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terça-feira, 26 de abril de 2011

Rocky, Um Lutador (1976)


Rocky Um Lutador é daqueles raros momentos cinematográficos em que você se pega extasiado e totalmente mergulhado em um contexto social tão bem construído e conduzido por um diretor. Sua história é uma das mais tocantes e sinceras que tive o prazer de acompanhar, conseguindo com maestria e perfeição, tudo o que propunha desde o inicio, sensibilizar e passar uma bela mensagem através de seu célebre protagonista.

Rocky Balboa é o nome de um dos maiores personagens já criados no cinema, que carrega consigo um apelo emocional muito forte e capaz de atingir a todos, com seu coração gentil encoberto por músculos, suor e cara feira. Definitivamente, Rocky Um Lutador não é apenas um filme de boxe, mas sim um grande drama, que ainda tem como características principais, uma trama repleta de energia e emoção, misturando ação e romance de uma forma maravilhosa.

Em 1976, Sylvester Stallone estava relegado a papéis medíocres em Hollywood, onde se encontrava no fundo do poço, literalmente. O ator até então com 30 anos tinha um enorme dom, que era personificado através da escrita. Após assistir a uma luta de boxe, envolvendo talvez o maior lutador de todos os tempos, Muhammad Ali contra Chuck Wepner, conhecido no mundo do boxe como Bayonne Bleeder, Stallone teve a maior idéia de sua vida.

Poucos tinham chances contra Ali, e por um breve momento Bleeder acertou uma direita nas costelas de Ali, derrubando-o, fazendo que todos ficassem surpresos com tal fato. Stallone só precisou disto para pensar em uma história referente a tal fato, e escrever o roteiro de Rocky Um Lutador.

Em apenas 3 dias, Stallone escreveu o roteiro do filme e criou todo o universo de Rocky. Aquele breve momento de glória do lutador inferior, serviu como um catalisador para as idéias de Stallone. O roteiro que o ator escreveu tinha cerca de 90 páginas, e se encontrava bastante cru ainda. Cerca de 15% deste original foi para o filme, com muitas mudanças sendo feitas ao longo das filmagens.

Após escrever o roteiro, Stallone tinha que vendê-lo, e não foi uma tarefa fácil. Todos os produtores que chegaram a se interessar queriam somente o roteiro e não utilizar Stallone, porém o ator exigia que ele mesmo interpretasse seu protagonista. Muitas propostas foram feitas ao ator, onde chegou a recusar cerca de R$ 200 mil dólares para não atuar como Rocky.

O ator estava obstinado a viver o personagem que criou se baseando em sua própria vida, repleta de dificuldades e barreiras que deve superar a cada dia. Os produtores Robert Chartoff e Irwin Winkler resolveram dar uma chance ao ator e além de comprarem o script, escalariam o ator como estrela máxima do filme.

O diretor Jhon G. Avildsen, velho amigo dos produtores, foi escalado para dirigir. Avildsen utilizou-se de toda sua experiência para criar um mundo bastante eficiente, que serviria de pano de fundo para o desenvolvimento de suas personagens. O diretor e Stallone eram inseparáveis nas filmagens, onde mudavam constantemente o roteiro e decidiam o que iriam fazer em cima da hora.

As filmagens foram bastante rápidas, cerca de 28 dias todo o filme tinha sido rodado, com a maioria de suas locações sendo realizadas na Filadélfia. O orçamento do filme era muito baixo, o que trouxe vários empecilhos à equipe e aos atores. Estima-se que o orçamento do filme ficou na casa de R$ 500 mil dólares, um valor irrisório perto do que se tornaria famoso o filme e seus personagens. Os atores não possuíam camarins, e tinham que se trocar em vans, além ainda da maioria dos figurinos dos personagens, serem roupas pessoais, dos próprios atores.

As dificuldades financeiras também abalaram o roteiro e seu andamento, com várias cenas tendo que ser modificadas. Um exemplo é a cena do rinque de patinação, onde no roteiro era previsto que o mesmo estivesse lotado, mas por causa da falta de verbas, apenas Rocky e Adrian patinam. Outro fato bastante inusitado fora um pôster enorme, que seria pintado e colocado no alto do ginásio, mostrando Apollo e Rocky. Porém quem o pintou, trocou as cores do calção de Rocky, e este fato acabou tornando-se uma piada dentro do filme.

Na luta entre Rocky e Apollo, os ‘figurantes’ que acompanham o embate são na verdade cidadãos comuns, que aceitaram participar das filmagens em troca de um almoço, que iria ser servido após o término das filmagens. Muitas tomadas de Avildsen da grande luta, possuem a impressão de serem escuras de mais, mas isto foi feito de caso pensado. As luzes das arquibancadas foram apagadas para não revelar a falta de público, que somente ficava rodeando o rinque, gritando e gesticulando.

Stallone trouxe seu cachorro para as filmagens, e o mesmo aparece nos dois primeiros filmes da saga. Muitas curiosidades cercam a relação de Stallone com seu cachorro, tendo em vista que moravam juntos, e devido a seu tamanho, situações delicadas e constrangedoras acompanhavam a dupla. Seu irmão, Frank Stallone, compositor e cantor também aparece na maioria de seus filmes, bem como seu pai, em uma ponta no final do filme, tocando o sino da luta.


