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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Encontros e Desencontros (2003)



Já diz o famoso provérbio: “filho de peixe, peixinho é”, pois bem, este ditado popular se aplica perfeitamente aos rumos que a diretora Sofia Coppola traça em sua carreira como cineasta, isso porque, antes de apresentar seu indiscutível talento atrás das câmeras, ela possuía uma sombra muito maior que poderia ser um empecilho para apresentar sua destreza e habilidades ao mundo: seu pai. Ela é filha de um dos maiores cineastas já produzidos no universo cinematográfico, Francis Ford Coppola (responsável pela trilogia O Poderoso Chefão), e não seria surpresa que o público cobrasse muito de seus projetos, uma vez que ela estaria seguindo a carreira de seu pai.

Encontros e Desencontros (Lost in Translation) nasceu sobre muitas expectativas, e ao mesmo tempo grande desconfiança, pois o que todos gostariam de ter a ciência era se Sofia Coppola seria um verdadeiro talento, ou se simplesmente ela seria eclipsada pela esmagadora sombra de seu pai. Quatro anos antes, a cineasta havia apresentado o primeiro projeto de sua completa autoria, o drama As Virgens Suicidas (The Virgin Suicides [1999]), portanto Encontros e Desencontros seria a “prova dos nove” da qualidade de Sofia ao guiar uma obra cinematográfica, e garantir que seu primeiro filme não havia sido apenas um golpe de sorte.

Contando com um roteiro excepcional e dotado com uma direção inspirada, Encontros e Desencontros foi uma grande realização cinematográfica, que além de servir para demonstrar o talento de sua diretora, apresentou ao público o domínio dela sobre sua obra, criando um vínculo fortíssimo para com seus personagens, e para todo o público. A estória interconecta as tramas de duas pessoas distintas na cidade de Tóquio, a primeira é o ator de cinema Bob Harris, que viaja até o país com o objetivo de gravar um comercial do uísque; a segunda é a jovem Charlotte, que veio ao Japão junto com o marido, este é um fotógrafo, que em decorrência da carga de trabalho a deixa sozinha por muito tempo. Ambos encontram-se no mesmo hotel, e aparentemente não possuem nada em comum, é quando finalmente se conhecem e criam uma belíssima amizade.

O importante em Encontros e Desencontros é apresentar ao público o quão enriquecedora e plena pode ser uma verdadeira amizade, pois apenas o saber de que uma pessoa necessita de você, e de certo modo também de completa, é o necessário para notar nossa importância e encontrar nosso lugar nesse vasto mundo. Sofia Coppola entrega-se inteiramente a construção da relação entre seus personagens, apresentando aos poucos suas personalidades, seus medos e anseios perante as situações em que se encontram. Este é um elemento primordial para uma obra alcançar o público, pois ao focar-se na lapidação dramática de seus personagens, o filme estará nutrindo um elo das imagens a emoção de seus espectadores. Qualidade essa, inestimável em uma obra, mas que, infelizmente, vemos em pouca quantidade atualmente.


A diretora exala uma admiração particular pela nação nipônica, isso porque, além de sua belíssima ambientação, Encontros e Desencontros destaca toda a beleza da japonesa, mostrando apenas seu cotidiano, que como em todos os lugares do mundo, não tem sal beleza completamente apreciada. Todo o país torna-se um belíssimo tabuleiro para situar todo o lindíssimo texto de Sofia Coppola, e torna-se um destaque particular, em decorrência de sua primorosa estética natural, onde a diretora e a equipe técnica acertam em apresentar a beleza de todos os detalhes, do pequeno ao mais perceptível, declarando que aquela estória trata-se de aproveitar a beleza fornecida pelo nosso dia a dia.

Só seria possível demonstrar a profundidade de seu texto e a complexidade de seus personagens, se fosse escolhido um elenco habilidoso a executar esta tarefa, e Sofia Coppola acerta admiravelmente bem na escala de todo os atores, especialmente, é claro, na dupla protagonista. Scarlett Johansson e Bill Murray encontram-se gloriosos em seus personagens; ela, emitindo carisma a cada diálogo pronunciado, passando pelos seus trejeitos inocentes e suas expressões tristes; ele, dono de um talento notável, em que é possível se admirar com sua descontração em cena, na qual é dono de alguns dos momentos mais agradáveis e descontraídos. É crível que estes dois são as peças fundamentais a coroar os muitos predicados desta produção, e dificilmente haveriam dois atores tão bem encaixados e colocados, sejam nestes ou em outros papéis.

Toda a narrativa, ainda que lenta, segue uma linha agradável de desenvolvimento, e toda essa leveza é necessária para que a obra se conecta cada vez mais com seu público, até culminar em seu lindíssimo desfecho. Este é um dos motivos pelo qual esta obra é tão requisitada pelo público e crítica, pois é durante seu final, que todos têm a compreensão de que ali não há apenas um drama corriqueiro como tantos em Hollywood, mas sim um pequeno grande exemplar da poderosa relação afetiva entre duas pessoas. O momento que o personagem de Bill Murray abraça a personagem de Scarlett Johansson e sussurra algumas poucas palavras em seu ouvido é o suficiente para termos uma noção da magnitude de toda a obra em si, e do lindo relacionamento entre ambos. Sofia Coppola fornece aquela fração de tempo apenas aqueles dois seres, sem compartilhar este momento com o público, mas nem precisava, pois foi essa escolha certeira da diretora que garantiu a nós, espectadores, conferir todo o brilho de uma das obras mais humanas e belas fornecidas nestes últimos anos no cinema.

E esta é uma autêntica prova de que Sofia Coppola não é apenas uma sombra de seu pai. Ela é, por méritos próprios, uma grande diretora!


Nota: 9.0




2 comentários:

  1. Foi meu primeiro filme de Sofia Copolla e me apaixonei d cara. Ela desfaz todos os clichês da comédia romântica com cenas belas e uma construção cuidadosa com seus personagens.

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  2. Amei demais esse filme. Vi essa semana, e achei-o lindíssimo, agora sou o novo admirador do trabalho da Sofia... (:

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