Por que "Carros 2" é um fracasso...

Perdeu, playboy...

“Carros 2” é uma bomba. Basta uma rápida conferida no agregador de críticas RottenTomatoes para comprovar essa verdade dolorosa: 59% de aprovação no momento em que começo a escrever este artigo. 59%, o suficiente para o selo “rotten” (podre) do site, classificando o filme como “não recomendado”. Ok. Filmes ruins sempre existiram e sempre existirão. Em se tratando de Hollywood, todos os anos somos bombardeados com muitas indignas porcarias. Então, por que fazer alarde ou mesmo prestar atenção (a ponto de escrever um artigo) para um filme que nada mais é do que... ruim?

Por um simples motivo: pelo nomezinho “Pixar”, escrito acima do título nos pôsteres.

O filme é uma explosão. No mal sentido...

“Pixar”. De longe a mais revolucionária produtora norte-americana, aclamada por gregos e troianos e colecionadora anual de Oscars (quatro anos seguidos, aliás, sem perder um de “Melhor Animação”). A única empresa de cinema do mundo, atrás apenas dos Estúdios Ghibli (insuperáveis, aliás), em que todos os espectadores podiam confiar: imaginar a Pixar fazendo um filme ruim é como imaginar Eike Batista perdendo dinheiro. Acontece que, observando a cotação das bolsas nos últimos meses, Eike batista verá seu patrimônio se reduzir em até 30% só neste semestre. Ou seja, nada é impossível. Nem mesmo a Pixar produzir seu primeiro “rotten”.

“Carros 2” sempre foi uma seqüência misteriosa. Por que produzir uma continuação para um filme tão pouco aclamado como “Carros”, até hoje visto como o “menos melhor” da empresa? Porque desrespeitar uma regra de ouro que o time “pixariano” vem seguindo desde sua criação: “não fazer seqüências” (com a óbvia exceção de “Toy Story”)? E, se era para fazer um filme assim, por que não ter usado uma base mais empolgante? “Os Incríveis” tem muito mais pinta de franquia do que “Carros”! Afinal, o que deu na Pixar para fazer um filme assim?!

Como confiar numa produção que tem essa... coisa... como personagem principal??

A resposta (mais provável): “Disney”. É dessa distribuidora, outrora grande produtora de clássicos (hoje é somente lembrada como uma cuspidora de blockbusters), a idéia (e a ordem) para produzir semelhante coisa. E tudo pelo mesmo motivo: bilheteria. Dinheiro, dinheiro e dinheiro! Ora, há muito que o ratinho Mickey se transformou numa ratazana gananciosa por dólares, afetando o brilho criativo que antes possuía e lançando-se no limbo das produtoras. A aquisição da Pixar durante a produção de “Ratatouille” (pequena obra-prima) pareceu não preocupar muito, pois a distribuidora teria, finalmente, uma fonte garantida de dólares e Oscars e os homens da Pixar disporiam de um fundo virtualmente ilimitado para orçamentos e, melhor, nenhuma interferência na parte criativa das produções. Todos pareciam felizes.

Até agora. Em um acesso inexplicável de ganância, a Disney praticamente forçou a Pixar a produzir mais uma seqüência. Uma seqüência de “Carros”! Ora, se para produzir “Toy Story 2” e 3, dois sucessos absolutos de crítica e bilheteria, a empresa o fez com muito mau-gosto (pelo menos inicialmente), o que dizer de um filme meia-boca, do não-tão-aclamado “Carros”? O mal-estar dentro da empresa mais criativa do cinema ocidental era visível: dizem os colunistas de cinema que Lasseter, o gênio por trás de quase todas as produções da empresa, dirigiu “Carros 2” usando um iPad. Comentários extra-oficiais da equipe de produção afirmam que todos estavam “trabalhando no modo automático”. Por pouco, creio, alguém da equipe não postou na internet que o filme seria uma bomba. Não era legal espalhar o pânico antes da hora.

Todos podem aparecer sorrindo nos pôsteres do filme, mas o público está é chorando!

“Carros 2” é uma inexplicável abominação. Não importa a bilheteria: ele já faz parte de uma página negra na história de sua produtora. Pensando melhor, ele é a página negra! Ele é aquilo que o Windows Vista foi para a Microsoft, que o Cube foi para a Apple e que o Wave foi para o Google (só os nerds vão entender estas comparações). Em uma empresa cujo menor índice de aprovação no Rotten Tomatoes era 74% (coincidentemente, de “Carros”) e com um histórico quase inteiramente composto de “Fresh Picks” (a melhor recomendação possível para um filme no site, algo como “certificado de qualidade”), cuja aclamação pelo público e pela crítica a elevava aos céus e a julgava impossível de errar, isso é um fato histórico. Com “Carros 2”, a Pixar mostrou que nada mais é do que uma empresa feita por homens, não deuses: ela é passível de erros, sempre sofrendo com as tentações da carne (ou, no caso, da ganância de sua distribuidora).

No momento em que termino este artigo, a avaliação do filme no mesmo site caiu para 55%. Algo me diz o Oscar de animação deste ano vai ser muito, muito interessante...

Pois é, "Carros"... vocês se meteram numa bela enrascada!