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sábado, 26 de março de 2011

A Vila (2004)


Ao longo de seu trajeto, A Vila desempenha papéis distintos na concepção de cada espectador, ao seu desfecho, (hipoteticamente) o primeiro grupo sai de sua sessão admirado com o resultado positivo que toda aquela trama causou, e constroem a ciência de que aquela é uma obra grandiosa e brilhante do gênero suspense. Por outro lado, o segundo grupo, com o fim de tudo, sai plenamente decepcionado e insatisfeito com o curso que o projeto tomou, vindo a crer que seja o declínio definitivo da carreira do cineasta. Infelizmente, estas são as divergências opinativas a cada obra realizada por M. Night Shyamalan, onde alguns ainda confiam em sua habilidade e destreza, e outros, porém, determinam que ele já afundou a muito tempo.

A Vila é o trabalho que iniciou as maiores críticas negativas para com as realizações de Shyamalan, onde deu-se o prelúdio de repulsa e desprezo para com suas obras posteriores. É certo que hoje os últimos trabalhos de Shyamalan deram uma freada significativa na qualidade que preenchem suas obras anteriores, mas isso não significa, nem por um instante, que os equívocos que o diretor cometeu atinjam as virtudes conquistadas pelos seus filmes de alto patamar. Portanto, defendo a idéia de que, A Vila é sim uma magnífica realização de seu gênero, que merece todo o respeito, e quem sabe daqui há algum tempo, uma mais correta apreciação. Com essa obra, M. Night Shyamalan comprova saber conseguir (mesmo para os que não admiram seu trabalho) criar uma atmosfera de pânico verdadeiramente angustiante e tensa, bem como possuí a habilidade de modelar um suspense sufocante e magnético.

Mais uma vez, Shyamalan ministra a autoria de seus roteiros, dessa vez, apresentando ao público não apenas um mais suspense macabro, mas também o prenúncio para um belíssimo romance. A trama se situa num pequeno vilarejo do século XIX, onde este ilhado local é cercado por floresta por todos os seus extremos. Os moradores deste lugar selaram uma promessa de jamais sair daquele lugar, e em hipótese alguma se comunicar com a zona urbana, portanto a única sociedade e comando que eles possuem são os “anciões” da vila, que mantém a ordem e o sossego naquela comunidade. Entretanto, nestas florestas que cercam os limites do vilarejo, se escondem criaturas enigmáticas e ferozes, chamadas “aqueles-de-quem-não-falamos”, por respeito a um pacto criado pelos habitantes com estas, onde um não penetra o habitat do outro, e assim mantém um tratado mútuo de “paz”. Porém, em decorrência de um evento provocado pelo destino, os limites são ultrapassados.

A Vila possui uma narrativa poética, onde pode repousar sua estória em uma trama que ainda sendo monstruosa, possui uma mensagem terna e singela. Novamente, o cineasta mostra total domínio sobre a construção de seus personagens (protagonistas, especialmente), em A Vila temos, além de protagonistas plenamente carismáticos, atuações fabulosas que sustentam os alicerces que Shyamalan construiu na criação de seus personagens. Nitidamente, o grande destaque é Bryce Dallas Howard - filha do cineasta Ron Howard -, que desempenha talentosamente o difícil papel da cega Ivy, uma jovem sonhadora e obstinada, que exigiu da atriz iniciante uma interpretação cuidadosa - coisa que Howard cumpriu incrivelmente. Os nomes escalados para a composição de elenco em A Vila são os mais notáveis, passando desde Adrien Brody como o deficiente mental Noah Percy, até o veterano William Hurt em seu papel como o chefe “ancião” do vilarejo titulo.


Shyamalan despeja em sua trama uma eficiente carga dramática, como já havia feito em suas obras anteriores, prezando sempre o lado humano e sentimental de sua estória, ao invés de apenas um suspense injustificável. Aqui, o velho recurso de “reviravolta surpresa” pelo qual o diretor ficou conhecido se faz presente, porém as revelações de A Vila acontecem não em seu desfecho, mas no meio de seu percurso, é tanto que este impacto que o diretor quis empregar em seu público, foi um dos responsáveis pelas muitas controversas opinativas ao redor das qualidades do filme. Ao que parece para uns, este artifício que ele quase sempre utiliza em suas obras servem para desvencilhar o espectador de seus textos frágeis, embora que discorde desta afirmativa, algumas revelações em A Vila (sim, são mais de uma) se mostram um tanto quanto esquemáticas, desarticuladas, e este é o equívoco a qual o filme se rendeu, mas ainda sim, não obscurece as maiores virtudes que imperam nesta obra.

Toda a ambientação de A Vila permite ao espectador construir seu próprio cenário de horror perante aos sons e as imagens que lhe são cedidas. A climatização quase palpável do medo e do terror parece espreitar seu público a cada cena que se sucede, em um implacável e digno suspense subjetivo. Onde poucos elementos servem de alta suficiência para tocar fundo na imaginação e no subconsciente do público. Todo o cenário de A Vila foi programado para contribuir para a propagação dos sustos, bem como das simbologias (cores, imagens...) que o diretor destila eficientemente na construção de seu trabalho. A estética da produção é belíssima, permitindo uma interação perfeita das cores e da própria paisagem que ambienta toda a produção. É, definitivamente, um belíssimo filme, não apenas para os olhos, mas para os sentidos.

O suspense que Shyamalan modelou em A Vila figura entre os mais autênticos e atmosféricos de sua carreira, e, embora muitos pensem o contrário, este é sim um trabalho louvável de um diretor que sabe bem sugerir o medo e o pavor aos mais ávidos a este gênero cinematográfico. Através de seus méritos, A Vila cortou todos os meridianos negativos que o entrelaçaram, se mostrando uma obra profunda, onde o medo e o conteúdo que embasa em suas discussões andam juntos em prol de uma gratificante experiência cinematográfica. Um exemplo de filme que, mesmo que ainda não receba a devida atenção e reconhecimento, algum dia, ainda conquistará seu tão merecido lugar no topo.

Nota: 9.0

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