Os personagens secundários são de extrema importância para o desenvolvimento do protagonista, onde todos possuem um peso balanceado dentro da trama, influenciando diretamente a vida de Rocky. Burt Young como Paulie, irmão de Adrian, é fenomenal e eficiente em cena, conferindo ao seu personagem uma das mais complexas e interessantes personalidades, características que lhe garantiu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

Pena que estes elementos interessantes tenham se perdido ao longo dos filmes, tornando o personagem um simples alívio cômico. O personagem de Young volta a se destacar no sexto filme da saga, em 2006. O veterano Burgess Meredith interpreta o treinador de Rocky, Mickey, sendo uma figura quase paterna do protagonista, e de grande importância em sua trajetória e desenvolvimento.

São atores como este que transformam uma cena qualquer em um grande momento, transmitindo emoções e as mais diversas sensações ao público. O que dizer da discussão de Mickey e Rocky, na casa do lutador? E da briga de Paulie e sua irmã Adrian? Momentos assim, tão sinceros estão presentes em peso nesta fantástica obra cinematográfica. Reflexões, momentos solitários do protagonista, conversando com suas tartarugas e se olhando ao espelho, cenas assim dispensam comentários.

Talia Shire, irmã do grande cineasta Francis Coppola, vive com maestria e simpatia Adrian, uma tímida garota do bairro, que aos poucos vai mostrando pelo que veio, tornando-se uma das principais personagens da obra. Seu desenvolvimento é feito aos poucos, com Rocky retirando toda sua timidez através de diálogos estranhos, sem sentido e muito das vezes, ridículo. Mas é neste clima romântico, que o casal se une, de forma bela.

Rocky Um Lutador é um filme romântico, que por trás de seu clima pesado, escuro e sujo, existe amor, carinho e emoção. Os personagens Rocky e Adrian desempenham muito bem estes sentimentos. A cena que se passa na casa do lutador, após saírem do rinque de patinação é inesquecível. Os diálogos, quase monólogos são perfeitos e sinceros. A impressão de realidade é muito forte, e isto contribui para deixar o filme mais forte ainda.

Carl Weathers foi escolhido para viver o campeão mundial Apollo, o rival de Rocky. O ator entrega um personagem magnífico, que mesmo com o pouco espaço para seu completo desenvolvimento, transmite uma forte sensação de poder e status de maioridade. Seu personagem é aprofundado mais pra frente, onde ganha destaque e maior espaço no terceiro filme.

Mesmo sendo teoricamente o vilão do filme, o rival do herói, seu personagem transmite carisma, e isto se dá graças à ótima interpretação de Weathers. Não sentimos raiva de seu personagem, torcemos para que Rocky o vença por todas as dificuldades que o mesmo enfrentou, e não por falta de escrúpulos e personalidade do rival, como aconteceria mais tarde com outros oponentes de Rocky.

A trilha sonora de Bill Conti seria imortalizada, com a canção Gonna Fly Now sendo executada milhares de vezes em 77. Ver Rocky em seu treinamento, com a canção ao fundo é garantia de emoção. A adrenalina sobe e recarrega as energias não apenas do protagonista, mas também do telespectador. A canção ainda apareceria em mais 4 filmes do lutador.

Vencedor do Oscar na categoria Melhor Edição, Rocky Um Lutador se mostra uma produção extremamente precária, sendo facilmente percebido estes elementos, porém de emoção garantida na dose certa. A edição é eficaz, conferindo o tom certo as cenas, seja de ação, romance ou drama. Tudo está em seu devido lugar.

Vencedor do Oscar de Melhor Filme de 76, como também entregando a estatueta de melhor Diretor à Avildsen, Rocky Um Lutador é um filme que marcou toda uma geração, com sua lições de superação, transmitida por um personagem qualquer, que poderia muito bem se assemelhar com qualquer pessoa. Um personagem que venceu todos os obstáculos com garra, persistência , força de vontade e superação. Rocky é tudo isto e mais um pouco.

Sylvester Stallone merecia receber o Oscar de Melhor Ator, categoria que foi indicado mas injustamente não conquistou. É a melhor atuação de sua carreira. Rocky é ele mesmo, a vida do lutador é um reflexo de sua própria vida, e todas as dificuldades enfrentadas pelo lutador, também fora enfrentada pelo ator. Pelo roteiro original e sua atuação magnífica, a academia errou feio em não conceder a honraria.

Rocky Um Lutador é um filme vitorioso. Como seu protagonista e o próprio Stallone, teve que lutar contra os mais terríveis obstáculos para ser rodado e lançado, pela falta de dinheiro e estrutura. Mas conseguiu se sagrar e conquistou seu espaço na história cinematográfica de Hollywood. Conquistou o prêmio máximo, e isto ninguém pode lhe tirar. Suas atuações acima da média, o clima magnífico, as canções belíssimas, o fantástico roteiro original, todos estes elementos permitiram que este filme chegasse aonde chegou.

Nota: 10.0

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