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terça-feira, 14 de junho de 2011

Maior, Mais Forte, Mais Rápido* (2008)

Incrível... e assustador...
Até onde vai a busca pelo corpo perfeito? O que você faria para alcançar o padrão físico de nossa sociedade? Bom, alguns fisiculturistas, ansiosos pelos resultados finais de seus "esforços", aceleram o processo com o uso de anabolizantes. E é nesse ponto que o filme Maior, Mais Forte, Mais Rápido* começa a tecer suas idéias: numa profunda e bem documentada investigação ao submundo dos anabolizantes (ou drogas esteróides), o iniciante (e absurdamente competente) diretor Chris Bell constrói um dos melhores e mais divertidos documentários do ano.

Deve-se mencionar, antes de tudo, que Bell bebeu muito da escola "Mooriana" de se fazer documentários: usando de cortes bem sincronizados, nunca se demorando nas entrevistas (com algumas chatas exceções) e, é claro, valendo-se de um humor ácido, o diretor constrói um documentário que pouco se difere dos do "inimigo público número 1 dos EUA", Michael Moore. Para muitos, isso mostra falta de criatividade e inovação. Para mim, não é um defeito: a "escola mooriana" é, de longe, o melhor jeito de se fazer um documentário e se basear nela não é falta de criatividade, mas uma necessidade. Vamos lá, de que outra melhor maneira um documentário poderia ser feito? É difícil imaginar...

Mas vamos ao filme: Chris Bell, também o personagem principal do documentário, cresceu idealizando as grandes e musuclosas estrelas dos EUA, principalmente o grandalhão Arnold Schwarzenegger. Crescendo em um ritmo intenso de musculação, o diretor acaba descobrindo que seus ídolos valeram-se de anabolizantes para chegar onde chegaram, o que o leva a também entrar, frustradamente, nesse submundo de drogas esportivas. E é a partir desta experiência que o diretor inicia seu Maior, Mais Forte, Mais Rápido*
.

O documentário é exaustivamente bem catalogado: há um pouco de tudo. Entrevistas com especialistas, esportistas, "ratos de academia", modelos de fitness, fotógrafos, políticos... tudo na construção de um grande relatório sobre os anabolizantes. O principal foco do filme, pode-se dizer, é a falta de firmeza que os EUA têm com esses remédios: pouquíssimas pesquisas são conduzidas sobre o assunto, nenhuma delas com efeitos a longo prazo. Isso justifica a confusão entre políticos e médicos ao tratar do assunto: ninguém sabe o que fazer com os esteróides. Em muitas entrevistas, fisiculturistas juram que as conseqüências danosas dos anabolizantes são exageradas pela mídia sensasionalista, quando na verdade o número de problemas médicos reultantes desses "produtos" são irrisórios se comparados a outras substâncias.

Mas o interessante não é esse aspecto médico dos anabolizantes; é o aspecto social e psicológico: é incrível (e bárbara) a convicção dos usuários de esteróides de que é impossível ser forte e musculoso sem o uso de tais drogas. Numa cômica entrevista com um psicólogo, mostra-se a evolução dos bonecos de ação "G. I. Joe" através dos tempos, cada geração mais musculosa que a outra, refletindo a crescente paranóia masculina com um corpo musculoso. Afinal, por que chegamos a este ponto? Por que só se é um "homem de verdade" quando se é grande e forte?

O filme, então, ultrapassa seu tema sobre os anabolizantes a atigne um nível filosófico contra a própria cultura norte-americana: é preciso ser o melhor a todo custo, dizem as inúmeras propagandas estadunidenses. É preciso ser o melhor, ser o vencedor, nem que isso exija trapacear. Como diz uma lamentável "general" em uma sensacionalista propaganda, "os Americanos adoram um vencedor, e o mero pensamento da derrota é vergonhoso para a América". E assim surge o principal problema dos anabolizantes: é ético usá-los? É ético lançar-se de tal trapaça? Em muitas interessantes comparações, o diretor mostra o uso dos "anabolizantes cognitivos" entre músicos e estudantes, que os deixam mais despertos e concentrados: para eles, não há problema nenhum neste uso. Já para os desportistas, anabolizantes são, de alguma forma, trapaça.

As linhas de raciocínio no filme são muitas. O mais impressionante é como alguns norte-americanos estão deturpados o suficiente por esta busca idílica do corpo perfeito: um fisiculturistas de bíceps anormais, fruto de muitos esteróides, reafirma sempre o seu orgulho por tal deformidade, alegando chamar a atenção dos outros. Com um humor incrível, o diretor comenta: "Mas você chama mais a atenção dos homens do que das mulheres", ao que o entrevistado ignora. As entrevistas, entretanto, são sempre sérias e respeitosas, sempre focando nas experiências de cada entrevistados.

O incrível de Maior, Mais Forte, Mais Rápido* é a sua total imparcialidade: não importa o entrevistado, não importam os dados que estam sendo mostrados, o filme nunca pende para lado algum. A crítica, afinal, centra-se não em julgar os úsuários de esteróides, mas em atacar o ideal físico norte-americano. Poucos documentário conseguem ser tão talentosos nesse trato com o tema: a imparcialidade é incrível e a crítica ao "American Way of Life" é forte e contundente.

O filme, contudo, perde bastante quando o diretor menciona a sua vida familiar, lançando-se de momentos sentimentalóides e desnecessários, que em nada contribuem para a evolução da narrativa. São momentos de tédio e marasmo que, infelizmente, estão dispersos por toda a película. Isso tira muito a graça do filme, impedindo-o de ser um documentário perfeito.

Tecnicamente, ressalto neste documentário a excelente introdução e conclusão, conduzidas num impressionante jogo de imagens e música. O início, até o título do filme, é esplendoroso, resumindo todo o ideal que o diretor tinha quanto aos músculos e o fisiculturismo. A conclusão, por sua vez, é triste e sombria, revelando a decadência moral daquela que se considera a maior nação de todos os tempos. Para terminar esta análise, nada melhor do que a triste conclusão do próprio diretor:

"Eu cresci acreditando que os trapaceiros nunca vencem. Mas o que vejo agora é que os trapaceiros SEMPRE vencem. Há uma diferença entre fazer a coisa certa e vencer: numa nação em que o segundo lugar é o primeiro perdedor, os verdadeiros vencedores são aqueles que vencem a todo custo. Para mim e meus irmãos, os esteróides não o grande problema; eles são apenas uma conseqüência de ser Americano".




Nossa! Anabolizantes e musculação? Naaaaah... é só photoshop, mesmo.
NOTA: 7,5

4 comentários:

  1. Fiquei curioso em conhecer este documentário, o tema é extremamente atual.

    Infelizmente esta situação tb acontece e muito no Brasil, não apenas em fisiculturistas, mas com pessoas comuns que desejam ter o corpo modelado, além da diversos escândalos de doping (atletismo, ciclismo e natação) que aparecem todos os anos com atletas profissionais.

    Abraço

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  2. Parece ser interessante!!

    http://filme-do-dia.blogspot.com/

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