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quinta-feira, 17 de março de 2011

Luzes da Ribalta (1952)

Lindo, tocante, real e único. Luzes da Ribalta tem inúmeros predicados, além de ser uma oportunidade exclusiva de conhecer outras facetas do grande Charles Chaplin. Sim, porque somente nesse filme é possível ver um lado totalmente pessoal do diretor, nunca antes mostrado. Apesar de Chaplin sempre expor suas críticas por meio de seus filmes, somente nesse ele mostra seu lado mais frágil e mais infeliz.

Luzes da Ribalta é um filme complexo, apesar da história simples, de tamanha originalidade e envolvido inteiramente por um tipo de beleza triste. Tal beleza é vista em peso no relacionamento entre os personagens principais, Calvero e Terry. Calvero é um palhaço em decadência, amargurado de saudade dos seus tempos de glória. Terry é uma bailarina tristonha, que é impedida de se matar por Calvero. Os dois encontram um no outro a esperança de encontrarem novamente a felicidade perdida. A diferença maior entre os dois é clara: a idade. Terry ainda é nova e cheia de oportunidades pela frente, enquanto Calvero já é velho e esquecido.

Os dois personagens centrais são de extrema delicadeza, construidos detalhe por detalhe por Chaplin. Nunca antes o diretor fez tanta questão de expor sentimentos mais densos através de suas expressões faciais. Ao contrário da maioria dos filmes de Chaplin, Luzes da Ribalta não é mudo. No entanto, Chaplin usa bastante técnicas dos filmes mudos, talvez como forma de mostrar sua saudade de outrora.
Na época de lançamento do filme, Chaplin foi até a Inglaterra para a estréia. Infelizmente nunca pode voltar, já que o governo dos EUA o exilou por motivos políticos (encarando o diretor como comunista). Isso causou maior amargura no coração dele, que jurou nunca mais voltar ao país, passando a entrar na famosa Lista Negra de Hollywood.

Como se pode imaginar, a vida pessoal de Chaplin não ia muito bem, e ele mostrou toda a sua tristeza por meio desse filme. Mais do que isso, Chaplin mostrou também um tipo de redenção, em que ele não sentia mais prazer em continuar com sua profissão. Calvaro é um retrato explícito disso, já que também é um comediante em decadência. As luzes de ribalta que dão nome ao filme estavam apagadas de vez para o diretor, de modo que Chaplin só produziu mais dois filmes depois desse.

A personagem Terry também simboliza algumas mulheres importantes na vida de Chaplin, principalmente sua mãe, que por um problema de laringe foi obrigada a deixar a profissão de cantora e atriz, e que acabou num asilo com problemas mentais.
O filme contem a surpreendente aparição de Buster Keaton, ator e diretor considerado grande rival de Chaplin na vida real. Há também as participações dos filhos de Chaplin, como Sydney (interpretando o pianista Neville) e a conhecida por todos Geraldine Chaplin.

Enfim, esse filme é a mais pura autobiografia do querido Charles Chaplin, desde seu grande sucesso com o personagem Vagabundo até sua decadência. Foi também por esse filme que Chaplin ganhou seu único Oscar (Melhor Trilha Sonora).

Não é recomendado para aqueles que querem dar boas risadas com as típicas comédias pastelão do diretor. É um filme de grande carga dramática, que com certeza irá emocionar até chegar em seu clímax, nas inesquecíveis cenas derradeiras.

Nota: 10.0

Um comentário:

  1. "Luzes da Ribalta" - a dramática realidade de Chaplin expressa pela utopia de se rever o passado.
    O contraste entre o passado e o presente, entre a juventude e a velhice.
    Enfim, o cenário prepara a partida do diretor que em seus últimos anos de vida reflete tudo o que vivera.

    (Halef Narciso)

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