O Garoto de Liverpool é um filme que merecia mais reconhecimento. Em seu trabalho de estréia, a diretora Sam Taylor-Wodd demonstra grande ousadia e coragem ao levar às telas a juventude rebelde e tumultuada do ícone da música John Lennon, um dos integrantes da lendária banda The Beatles. Mas injustamente, pouco foi comentado ou falado sobre o filme (pelo menos do meu ponto de vista, o burburinho foi fraco), que merecia (na verdade, merece) muito mais atenção e notoriedade perante o público, já que este é o filme que melhor define o porque de a figura de Lennon ter se tornado tão marcante e influenciadora.
Roteirizado por Matt Grennhalgh, a partir do livro Imagine This: Growing Up With My Brother John Lennon, escrito por Julia Baird, o filme acerta no desenvolvimento dos conflitos do protagonista, tipicos de qualquer adolescente que tenha passado sua vida de forma tão solitária e silenciosa. Tanto o abandono quanto a distância emocional de sua tia são fundamentais para a construção dramática da história, trabalhada com profundidade e, acima de tudo, respeito para com a figura de Lennon.
Mais prazeroso é acompanhar o amadurecimento de Lennon no ramo que viria a tornar seu nome conhecido, a música. De acordo com que vai aprendendo com seus instrumentos, percebemos que o rapaz vai se tornando mais maduro, e seguro de si mesmo. Após isso, é formada a banda The Quarrymen, onde somos apresentados a outra figura lendária da música: Paul McCartney, também ex-integrante dos The Beatles. Aliás, a cena na qual o personagem aparece pela primeira vez é tratada com um certo tom cômico, mas deixa um enorme sorriso no rosto por estarmos diante de duas das maiores figuras que o mundo da música já teve. Assim, a banda vai crescendo, e o que parecia um mero passatempo vai se tornando algo mais sério, trazendo à tona a paixão dos personagens pela música.
O que falar do elenco, então? E aqui, afirmo: todos, sem exceção, estão de parabéns pelo maravilhoso feito. Aaron Johnson, antes desconhecido no cinema, surpreende pela perfeita caractearização de John Lennon, deixando a impressão de que, na verdade, ele está mais sendo ele mesmo do que interpretando. Todas as caracteristicas do cantor estão lá: a fala lenta, o sotaque exagerado, e o humor infame. Parecia difícil ver todas estas caracterisaticas na aparência ingênua de Aaron Johnson, mas o ator mostra que tem talento, e realiza um trabalho nada menos que excelente (seu talento viria a ser comprovado novamente no também excelente Kick-ass – Quebrando Tudo).
A sempre maravilhosa Kristin Scott Thomas também merece destaque como a radical e rigida tia de Lennon, Mimi. O tom encontrado pela atriz é certeiro, e apesar da personalidade dura da personagem, o carisma da atriz nos ajuda a simpatizar com ela, e até entender os motivos de ela ser tão protetora com o sobrinho. Do outro lado, temos Anne-Marie Duff, servindo como um ótimo contraponto como a mãe de Lennon, Julia. E Thomas Sangster, que interpreta McCartney, também acerta nos trejeitos que reproduzem fielmente o cantor, desde as sombrancelhas sempre erguidas, dando a impressão de um rapaz boa pinta, até a postura de liderança, que ele viria a desenvolver juntamente com Lennon.
É possivel dizer, então, que este é um filme para fãs? Sim, sem dúvidas, mas sem dúvidas também fascinará aqueles poucos versados nestas personas lendárias. Mas os fãs são os mais presenteados com este filme, que costura várias referências a banda, inclusive com o instrumental de Hard Day’s Night tocando na abertura do longa. Da mesma forma, a perfeita recriação da época trará um maravilhoso sentimento nostálgico aos fãs veteranos, assim como algumas cenas que recriam perfeitamente alguns relatos dados por Lennon em entrevistas.
Nota: 8.0
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