dos símbolos mais reconhecidos dentro do cinema, possuindo tanta ou até mais popularidade que aqueles personagens que um dia satirizou.

Com esta obra, o nome de Wes Craven e Williamson foram, definitivamente, alçados a fama e a glória. O filme acertou em seu alvo, conquistando tudo que almejou e, de quebra, catapultando seu gênero a um status e relevância maiores. Pânico marcou não apenas uma década, mas guardou seu lugar na história e na memória de toda uma geração, e até hoje ainda permanece vitalício e vigoroso na mente daqueles que o apreciam como um grande filme, melhor dizendo, como um verdadeiro clássico.

Nota: 9.0