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sábado, 26 de março de 2011

Sinais (2002)



Filmes que causam o debate e até mesmo a incompreensão após sua primeira exibição, são realmente filmes donos de conceitos mais profundos que a maioria das produções de gênero semelhante não são capazes de apresentar. Casos como esse acontecem em alta parcela nos circuito cinematográfico, onde filmes com “algo a mais” para apresentar ao público passam incólumes a maiores reconhecimentos acerca do conteúdo que tem a oferecer, ou o que é pior, são repudiados pela grande maioria por serem algo a mais que a diversão ingênua que muitos procuram em suas sessões de cinema.

Como exemplo disto temos uma produção bastante controversa lançada em 2001, de nome Cidade dos Sonhos criada pelo cineasta David Lynch; trata-se de um suspense dramático possuidor de inúmeros simbolismos e metáforas visuais, onde uma intrincada trama investigativa se torna palco para algo muito maior e mais complexo. O resultado que este adquiriu foi divergente em todos os sentidos, a quem tenha amado e há também que o tenha desmerecido. A cada ano que se passa, essas injustiças sempre ocorrem com estas obras de maior valor mental e sensorial, prova de que, a cada dia o cinema contemporâneo se rende cada vez mais a produções burocráticas, esquecendo-se de demonstrar e prezar mais obras voltadas para o ângulo artístico e sensorial.

Sinais, de M. Night Shyamalan, faz parte desta categoria de filmes pouco reconhecidos em, pois, apesar de ter ido consideravelmente bem a seus números de bilheteria, foi uma produção repudiada por boa parte do público e crítica especializada, sendo que, verdadeiramente, trata-se filme com mais a apresentar que apenas seus momentos de suspense e tensão; é uma obra sensível, pensante, dotada de simbolismos e metáforas de cunho religioso, que para serem esclarecidos necessitam do exercício mental de quem o assisto, sendo assim, Sinais faz parte da categoria de filmes que merecem mais apresso que um dia receberam.

Como nas outras obras do cineasta, Sinais é escrito e dirigido por Shyamalan, portanto, é nítido o domínio que ele possui sobre cada cena e cada momento de sua película, então é crível, portanto, que esta autoria sobre cada obra que realiza confere a estas uma visão mais completa e personalizada de tudo. Desde O Sexto Sentido à Fim dos Tempos (citando do primeiro ao último trabalho que o cineasta dirigiu e escreveu) percebe-se que, ninguém seria mais adequado que ele próprio para dirigir seus filmes, porque, ao mesmo tempo em que os criou, ele parece entender perfeitamente e saber expor da melhor maneira a profundidade de seus personagens numa espiral de sensações que estes repassam ao público.

Seja em qualquer trama que tenha criado, o diretor sempre as conecta num meridiano em particular, que é o de colocar seus protagonistas em situações extremas, totalmente improváveis, então a partir disso, eles extraem uma mensagem benéfica para suas vidas - que em todos os casos, não anda bem. Seja sobre o psiquiatra infantil, aborrecido pela falha com um paciente ou um superintendente gago que sofre com seu passado e passa a ajudar a moça que mora na piscina de seu prédio; em qualquer estória que tenha feito, este detalhe em particular cruza todos os projetos de sua autoria, tornando cada filme seu, dotado de uma reflexão particular, seja em menor ou maior grau de escala.


Em Sinais não é diferente, pois sua trama abrange temas difíceis, retratados com todo o brio e esmero da equipagem entre o roteiro de Shyamalan e o bom elenco escalado para o filme. O filme narra à estória de Grahan Hass, um homem amargurado e sofrido após a morte de sua esposa. Após este trágico evento, Grahan abandona sua fé e seu cargo como pastor do lugar. Ele vive com sua família - irmão e dois filhos - numa fazenda, em uma localidade rural. Em um fatídico dia, o homem acorda com uma sensação esquisita, até que ouve os gritos de sua filha caçula, ele e seu irmãos então correm por entre o extenso milharal e deparam-se com algo inesperado, quando vêem que em sua plantação há círculos imensos, desenhados e alinhados de maneira estranha e sobrenatural.

Mesmo tratando-se de um filme que contém uma invasão alienígena como pano de fundo principal para sua estória, não há discos voadores, nem muito menos batalhas espaciais entre naves, Sinais utiliza este contato extraterrestre para compor a modelagem de algo muito mais complexo e profundo em sua trama. O que Shyamalan quer debater em mesa-redonda é, a perca e a recuperação da fé de um homem, a religiosidade posta com ponto central da luta interna de um homem pelo crível e o incrível. A reflexão existente em Sinais passa muito além da categorização de um suspense corriqueiro, isso por adentra em um loop de dilemas pessoais de cada um. Seus dogmas, sua religiosidade, e acima de tudo, sua fé.

O elenco escalado desempenha performances que coroam ainda mais a obra em questão, conferindo profundidade e personalidade própria a seus papéis, passando do jeito fechado de Mel Gibson ao estilo tímido e recluso de Joaquin Phoenix, além é claro, do carisma inegável dos dois pequenos. Carregar o peso de cada um destes papéis realmente não é algo para qualquer ator, por isso, cada nome escalado aqui, destaque e enriquece os inúmeras virtudes de Sinais.

Para os menos ávidos a este tipo de obra reflexiva, podem suprir sua ânsia ao aproveitar os predicados adicionais do filme, pois Sinais obtém em sua composição uma atmosfera cortante e assustadora, pontuada com um suspense de primeiríssima qualidade, que convenhamos, Shyamalan sabe proporcionar como ninguém. Então, esse foi o trajeto de Sinais percorreu desde seu lançamento, mais um filme não devidamente apreciado e compreendido, por isso levado injustamente para o ângulo da leviandade e do gratuito, mas diferente do que muitos pensam, esta é sim uma obra que tem muito a oferecer e contribuir para seu público, e para tomar ciência disto, basta apenas abrir os olhos devidamente, e só assim verão que há algo muito além do básico e corriqueiro. Verão o extraordinário.

Nota: 9.0


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