Se integrar dois ou mais gêneros positivamente numa produção cinematográfica já é uma tarefa árdua, imagine fazer uma equipagem não apenas de categorias, mas também de imagens reais e irreais numa mesma filmagem. Pois esta missão foi diante de uma parceria entre os cineastas Zemeckis e Spielberg, que numa união de talentos, modelaram e lapidaram com brilhantismo uma trama policial vibrante, com atores reais em interação a personagens virtualmente animados. Com uma veia cômica deliciosa e uma história que exala originalidade, Uma Cilada Para Roger Rabbit tornou-se uma produção memorável, não apenas por suas nítidas virtudes, mas por conectar-nos a algo tão nostálgico quanto os desenhos animados... afinal, quem nunca quis conhecer de perto seu personagem animado preferido?
Assumir com tanto brio uma história contendo temas tão adultos (o assassinato, a culpa...) sendo protagonizada por uma mesclagem de atores reais e virtuais, sem com isso parecer leviano ou pueril, exigia as mãos hábeis de um cineasta competente. Eis que a escolha perfeita foi feita, pois Zemeckis sabia muito bem como tocar em um ponto estratégico para interagir com o público adulto e infanto-juvenil sem pender para a infantilidade, ele já havia demonstrado seu tato para com isso três anos antes, com o clássico De Volta Para o Futuro; então, Roger Rabbit foi a “prova dos nove” de sua capacidade indiscutível de entreter qualificadamente seu público com as obras que realizava.
A matéria prima aqui utilizada é o roteiro baseado no romance Who Censored Roger Rabbit?, de Gary K. Wolf; a trama consiste em narrar à estória da sociedade em Los Angeles na década de 40, onde humanos e desenhos animados convivem em perfeita harmonia, sendo estes racionais e inteiramente amigáveis. Quando não estão trabalhando (isso é, gravando episódios) os desenhos vivem numa localidade chamada “Desenholândia (Toontown)”, um dos personagens mais queridos por todos é a figura carismática do atrapalhado coelho Roger, porém, mediante uma conspiração armada contra ele, o pobre desenho se torna o principal acusado do assassinato de Marvin Acme, o dono das indústrias animadas ACME,que foi morto logo após ter sido flagrado num encontro íntimo com a esposa de Roger. Então para provar sua inocência, o desesperado coelho conta com a ajuda do amargurado detetive Eddie Valiant.
O filme captura toda a magia e o brilhantismo da Era de Ouro das animações tradicionais, por isso, Roger Rabbit consegue ser tão engenhoso e belo, por mesclar com destreza, características do cinema noir e integrá-las com charme a personagens marcantes e nostálgicos que fizeram parte de nossa infância. É fascinante ver aquelas figuras todas unidas em um único espetáculo cinematográfico, passando de Mickey Mouse a Pernalonga, em um game fabuloso, entre a trama investigativa e nossos tão queridos personagens animados. Realmente, se há uma característica que deve ser inteiramente prezada nesta obra, é sua originalidade inventiva, certo que produções anteriores, como Mary Poppins (em 1964), já fizeram esta ligação de atores com desenhos animados, mas mesmo assim, o esmero aderido a este longa metragem resultou em algo maior do que sua bela técnica propõe, é uma lógica verdadeira, que é deste tipo de imaginação e criatividade que tanto carece o cinema atualmente.
Não é um filme infantil por motivos óbvios, a) mesmo que seja um programa até divertido para crianças, seu conteúdo só será inteiramente aspirado por mentes mais maduras, e b) a trama deste filme por si só (por conter temas mais fortes, como já supracitados, e um humor um tanto quanto obscuro) escanteia as suposições primárias (de que é um filme voltado para os pequenos) que se possa pensar de imediato sobre a obra. Uma Cilada Para Roger Rabbit é um fruto a demonstrar como a criatividade prevalece aos padrões da estética, e firma seu conteúdo em algo maior do que sua capa propõe. Fantasioso, inteligente e estupendamente original, uma produção dotada de inúmeros predicados como essa, chega aos olhos do espectador para comunicar uma única coisa: que no cinema, bons eram os tempos em que, a imaginação era o maior suporte para se guiar uma obra.
Nota: 8.0
É um clássico esse filme, me lembro que ao assisti-lo pela primeira vez, lá pelos meus sete anos, não havia entendido nada. Recordo também que minha irmã vivia dizendo que, quando crescese, seria igual a Jessica, esposa do Robert.
ResponderExcluirAssistí esse quando era pirralho... Nem lembro de muita coisa.
ResponderExcluirPs: na cena onde o vilão mata um personagem animado fiquei chocado... Na época, claro. rsrs
Clássico e que quebrou paradigmas para o cinema. Serve mais como um documento histórico do que como um bom filme para assistir.
ResponderExcluirSilvano Vianna -
http://cinemadetalhado.blogspot.com/