Se essa é a cena inicial, imagine o que vem depois... |
Estamos carentes de medo. Não, não tem como negar isso: o cinema está muito frustrante quando se trata de apavorar pessoas. Apesar de raras surpresas como “Atividade Paranormal”, o espectador está freqüentemente abandonado pelo terror, tendo que se contentar com os clássicos, muitas vezes se perguntando quando vai surgir uma obra digna de horror. Não vamos mentir: adoramos sentir medo. Adoramos passar noites insones nos perguntando se não há um espírito bem ao lado de nossa cama, nos espreitando. Adoramos caminhar pela casa no meio da noite com a congelante sensação de que alguém – ou algo – nos observa. Adoramos histórias com demônios, forças ocultas, corpos possessos ou lugares malditos. Podemos saber que tudo isso não passa de um embuste – uma lorota, uma mentira, uma fantasia tão séria quanto unicórnios ou bichos-papões – mas não importa. Adoramos sentir medo e é por isso que pagamos o ingresso para ver novas promessas de terror no cinema.
“Sobrenatural”, que não deve ser confundido com a série de TV, é tudo aquilo que pedimos aos céus. Desde os seus créditos iniciais, quando o título aparece cercado de labaredas, ocupando a tela toda com o estridente som de violinos ao fundo, até o seu final-surpresa, um momento perturbador que perseguirá a platéia por dias a fio, este filme está muito acima da média para seu gênero. Considerando-o como terror, pode-se dizer que ele é quase perfeito: você não conseguirá dormir em paz por um bom tempo. Em quinze minutos de filme, a calmaria de esvai e tudo que o espectador vivenciará é um pesadelo sem fim. Os protagonistas do filme, em verdade, sofrerão muito menos do que os espectadores com o ritmo enlouquecedoramente apavorante da obra.
Você nunca mais vai conseguir dormir sozinho depois desta cena... |
Dirigido por James Wan, famoso pela série “Jogos Mortais”, e produzido por ninguém menos que os criadores de “Atividade Paranormal”, não há dúvida que a equipe por trás deste filme tem muita experiência na arte de amedrontar pessoas. Isso se mostra claro na incrível habilidade que eles têm em construir suspense. Você não encontrará sustos gratuitos, com monstros pulando do nada, sem motivo. “A platéia não tem medo daquilo que pula do armário”, disse um crítico norte-americano, “mas do que PODE pular do armário. É a expectativa, não o susto em si, que nos apavora.” É isso que é “Sobrenatural”: uma expectativa contínua e enlouquecedora, culminando em sustos épicos que renderão gritos de toda a platéia.
O filme é, de fato, tão apavorante que você pode fechar os olhos a sessão inteira e ainda assim sentirá tanto medo quanto os outros. Pode acreditar, eu sou a prova: passei uns vinte minutos do filme com a mão na frente dos olhos, mas nem isso conseguia conter meu coração em disparada nem meu corpo de pular do assento quando um monstro aparecia no filme. Tudo isso, em parte, graças à trilha sonora irrepreensível da produção. Ela é tudo com que um cinéfilo apaixonado por filmes de terror sonha: exagerada, estridente, alta, sem vergonha, sem pudor algum em disparar quando um demônio surge na tela ou quando uma revelação impactante é apresentada. Este é um daqueles raros filmes que podem ser vistos com os ouvidos.
A primeira metade do filme estabelece novas fronteiras no que se refere ao medo. Ela é o retrato do pesadelo: forças ocultas atormentado personagens, demônios que varam a noite em pé, ao lado de suas vítimas enquanto elas dormem, espíritos malignos que só são revelados através de fotografias... enfim, um delírio do pavor. O problema, freqüentemente notado pela crítica especializada, começa a partir de sua segunda metade. Ao tentar propor uma explicação racional (bom, mais ou menos racional) aos fenômenos, grande parte da magia se perde. Sentimos medo do desconhecido e, quando este desconhecido é explicado, grande parte do medo se esvai. Se a primeira parte do filme é horror puro, a segunda mistura horror com ação, à medida que os personagens passam a lutar para expurgar os demônios de suas vidas. É meio estranho, mas não chega a ser frustrante e em momento algum deixa de ser assustador. É só menos assustador do que a primeira metade.
"Agora você vê... agora você não vê... agora você vê... agora você não vê..." Não, não se preocupe: veja o filme e entenderá. |
Uma produção com tamanha qualidade e parte técnica primorosa é também um milagre quando se considera o seu custo: um milhão e trezentos mil dólares. Isso é menos do que a metade de um salário de um ator em ascensão em Hollywood. Isso é trinta vezes menos que o salário de Peter Jackson em “King Kong”. Isso é menos do que o custo de um filme brasileiro de calibre! E, ainda assim, este é um dos melhores filmes de terror do ano, e candidato seriíssimo ao posto de melhor do ano. Um dos segredos para seu custo ridículo? Atores novatos, baratos e talentosos. Uma coisa de que Hollywood precisa desesperadamente, mas não tem ousadia para fazer. O elenco do filme é competente a segura muito bem a tensão do filme. Apaixonamo-nos por personagens como a velhinha Elise e seus assistentes, por exemplo! Os atores também dão um ar de humor negro à produção, o que serve como uma espécie de alívio à toda a tensão que a permeia.
“Sobrenatural” é o filme perfeito para adolescentes que querem testar a própria coragem. É o filme ideal para céticos que acham que nunca mais vão levar sustos decentes no cinema. É o filme dos sonhos para qualquer um que aprecie um horror de altíssima qualidade. É um desses filmes raros que só surgem uma vez em muitos anos, portanto, a não ser que você tenha algum problema cardíaco, não perca tempo! Vamos descobrir se você é tão corajoso quanto acha que é...
Olhe atentamente para o demônio atrás do homem e, das duas uma: 1) você nunca mais vai dormir em paz ou 2) ele vai começar a se mexer. |
Nossa! Realmente o gênero terror é um filho bastardo do cinema... Eu n dava nada por este filme, mas vc me convenceu. Assistirei e comentarei aqui!
ResponderExcluirÓtima crítica!
Também fiquei interessado ;)
ResponderExcluirA crítica está perfeita! Deixa a gente com muita vontade de assistir o filme.
ResponderExcluirótima crítica. Agora preciso criar coragem e ir ver também...
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