Como o eventual leitor deste comentário deve saber, "As Vinhas da Ira" fala de habitantes de Oklahoma que tiveram de migrar para a Califórnia após uma grande seca que ocorreu durante a Depressão. Assim, seria de esperar que o retrato das más experiências por que estes passaram fosse o forte do filme. Com efeito, as cenas mais dramáticas do filme (em especial a da chegada do grupo ao acampamento dos pobres) são realmente tocantes e fazem-nos ficar com pena. Mas...eu fiquei triste não pelas personagens, mas pelas pessoas! Pelas pessoas que viveram naquele tempo e passaram por aquelas condições horríveis! Isto porque é difícil afeiçoarmo-nos às personagens deste filme. Elas são imensas (uma família inteira e mais uns quantos) e estão constantemente a ofuscar-se umas às outras. Cada um fala e faz as suas coisas, e sempre durante pouco tempo. A certa altura, alguns desaparecem e isto ameniza, mas só um bocadinho. E assim não dá. Como podemos pensar o que quer que seja das personagens se nem as conhecemos?
Sendo assim confuso, o filme teve associado a si outra confusão: a indicação ao Óscar de Henry Fonda! Não estou a pôr em causa o merecimento, mas a categoria. Como foi ele indicado a Melhor Actor? Ele é coadjuvante! Esta atitude da Academia cria uma desnecessária polémica em relação à definição de "principal", "coadjuvante" e "personagem principal". Fonda foi indicado por ser a personagem principal, é? Não sei se isso é muito correcto. Além disso, só esa questão me parece dúbia. Tom Joad é principal? Porquê? Porque tem direito a uma ou duas cenas em que se destaca? Às vezes, no meio daquela família, nem se distingue a cabeça dele! Esta falta de atenção as personagens torna o filme meio distante.
É por tudo isto que digo que "As Vinhas da Ira" devia ter sido um documentário. Estes, em geral, focam-se numa situação e não numa família. Filmam um bocadinho aqui, um bocadinho ali, falam com uma pessoa e nunca mais a vemos. Um bocado como os cucos. Assim como o filme ficou, as personagens parecem meros fantoches na mão de John Steinbeck e Nunnaly Johnson para contar uma história. Não a história de uma família, mas de uma época, um povo! Como conseguiria John Ford fazer um documentário sobre a dita época? Bem, isso já era problema dele. Mesmo assim, fez um bom filme.
"As Vinhas da Ira", não nego, é bom. Pena que a sensação geral seja a de desperdício. Desperdício de uma ideia que poderia render um documentariozão...
Nota 7.5
Nenhum comentário:
Postar um comentário