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terça-feira, 21 de junho de 2011

Linha de Passe (2008)


Realista e impactante, o novo filme de Walter Salles junto com Daniela Thomas é um dos melhores longas nacionais do século XXI.

Linha de Passe é um daqueles filmes que, após seu término, deixam a aquela sensação indiscutível de dever cumprido. Se o objetivo principal do filme de Salles era chocar a população com cenas fortes, cenas que fazem parte do nosso cotidiano, porém que não são vistas diariamente, apesar de acontecerem todos os dias, conseguiu. O longa tem aquele clima de drama pesado, cujos conflitos internos são sentidos constantemente, e que fazem o espectador pensar. Filmes assim que valem a pena serem assistidos, prova de que o cinema nacional está evoluindo cada vez mais, chegando a parecer como alguns filmes americanos, cujos roteiros complexos e bem-elaborados mexem com o raciocínio do espectador, despertando-o para situações complicadas, às vezes reais, outras não tão reais assim. Linha de Passe é, na verdade, um filme de carga emocional e dramática pesadíssima. É um livre retrato de uma população manchada pela ignorância e pelo dever de auto-sobrevivência, nada mais normal do que impressionar e deixar a auto-estima do espectador abalada. Sair da sessão com sentimentos adversos podem significar que o filme passou aquilo que queria passar, no caso de Linha de Passe, esse tal retrato de uma civilização mais selvagem e real, tende a despertar sensações no espectador não previstas anteriormente.

É claro que Walter Salles e Daniela Thomas fizeram um excelente trabalho e o resultado foi justamente esse, ao qual tantos elogiam. Juntos, a dupla conseguiu o feito de extrair interpretações de um elenco antes indescoberto, incluindo a vencedora do prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes deste ano, Sandra Coverloni, aos três irmãos mais crescidos, o motoqueiro Dênis (João Baldasserini), o jogador de futebol Dario (Vinícius de Oliveira de Central do Brasil) e Dinho (José Geraldo Rodrigues), e ao mirim e fantástico ator Kaique Jesus Santos, que interpreta o engraçado e levado menino Reginaldo, a melhor personagem do filme. Todos desempenham seus papeis de maneira muito convincente e emocionante, libertando seus instintos aos poucos e emocionando a uma platéia chocada. Unicamente o fato dos três irmãos serem filhos da personagem de Coverloni, Cleuza com pais diferentes já é o ponto de partida para uma histórias que começa pelo seu fim, porém que vai amadurecendo aos poucos até chegar aos seus vários pontos de clímax.

Por mais que seja um retrato fiel do papel de pessoas prejudicadas pelas diferenças sociais, o que serviria de uma ótima lição de ética para crianças, jamais poderia ser exibida a uma faixa etária menor aos 14 ou 16 anos. Certamente as cenas de sexo, violência e outras do mesmo gênero iriam chocar a muitos.


O trabalho da edição também é maravilhoso. As tomadas de motoqueiros, em jogos de futebol, dos rostos e expressões transformam as cenas em momentos de maior tensão. Muito coerente e pontuante. A ótima fotografia, unindo câmeras mais escuras a uma realidade triste e descrente tiveram um resultado excepcional, e ajudou o filme a manter seu status do começo ao fim.

Outro fator que contribuiu para o incrível sucesso de Linha de Passe foi o modo como o roteiro foi escrito. O trio George Moura, Daniela Thomas e Bráulio Mantovani fizeram um excelente trabalho e contruiram juntos diálogos impressionantes e comoventes, além de ótimas cenas.

Seria um pouco de exagero dizer que Linha de Passes é melhor que Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, mas já é possível dizer que um filme como este seria um candidato e tanto para uma vaga no Oscar do ano que vem, porém infelizmente não foi o que aconteceu. Este filme tem como principal característica personagens fortes e um roteiro que transformam o filme em um dos mais realistas dos últimos anos, algo que agrada a uns, porém nem a todos. Excelente produção, que merece ser conferida, graças à uma dupla de direção felomenal e um elenco, roteiro e arte com desemprenhos inesquecíveis.

Nota: 8.0



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