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sábado, 9 de abril de 2011

Sangue Negro (2007)

No filme, é impressionante como o caos pode se espalhar graças a um poço em explosão.


Paul Thomas Anderson é um diretor inegavelmente competente e sem dúvida já pode ser considerado como um dos grandes nomes de Hollywood. Sua criação mais conhecida, "Magnólia", foi marcado por um roteiro genial, repleto de protagonistas intrigantes e fantásticos de se estudar. Sua mais recente criação, "Sangue Negro", foi agraciada com dois Oscar e chegou a disputar o de Melhor Filme (perdendo para a obra "Onde os Fracos Não Têm Vez"). Mesmo com todo o clamor internacional recebido pela obra e pela excepcional reputação do diretor, "Sangue Negro" pode decepcionar profundamente àqueles que esperavam um roteiro com o teor de "Magnólia", complexo e de enredo não-linear. Mesmo assim, vale como uma grande obra cinematográfica. 

Antes de tudo, deve-se começar sempre com os pontos positivos no caso de uma obra tão aclamada. Os primeiros minutos do filme já mostram toda a beleza técnica e competência da direção: são aproximadamente quinze minutos sem uma linha de diálogo, onde o personagem Daniel Plainview está em seus primeiros anos na tentativa de descobrir petróleo. Mexer com cenas-mudas, como essa, requer uma habilidade fenomenal em que até os mais experientes diretores falham. P. T. Anderson conseguiu transformar esses quinze primeiros minutos em uma sequência magistral, marcada por um ritmo profundo e soturno, chegando a beirar o suspense. É uma introdução perfeita: mostra ao espectador as mortes que o petróleo irá causar ao longo da obra e a obsessão de seus personagens por esse "sangue negro" (bem exemplificado pelo batismo de óleo que recebe o filho de Daniel). 


Pai & filho: duas figuras unidas por um estranho e pouco afável amor.

A obra, deve-se comentar, é tecnicamente esplendorosa, sem dúvida alguma: a fotografia, que foi agraciada com o Oscar, foca os planos desérticos da região e transmite perfeitamente a sensação de solidão; de abandono provocada por essas terras de condições tão severas. A iluminação é perfeita. O jogo de luzes é magistralmente coordenado, sendo que o filme fica impregnado por um tom amarelado, de sépia, o que aumenta a impressão de isolamento causada pelas regiões desérticas do petróleo. Já a trilha sonora, essa sim merece todas as honras: de Jonny Greenwood, a trilha é baseada no estilo de música clássica, fortemente fundamentada em instrumentos de corda (violinos e etc.). Ela tende, como muitos aspectos no filme, ao isolamento e à desesperança. Enfim, à loucura causada pela disputa por petróleo. Seus melhores momentos são, sem dúvida, nos mesmos quinze primeiros minutos, onde ela puxa um ritmo de suspense de forma soberba. 

Mas, é claro, o que o filme apresenta melhor são suas atuações. Todas, sem exceção, são esplêndidas, mas o rei do filme é indiscutivelmente o ator Daniel Day-Lewis, no papel do misantropo e insano Daniel Plainview. De fato, metade dos prêmios angariados pelo filme são responsabilidade de Daniel, e é justo: toda a história é baseada na ascensão de Plainview, no estudo de sua personalidade. Ele é o foco da narrativa, portanto a atuação deveria ser no mínimo formidável. E foi. Day-Lewis consegue captar toda a loucura, toda a aversão à humanidade que seu personagem carrega. Sua atuação não pode, de fato, ser bem retratada com palavras: só assistindo mesmo. E o ator, na verdade, é uma daquelas razões pelas quais o filme merece ser assistido. "Sangue Negro" tem um nome e sobrenome: Daniel Day-Lewis. 

Tão competente e instigante quanto o ator-protagonista é também o surpreendente Paul Dano que, com justiça, concorreu ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante na Academia Cinematográfica Britânica. Interpretando dois papéis, um pequeno (Paul Sunday) e outro principal ( Eli Sunday), o jovem Dano é primordial neste último, ao representar o fanático pastor de uma pequena igreja, o qual, ao final de tudo, revela-se uma farsa. Dano é magistral! No fim, deve-se notar que o filme faz uma leitura psicológica intensa de seus personagens, mostrando o quão depravados suas mentes podem se tornar pela corrupção do petróleo. 


A cena na capela é a "cena-caricata" do filme. Não que seja a melhor...


Sem dúvida, "Sangue Negro" é dotado pela maestria dos grandes clássicos. Mas, se até agora foram só elogios, o filme também uma falha que, para alguns, pode ser o limite entre a aclamação e a leve decepção: a condução da sua história, apesar de valorizar e trabalhar de forma extremas os seus personagens, é estritamente linear, ou seja, os eventos ocorrem simultaneamente sem nenhuma surpresa de roteiro ou reviravolta. Isso não é ruim, de fato. O grande problema é a condução enfadonha com a qual algumas cenas são tratadas. Não há grandes surpresas no filme (exceto o seu final chocante) e muitas seqüências são tratadas de forma quase que documental. É claro que muitos apreciam esse tipo de condução mas, para aqueles que esperavam uma complexidade tal como vista em "Magnólia", isso é uma leve decepção.

A complexidade, por fim, está presente na mente de seus personagens. O roteiro é focado na vida de Daniel Plainview, com alguns relances daqueles que o rodeiam. É a degradação moral causada pela ganância. Não é um filme recheado de cenas forte, de "desviar o olhar". Tais cenas existem, de fato, mas não são o ponto principal. O filme pode desagradar na primeira vez em que é assistido, mas é necessário refletir sobre sua profundidade. Feito isso, e com afinco, percebe-se a verdadeira complexidade da obra. 

Por fim, "Sangue Negro" não é uma obra para ser vista apenas. É para ser refletida, para ser analisada e estudada. Poucos filmes retratam tão bem o psicológico de seus personagens, mostrando a degradação que podem causar a ganância e a discórdia, exemplificadas em Daniel Plainview. O filme, enfim, é um fiel retrato da corrupção da mente humana, uma criação revolucionária de P. T. Anderson, diretor que merece todo o respeito. Real, cruel, esmagador, "Sangue Negro" não possui somente 160 minutos. A depender de quem o assiste, seu conteúdo torna-se imortal e ilimitado.



O retrato da solidão. 


NOTA: 8,5

3 comentários:

  1. Eu adoro esse filme. Não se pode negar que Magnólia é superior a esse, a trama é mais envolvente e o espectador tem que estar atento a tudo, mas Sangue Negro é um filme maravilhoso. A disputa entre petróleo, metáforas entre religião e lucro, a trilha sonora, a fotografia, o início mudo e o fim terrivelmente silencioso, Daniel Day-Lewis, tudo se sai perfeitamente delicioso aqui. Abraços.

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  2. Bicho, eu amo esse filme. Se comparo com Magnolia, so percebo um extremo oposto - se antes, tinhamos um harém de personagens, neste temos um personagem à procura de solidão -, mas uma coisa em comum: um rigor estético, uma elegância no uso da linguagem. Ele fez um filme extremamente denso, eu fiquei extremamente "cansado" depois de ver o filme. E não foi cansaço de tédio, mas um cansaço fisico mesmo, como se tivesse mergulhado por aquele universo e precisasse me esforçar para sair... Muito bom. Abração.

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  3. Por mais que Magnólia seja bom, ele teria que nascer denovo para seu superior a Sangue Negro.

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