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quinta-feira, 31 de março de 2011

Corpo Fechado (2000)


Shyamalan é um cineasta que consegue inovar a cada projeto filmado, seu talento ao guiar a lente de uma câmera é indiscutível, e por isso, em cada filme que seu nome for estampado como realizador principal, uma coisa será certa, ele sempre nos surpreenderá. Não falo apenas em reviravoltas inesperadas, mas sim de seu próprio estilo como diretor e roteirista, que inova a cada trabalho feito, seja em um filme em que um garoto é atormentado pelo dom de ver pessoas mortas, ou de uma comunidade isolada que é aterrorizada por criaturas enigmáticas que vivem nas florestas ao redor. Shyamalan é um diretor de personalidade ímpar, que consegue como poucos, envolver seu público numa enigmática trama.

Em Corpo Fechado, este trópico de surpresas que o cineasta imprime a sua carreira continua intacto, só que o filme em questão nasceu de imediato com um peso em suas costas, o de superar o estrondoso O Sexto Sentido (filme anterior, e o mais famosos do cineasta), não apenas em tramas em roteiro, mas o que o público buscava na verdade, era mais uma revelação que conferisse um impacto tão grande quanto o do filme predecessor. Entretanto, diferente do filme de 1999, Corpo Fechado buscou, com seu desfecho surpresa, complementar todas as frestas de sua estória, diferente de O Sexto Sentido que permitia ao espectador uma segunda revisão que o fizesse avaliar os fatos e pistas descarregados por toda a projeção, e entender que todo aquilo fora armado com perfeição para estarrecer o público, e fechar genuinamente todo o ciclo que a estória seguia.

Aqui, Shyamalan aposta no real, no palpável, criando uma trama que, ainda sendo improvável, finca seus pés num total realismo, sem por em discussão temas sobrenaturais como costumeiramente abrange em suas obras. O filme conta a trajetória de David Dunn (Bruce Willis), que está vivendo uma crise em seu matrimônio e uma insatisfação em seu trabalho como segurança de um estágio de futebol. Então, ao retornar de uma cidade após uma entrevista de emprego, ele acaba se tornando vítima de um grave acidente no trem em que se encontrava. Todos os passageiros morreram, menos David, e o que era mais estranho, sem nenhuma seqüela ou sequer um arranhão. Ele desperta o interesse de Elijah Price (Samuel L. Jackson), um aficionado por histórias em quadrinhos que apresenta sua teoria de que David Dunn é um ser inquebrável, em outras palavras, um super-herói.


Os eventos em Corpo Fechado são dos mais profundos e cáusticos possíveis, Shyamalan possui o dom de intensificar as situações que apresenta de maneira tensa e angustiante, sem para isso utilizar qualquer artifício de maior movimentação em suas cenas. O filme percorre seu caminho estudando e analisando cada um de seus personagens, demonstrando suas características mais íntimas, e muitas apenas em gestos e olhares. Corpo Fechado é um filme triste, de narrativa sofrida que carrega toda a carga emocional e o desenvolvimento difícil de cada um em tela de uma maneira detalhada, onde é explicável o ritmo lento com que tudo aquilo se desenvolve – ainda que eclipse uma total apreciação deste por parte do grande público.

A manutenção de personagens continua sublime, se há uma coisa que os roteiros de Shyamalan produzem (há exceções, naturalmente) são personagens bem trabalhados, alguns até, marcantes e deveras carismáticos. Em Corpo Fechado, todas as situações favorecem – seja em maior ou menor escala – num amadurecimento particular de cada personagem, desde as subtramas envolvendo a relação entre David e sua esposa, ou com seu próprio filho, até o foco principal entre a auto-descoberta em que David Dunn se encontra, auxiliado pelo excêntrico Elijah Price. As atuações demonstram-se soberbas, os protagonistas - Bruce Willis e Samuel L. Jackson - encarnam fervorosamente seus respectivos papéis, e garantem uma profundidade maior as criações de Shyamalan; o mesmo pode ser dito dos coadjuvantes – Robin Wright Penn e Spencer T. Clarke -, que aplicam belas performances e alçam toda a trama em si a um patamar superior a de um “filme de super-herói” corriqueiro.

Corpo Fechado encerra-se perfeitamente, onde todas as suas pontas são interconectadas num glorioso desfecho, que além de provocar um considerável impacto (ainda que seja mais previsível que o de O Sexto Sentido), consegue trancar perfeitamente a análise consistente que Shyamalan montou, onde são examinados os motivos existenciais dos seres humanos e as respectivas missões para as quais foram pré-designados. Um filme de super-herói distinto da maioria, que apresenta a pura e complexa essência por trás das páginas de cada história em quadrinho, e apresentando ao mundo uma ótica de que, ser um super-herói não é tão fácil quanto imaginam. Mais um grande capítulo escrito na filmografia do diretor indiano, que com este, conseguiu de forma sublime, interligar o brio de seu texto para causar uma verossímil e consistente reflexão.

Mais uma razão pela qual este filme é digno de aplausos.

Nota: 8.5



7 comentários:

  1. Este filme é uma obra de louco (no bom sentido)! GRANDE! Melhor que o Sexto Sentido.

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  2. Concordo que é um ótimo filme. Bem filmado, bem dirigido e com boa trama...

    Ja na questão do Shyamalan, eu divido a carreira dele em dois momentos. Um ótimo, quando fez O Sexto Sentido, Corpo Fechado e Sinais. Nesse periodo ele despontava como um grande diretor e roteirista, e prometia muito para os proximos filmes. Mas ai veio o segundo momento, onde ele pra mim se perdeu totalmente (A Dama na Água, Fim dos Tempos e O Último Mestre do Ar). Caiu muito o nivel dele com esse filmes (A vila eu acho que ficou separando as duas fases, nem tão bom quanto os da primeira, mas mehor que os da segunda)
    Enfim, espero que um dia ele possa voltar a filmes do nivel de Corpo fechado.

    http://omundodoscinefilos.blogspot.com/

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  3. Outra coisa, estou indicando seu blog para um selo, ja que você é um grande parceiro do mundo dos cinéfilos (ainda que eu tenha recebido o selo pelo meu outro blog). Seu blog tem ótimo conteúdo, então merece...

    ta aqui
    http://thenerdsarecool.blogspot.com/2011/03/selo-de-qualidade.html

    em nome do the nerds are cool e do mundo dos cinéfilos

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  4. Gosto muito de "Corpo Fechado". O roteiro, além de muito intrigante, tem uma execução perfeita do Shyamalan, que, na época, era um diretor ainda de muita visão! :)

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  5. Adoro Corpo Fechado(como vocês leram nesta crítica), assim como adoro o M. Night Shyamalan. É certo que ele errou, mas, na minha concepção pelo menos, o número de méritos dele sobressai-se ao número de equívocos.

    De O Sexto Sentido à A Vila são todos filmes excelentes, de verdade! Eu não gosto de A Dama na Água e acho Fim dos Tempos mediano/fraco, e não assisti O último Mestre do Ar ainda, mas não espero nada deste filme mesmo.

    Dito isso, ainda, como admirador assumido, espero ainda coisas boas do cineasta no futuro.

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  6. Adoro Corpo Fechado, até mais que O Sexto Sentido - do qual não sou muito fã. E, apesar de últimos trabalhos ruins, ainda acredito em Shyamalan, haha.

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  7. Eu adorei esse filme, só falhou no final. É meu preferido dele depois de O Sexto Sentido! Dou a mesma nota que você , 8.5!!

    http://pudimdecinema.wordpress.com/

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