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terça-feira, 17 de maio de 2011

Um Olhar do Paraíso (2009)


Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones, 2009) é o caso de filme que simplesmente não se encaixa na filmografia de seu diretor, isso porque, estamos falando de um cineasta que, mesmo que tenha uma carreira versátil, se entregou na última década à realizar projetos grandiosos, de proporções gigantescas, desde épicos de fantasia à aventuras em grande escala, de modo que um drama de alta sensibilidade não seria o mais esperado de uma carreira como essa. Pois foi isso que aconteceu, Peter Jackson (Trilogia: O Senhor dos Anéis; King Kong) se dispôs a adaptar o best-seller de Alice Sebold, dando vida a uma obra que não rima com nada que já fizera no cinema até então.

Este é o tipo de filme que, ao longo de toda sua narrativa e desenvolvimento, sentimos que teria sido melhor nas mãos de outro realizador, alguém que prezasse mais a matéria-prima que possui em mãos, ao em vez de maquiar o conteúdo da obra com uma paleta infindável de cores e tons. Peter Jackson fez de Um Olhar no Paraíso uma pintura vazia, que expõe somente sua imagem e guia seu público apenas pelo visual exuberante, deixando sua construção dramática no anonimato. Pena. Pois realmente as projeções que este filme poderia alcançar seriam bem maiores com a execução de outro diretor, alguém que realmente soubesse como lidar com a sensibilidade que o filme exigia, e proporcionar um consistente e belíssimo drama.

Por contar com uma carga dramática forte em sua trama, fica evidente o desperdício que Jackson faz desta estória ao implantar um excesso fenomenal CGI, em que o cineasta parece não acreditar no potencial que este drama possuía, precisando enfeitá-lo e adorná-lo até um estado que o visual hipnotize o público para que este não tenha a ciência do vazio que o diretor está jogando o filme. Peter Jackson desenvolve sua trama de uma forma convencional (uma vez que, convenhamos, a utilização de memórias póstumas para uma narrativa já não é novidade há muito), embalada em um visual realmente belo, mas no fim de tudo aquilo, fica uma estranha sensação de “E daí?”, ou “Foi somente isso?”, questionamentos estes que pairam na mente do público, e se realçam ainda mais ao analisarmos que tudo que vimos até então esteve tão subjacente ao que o cineasta já nos proporcionou.

Um Olhar do Paraíso aborda a trágica história de Susie Salmon, uma sonhadora e doce garota de 14 anos que tem sua vida interrompida quando é estuprada e assassinada brutalmente por seu vizinho. Então, ao ter seu espírito guiado aos planos superiores, a jovem de lá narra sua passagem pela Terra e os fatos que aconteceram após sua morte, onde, através deste outro mundo, ela tenta reconfortar seus pais sobre sua perda e ajudá-los a encontrar o responsável pelo crime, enquanto isso deve aceitar e entender a própria condição de morta na qual se encontra.


Todo o cenário da obra pouco convence, pois o que temos ali é um filme triste e dramaticamente pesado, sendo assim aquela proposta colorida de Jackson jamais rima com o que o filme pede. O material deveria resultar numa atmosfera melancólica e angustiante, porém, em tempo algum essa sensação é transmitida ao espectador, o uso de efeitos gráficos é tanto que o filme se assemelha em certos momentos a uma animação, especialmente nas cenas ambientadas nos planos celestes. É realmente estranho se assistir um filme com uma temática tão densa quanto, que aborde assuntos igualmente fortes, tais como a pedofilia, o luto, a fé, possuir uma climatização artificial que não condiz com o impacto psicológico que deveria vir para causar.

Mas Um Olhar do Paraíso não se resume somente as falhas. Não. O filme de Jackson também tem seus acertos e seus momentos interessantes; em grande exemplo disso temos as atuações de Saoirse Ronan e Stanley Tucci, respectivamente a protagonista e o vilão da história, que conseguem repassar a profundidade necessária a seus personagens, e sobressair-se ao restante do elenco. O mesmo não pode ser dito de Mark Whalberg e Rachel Weisz, que nada adicionam em nada a seus papéis, e a expressão de ambos em tela jamais faz-nos crer que eles estão enfrentando a dor que corresponde ao que se pede. Nesse quesito a quase uma unanimidade por parte dos demais atores, que parecem realmente não saber que estão atuando num drama.

Jackson faz com que o filme sobreviva bem em sua primeira metade, proporcionando algo interessante de ser acompanhado, entretanto, após a morte da protagonista, muito tempo é gasto com acontecimentos enfadonhos (a compreensão dela sobre o que aconteceu e o lugar que se encontra) e outros eventos desnecessários (uma infindável e chata caça ao serial-killer); dessa forma, o filme se desvia de seu foco para apresentar inúmeras situações que em nada adicionam a trama em si - como aquela “viagem” que a mãe da garota faz, ausente da família. Mas tudo ainda mantêm-se num nível razoavelmente suportável, até culminar num desfecho intragável, com resoluções estúpidas e bobas (em maior exemplo, a do próprio assassino, em que surge a tona o contraste da Lei dos homens - tardia e falha - e a Lei divina - sempre precisa e infalível), que dissolvem os maiores valores que o filme tenha construído até então.

Um Olhar no Paraíso pode ser tido como um grande filme que nunca se realizou. Explicando: o filme de Peter Jackson possuía uma proposta interessante, chamativa, que poderia vir a resultar num drama honesto e poderoso sobre as questões da dor e da superação da perda, bem como da vida após a morte, entretanto isso nunca se concretizou, e essa boa história rendeu um filme frágil, frágil até demais, que jamais faz valer o que um dia prometeu.

Nota: 4.0

3 comentários:

  1. Este filme pode não rimas com o épico do anel e do gorila gigante, mas só isso, acho que não justifica o fato da fita ser tão irregular. Tem lá seus momentos. Eu gostei, não cheguei a repudiar o filme.

    Já assistiu Almas Gêmeas (1994)?
    Abs.
    Rodrigo

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  2. Mas o fato de não se "encaixar" na filmografia recente de Peter Jackson não é necessariamente um defeito, é só que ele não cobriu as expectativas e adornou esta obra como se fosse um épico de fantasia quando na verdade deveria ser um drama sem maquiagens e excessos.

    Eu também não cheguei a repudiar o filme, é tanto que minha nota foi 5.0, mas que me desapontou, e muito, ah, isso foi. O desfecho é uma das coisas mais tolas que eu assisti nesses últimos tempos, acho que é ele que anula boa parte das qualidades que o filme pode ter construído.

    Ah, e respondendo sua última pergunta, não vi Almas Gêmeas ainda, infelizmente, mas pretendo fazê-lo em breve. ;)

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  3. Concordo com o Rodrigo e o Junior. O fato desse filme não ser tão grandioso quanto os outros trabalhos do diretor demonstra pelo menos a vontade dele de arriscar. Não teve o retorno esperado (pelos fãs principalmente), mas não achei o filme de todo ruim. Esse filme entra na minha lista de "todo mundo odeia menos eu"

    Um Abraço.

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