Encontre seu filme!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Pecados Íntimos (2006)


Todd Field, após o "pequeno gigante" Entre Quatro Paredes, dirige um filme poderoso e cheio de conteúdo.

Podemos definir Pecados Íntimos como um filme de gente grande. Absolutamente nada nele é agradável de assistir, desde as cenas de sexo explícito até as que envolvem o tema, mesmo sendo de uma forma mais indireta. Nesse longa pra lá de adulto, Todd Field destaca-se como um diretor promissor de uma carreira brilhante, cujo deslance começa aqui.

Complexo e muito bem estruturado, Field adapta essa história intrigante de um livro de Tom Perrotta, que também participa ativamente do roteiro do filme, cuja estória pesada e melancólica envolvem temas absolutamente redundantes no cotidiano das pessoas, desde casos extra-conjugais, desemprego, pornografia e até pedofilia. Tais temas, se entregues em mãos erradas, são capazes de impressionar e chocar espectadores. É o que acontece neste caso, apesar de esse "susto" que levamos não poder ser dito como uma coisa ruim, é de fato muito tocante. Os roteiristas conseguiram de forma competentíssima mostrar o enredo do livro de um modo menos "comportado", sendo que as cenas, além de muito bem explicadas, possuem diálogos diretos e sem mais delongas.

Outro ponto forte do roteiro são os personagens fortes. Todos têm um cargo emocional grande e exigem muito de seus respectivos intérpretes. Falando neles, como não elogiar a brilhante Kate Winslet, sempre muito bem em todos os filmes que faz, ela nos apresenta uma mãe atenciosa, que fica ao longe observando "prováveis" amigas conversando sobre homens e sexo, sem manter grandes doses de intimidade. A personagem possui as melhores características possíveis para uma atriz consideravelmente veterana (em termos de papéis exigidos): mãe de uma menininha, infeliz no matrimônio cujo marido é viciado em pornografia na internet. Essas características, quando juntas, formam um personagem dificílimo e cheio de complexidades. Mas é Winslet quem está fazendo tal papel. E logo esses "obstáculos" são vencidos facilmente pela atriz, que esboça uma (se não a melhor) interpretação de sua carreira, sem esquecer a Rose de Titanic.


Perdemos a conta dos personagens de Pecados Íntimos que merecem destaque. Mas, para não deixar o melhor para o final, com vocês, a zebra, a surpresa, o "tarado": Jackie Earle Haley.

De uma forma absolutamente brilhante, ele interpreta Ronnie McGorvey, um homem de meia idade (relativamente velho), que gosta de criancinhas. Não é o melhor jeito de resumir o personagem, mas sim um modo mais sutil de dizer que o personagem gosta de manter relações sexuais com menores de idade, mesmo sem ser correspondido. Famoso já na suburbana cidade onde a narrativa ocorre, ele é temido por todas as mães do lugar, que vivem a agonia de proteger seus filhos desse perigoso homem, sempre à espreita. Porém, observado mais de perto, Ronnie não é o homem mais perverso do mundo. Ele é sim, um ser solitário, que vive nas asas da própria mãe, e não conseguindo achar nenhuma moça para se casar e ter filhos, ele tecnicamente precisa achar um jeito mais fácil de satisfazer seus desejos sexuais, um jeito fácil e covarde, diga-se de passagem. Temeroso por todos, ele aparenta ser uma pessoa sem coração e sangue frio, capaz das maiores autrocidades, mas quando chega o pior dia de sua vida, aprendemos a entender sua mente confusa e sombria. Dessa maneira, nos vemos no início odiando o personagem, mas depois, tenos pena.

Os outros personagens também são muito bem trabalhados. Entre eles estão a figura de um pai desempregado, fetiche de todas aquelas mulheres reunidas, a de uma mulher trabalhadora, que não tem tempo para os próprios filhos. Quem os interpreta são respectivamente Patrick Wilson e a sempre competente Jennifer Connelly. Os dois vivem o segundo casal do filme, com um destaque maior, que aos poucos, vão se descobrindo infelizes, ao longo da narrativa. Justamente quando o propóstio do filme chega, as tramas começam a esquentar ainda mais. Peças de casais decidem tomar as rédeas das próprias vidas e partem inclusive para o adultério, que é muito bem ressaltado pelos roteiristas. E é nele que podemos apoiar o longa durante todo o resto da projeção, quando os personagens vão ficando cada vez mais fragilizados por seus pecados, partem para o tudo ou nada. Quando isso acontece, vemos os verdadeiros lados das pessoas, seus movimentos e atos são completamente opostos ao que nos foi apresentado desde o início e este pode ser o grande ponto positivo de Pecados Íntimos, a forma como o roteiro desponibiliza essa "troca de indentidades", uma forma diferente e bastante interessante.

Pecados Íntimos é um ótimo filme que se preocupa em deixar o espectador ligado a todo o momento e graças à capacidade de Todd Field, ao seu roteiro e direção, ao talento dos intérpretes, esse filme se transformou em algo além de uma história com cenas impróprias para menores de 18 anos, se transformou num marco do cinema contemporâneo.

Nota: 8.5

Nenhum comentário:

Postar um comentário