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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Crepúsculo dos Deuses (1950)


Foram necessários diversos elementos para criar esse mega sucesso do cinema, isso não se discute. Mas quem assistiu Crepúsculo dos Deuses deve ter percebido que o elemento de maior importância foi a coragem. Billy Wilder foi, acima de tudo, um diretor cheio de coragem ao expor de forma tão explícita todos os podres da Hollywood da Era de Ouro. Os personagens centrais não passam de fantoches (ótimos fantoches, por sinal) usados para mostrar um lado desconhecido da aparentemente glamorosa indústria cinematográfica.

Encarnando uma das personagens mais notáveis da história do cinema, Gloria Swanson dá toda a vida necessária para Norma Desmond. Da mesma forma foi necessária muita fibra da parte do ator William Holden para encarnar o fracassado roteirista Joe Gillis. Mas antes de tudo, Billy Wilder se mostrou definitivo ao dirigir uma produção que critica o seu próprio meio de trabalho.

A história é de extrema força, principalmente quando a personagem Norma entra em cena. Mais do que qualquer outro participante, Norma representa com uma fria exatidão todas as crueldades existentes no ramo do cinema. Afinal, sem nenhum remorso, ela foi “chutada” de Hollywood depois de envelhecer e não se adaptar aos filmes falados. Sendo assim, Norma se fechou em sua soberba mansão, na companhia de seu fiel mordomo Max. No entanto, sua chance de voltar ao estrelato surge quando conhece um mal sucedido roteirista, Joe. Este é obrigado a morar na mansão com Norma até consertar um roteiro escrito por ela mesma, para que seja dirigida novamente por ninguém menos que Cecil B. DeMille. Nesse meio tempo, acontece o previsível de Norma se encantar por Joe, e querê-lo mais do que como empregado.


Muito interessante é reparar que Wilder criticou mais do que apenas a indiferença de Hollywood com seus empregados, não deixando de lado uma crítica aos próprios empregados. Afinal, Norma não é nem de perto uma personagem agradável, pelo contrário, é de extrema arrogância e insanidade. Ela representa, entre as outras coisas já mencionadas, todo o exibicionismo tão comum no meio artístico. Dessa forma, ela é o meio principal do diretor criticar tanto as grandes produtoras como algumas atitudes indesejáveis vindas dos próprios astros dos filmes. Ou seja, esse filme acaba sendo um grande e impiedoso insulto a todos do ramo do cinema, não aliviando para ninguém em momento algum. Mas isso de modo algum o torna um filme amargurado, mas sim uma obra clara e bem equilibrada em todos os temas que aborda.

Desde o começo, o filme se mostra intenso e forte. Contado de forma alinear, narrado pelo personagem Joe Gillis, a história foi mostrada de uma forma bem inteligente e segura. Em momento algum Wilder mostra medo de expor algo ou alguém, já que faz claras referências ao mundo do cinema, usando inclusive diretores e outros profissionais interpretando a si mesmos, como é o caso de DeMille. Isso torna tudo muito mais real e apalpável, por assim dizer. Também repleto de cenas e falas inesquecíveis, assim como vergonhosas referências à Paramount, a trama também não hesita em mostrar a impiedade de Hollywood com a idade de suas atrizes. Outros ingredientes como a trilha sonora e as montagens complementam com toque especial a obra-prima, como uma cereja no topo do sorvete.

Qualquer outra coisa a explicar sobre esse grande clássico já foi muito bem mostrado em outras críticas e comentários, por isso não é necessário adicionar mais nenhuma informação. Portanto fica apenas a dica para se assistir uma das obras mais completas do cinema, uma das poucas que beiram a perfeição. Indiscutivelmente ímpar, Crepúsculo dos Deuses é, foi e sempre será um retrato mais do que específico sobre todos os bastidores do tão admirado mundo do cinema, sem nunca deixar que alguém o ouse contestar. Afinal de contas, a própria Hollywood o reconheceu ao indicá-lo ao Oscar em oito categorias, e premiá-lo em três. Sendo assim, só resta ver e rever sempre que possível esse grande triunfo da sétima arte.

Nota: 9.0

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