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domingo, 17 de abril de 2011

O Panaca (1979)


Em certo momento do longa O Panaca (The Jerk, 1979, Carl Reiner), Navin Johnson, interpretado por Steve Martin, agradece ao seu mordomo por ter encontrado para ele um enfeite em forma de guarda-chuva feito com bambu para que pudesse colocar em seu copo cheio de vinho, ostentando, em seguida, o agente motivador de sua procura: uma propaganda em que um homem exibe o mesmo tipo de bebida e enfeite para copo, tendo como slogan “Seja alguém”. Momentos como esse nos levam a refletir que tipo de atitudes a sociedade espera de nós para que ela possa afirmar que, de fato, nos tornamos “alguém”.

O filme dirigido por Carl Reiner logo no começo quebra nossas expectativas a respeito do que iremos assistir ao deixar que o mendigo Navin rompa com a famigerada quarta parede para nos contar sua história de ascensão e queda financeira e social, começando com sua infância no Mississipi, quando sua família negra revela, em seu aniversário, que ele foi deixado na porta da sua casa e adotado pela família. Diante de uma expressão de surpresa do rapaz, que nunca havia percebido a diferença de cor entre eles, percebemos logo que não se trata de uma história convencional: o rapaz, de madrugada, ao conseguir entrar no ritmo de um blues tocado no rádio, decide ir embora para “seguir sua vida” em St Louis.

A partir desse mote, Reiner conduz um anti-herói em uma jornada sem sentido que funciona como um Forrest Gump às avessas, em que as pessoas ao seu redor, para o bem ou para o mal, terminam tragando-o para suas vidas maliciosas ou absurdas, como a motociclista que deseja dominá-lo sexualmente ou um homem frustrado que assassina idiotas aleatoriamente. De maneira despretensiosa, ele termina se tornando milionário e encontrando a mulher de sua vida, construindo em torno de si uma vida regrada pelo dinheiro e pelos prazeres desnecessários. Aos poucos, ele termina se tornando um Cidadão Kane dominado pelo dinheiro e pela fama e, ao ter de indenizar milhares de pessoas por um dano provocado pela mesma invenção que lhe tornou milionário, perde todas as suas posses e torna-se um mendigo que mora atrás de um cinema da cidade.

Com uma linguagem cinematográfica simples e funcional, Reiner permite a Steve Martin que conduza o público pela absurda história que está sendo contada, caminhando por meandros que permitem nos identificar com um ser humano que recebeu uma responsabilidade que todos cobram de todos - ser alguém -, considerando erroneamente que não nascemos dessa forma e que todos somos esses panacas à procura desse “ser alguém”.

Nota - 7.5

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