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domingo, 3 de abril de 2011

Elefante (2003)



O bullying é um problema não apenas presente nas instituições educacionais, mas também em todos os círculos sociais, na qual um indivíduo sofre por meio da violência psicológica e/ou física, em que os casos ocorrem repetidamente, e em sua maioria, as vítimas são pessoas que recuam através da pressão que sofrem e mantêm-se incapazes de defenderem-se de qualquer maneira. Estes atos de violência protagonizam o caos em ambientes escolares de todo o mundo, e esta revolta por parte das vítimas propaga-se por entre todo seu meio de convivência, podendo causar sérios danos ao psicológico destes e afetar, principalmente, em seus relacionamentos sociais.

Gus Van Sant molda uma obra que visa compreender e apresentar o problemático e confuso universo dos jovens, tentando montar, através de uma realidade fictícia, um espelho refletor do comportamento da juventude moderna, usando somente sua câmera como um guia por entre o espaço onde o mundo particular de cada um destes jovens se conecta: a escola. Em Elefante não haverá explicações definitivas, não haverá julgamentos, apenas uma amostra da situação catastrófica da geração contemporânea. O filme é uma clara referência ao trágico massacre em Columbine, em 1999, no estado do Colorado, Estados Unidos; então, a partir deste caso, Van Sant remonta, basicamente, uma análise de toda a chacina, e inclui possíveis elementos que justificassem essa atitude monstruosa.

Dois estudantes, de classes sociais altas, entram armados no colégio e matam alunos, professores e funcionários do local. Em seguida suicidam-se. Este chocante acontecimento ocorrido no Instituto Columbine foi a fonte de inspiração para esta obra de Gus Van Sant, onde o cineasta utilizou deste massacre para se aprofundar num estudo consistente da natureza humana. Elefante visa mostrar não apenas o massacre em si, mas o dia a dia das vítimas e dos criminosos, em um tour por toda a escola, palco de todo o horror. Elefante ainda descarrega certas possibilidades para a motivação da chacina, uma delas levanta a questão da homossexualidade dos autores, fascínio por jogos de violência, e um estranho fascínio pela figura nazista de Adolf Hitler, todos estes itens mesclados com o ódio que sentiam pelo bullying sofrido no ambiente escolar.


Elefante possui uma curta duração, que mira seu foco apenas nos eventos ocorridos na manhã do massacre, onde o diretor persegue estudantes distintos para apresentar ao público o mundo íntimo de cada um deles, passando pela garota excluída por sua falta de beleza ao grupo de garotas fissuradas pela beleza, que em busca dessa praticam a bulimia. Cada qual sofre uma espécie de preparação e análise até que sejam, eventualmente, submetidos ao implacável crime. Através de uma narrativa fria, quase desumana, a narrativa conduz toda a trama de uma maneira inesperada, mostrando os fatos e abordando seus temas sem qualquer sentimento, o que atinge fortemente o espectador. Entretanto, esse foi a maneira que Van Sant encontrou de expor sua ótica sobre a juventude atual, analisando-a em um prisma cru e totalmente estático.

Tudo é filmado com a máxima veracidade, não para recriar o que já aconteceu, mas para demonstrar que certamente pode acontecer de novo. A casualidade com a qual a vida cruzasse inesperadamente é algo retratado de forma verossímil por Elefante, quando mostra a existência de cada um daqueles adolescentes, que se encontram todos os dias na mesma escola e nem imaginam de que trágica maneira suas vidas se conectaram. Esta colisão de universos projeta uma autenticidade ainda maior a obra, tornando-a quase um material documental desta nova geração.

Elefante não repassa, em momento algum, uma mensagem esperançosa quanto ao futuro dos jovens atuais, pelo contrário, o que ele demonstra é exatamente o urgente direito de serem ouvidos e respeitados, não apenas em seu ambiente educacional, mas em toda a sociedade que habitam. O bullyng, o massacre são exemplos das conseqüências drásticas trazidas pela falta de atenção que os problemas juvenis carecem. Eles precisam serem ouvidos, serem compreendidos e, sobretudo respeitados. Caso isso não aconteça, os fatos que Elefante apresenta serão apenas uma parcela dos prejuízos que a sociedade sofrerá; e com isso Van Sant mostra que esse filme é, não somente uma junção de imagens na tela, mas também uma situação que presenciamos todos os dias, mas que, infelizmente, tapamos os olhos para não enxergar.

Nota: 8.0



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