É incrível como em um ano de surpresas moderadas, e certos trabalhos descartáveis, algumas obras puderam fincar raízes em virtude a seus méritos próprios e sua maneira de entrelaçar o público a sua trama. Certamente, O Escritor Fantasma figura nesta categoria, pois além de proporcionar um entretenimento inteligente como poucos estão habilitados hoje em dia, este filme ainda provoca em seu espectador uma tensão angustiante, que ultrapassa os limites das imagens e propaga-se nos instintos sensoriais e intelectuais de quem o assiste. Não para menos, o que Polanski concebeu trata-se de um dos melhores e mais atmosféricos filmes que surgiram no ano de 2010.
A matéria prima que o cineasta tinha em mãos permitiu a ele uma lapidação maravilhosa, fazendo com que O Escritor Fantasma fosse ainda mais que um suspense ambientado em um universo político, e sim um thriller instigante com inúmeras referências a administração governamental inglesa e uma crítica objetiva aos podres que a política, não apenas da Inglaterra, mas de todos os lugares do globo, escondem. Todo o conteúdo de O Escritor Fantasma é preservado com um suspense climatizado, que valoriza a inteligência e a perspicácia do espectador ao acompanhar a densa trama situada naquela misteriosa ilha. O filme prende seu espectador em um quebra-cabeças glorioso, que faz do espectador, junto com o protagonista da estória, um investigador ativo a todos os enigmas presentes ali, como uma instigante e fascinante missão de detetives.
A trama consiste em narra a estória de um escritor fantasma (Ewan McGregor) de sucesso, que aceita, por estímulo de seu agente particular, o trabalho de completar as memórias do ex-primeiro-ministro britânico Adam Lang (Pierce Brosnan). Esse ofício foi inacabado pelo escritor fantasma anterior, que morreu a pouco, após um infortúnio acidente. O escritor fantasma agora viaja até a ilha na qual o político se auto-exilou (já que este agora é desprezado pólos cidadãos em decorrência dos escândalos que o afastaram de seu cargo), e neste ambiente claustrofóbico, ele acaba por descobrir que há muito mais por trás do passado daquele a quem trabalha agora, e na medida em que vai adentrando cada vez mais naquele perigoso mundo, mais perigo corre.
Algo primordial para a construção desta obra é a belíssima composição de seus personagens, complexos e verossímeis na mesma medida, cada qual, mesmo que uns apareçam por curto período de tempo, desempenham funções vitais para manter a relevância daquela trama. As ótimas atuações pontuam seus personagens tridimensionais de uma forma extremamente favorável para manter intacto e firme o poder que tudo aquilo possui. A direção de Polanski é outro grande atrativo aqui, pois é crível a entrega de seu talento que se debruça sobre um caprichado thriller, que muito além de prezar o entretenimento que só o cinema proporciona, estima principalmente a inteligência e o raciocínio do público, uma característica elementar que, portanto, o distingue positivamente de muitas obras que fazem frente no mercado.
O Escritor Fantasma estabeleceu-se como um dos filmes mais gloriosos do ano que se passou, carregando em sua bagagem um suspense de alta excelência, que firma compromisso com a atividade mental de cada espectador, conferido a este, uma alucinante investigação que sobressalta os sentidos e fissura os estímulos. Uma obra injustamente subestimada, que com suas incontáveis virtudes consegue sobressair-se a maioria da remessa de filmes que fizeram parte do circuito cinematográfico em 2010. Entretanto, essa falta da devida atenção que merecia, só faz valer que acreditamos que, no futuro, esta obra será reconhecida com toda a admiração e prezar que sempre se fez por merecer afinal.
Nota: 9.0
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